Tolerância de ponto dia 12 de Maio – Amén

E lá vamos nós outra vez…respira fundo e conta até dez…o Governo decretou na Quinta-feira passada tolerância de ponto para a função publica no dia 12 de Maio ( Sexta-feira ), por ocasião da visita do Papa Francisco a Fátima. Para além das comemorações ( sem putas nem vinho verde pelo qual somos famosos ) desculpem leitores, eu quis dizer celebrações, celebrações religiosas, pelo centenário das Aparições em Fátima, Papa também vai canonizar os três pastorinhos (lembram-se deles leitores? são os três mafarricos que, para não levarem no pelo pela mãe, puseram-se a montes para o monte e inventaram uma historia sobre uma tal de Nossa Senhora que desceu dos Céus e lhes disse: apregoem a fé e salvem os pecadoresCem anos depois Fátima é uma marca registada e o Santuário de Fátima tem milhões “nos cofres” e não, o dinheiro não vai todo para os pobres. É um género de Vaticano em ponto pequeno, menos máfia, menos dinheiro, mas a mesma devoção divina!

Ora, o nosso querido e laico primeiro ministro António Costa, decidiu conceder tolerância de ponto à função pública, e passo a citar os seus argumentos:

“É natural que muitos portugueses desejem participar na visita do Papa Francisco a Portugal, um momento que distingue o país. Por isso, também é natural que o Governo dê tolerância de ponto para facilitar quem deseja participar nas cerimónias o possa fazer e diminuam as condições de congestionamento.

Tenho um grande à-vontade sobre esta matéria, porque não só defendo a laicidade, como não sou crente, mas respeito a crença dos outros e não ignoro que muitos portugueses perfilham a fé católica e que muitos portugueses desejarão estar em Fátima. Acho que seria uma grande insensibilidade da parte do Governo não o fazer, como temos feito em outras ocasiões.”

Insensibilidades à parte, vou fazer uma conta rápida, ora dois mais dois e tira três, nove fora…é isso, desde o Natal de 2016 até à data de hoje a função publica já usufruiu das seguintes mini-ferias: tolerância de ponto dia 24 e 31 de Dezembro, e ainda 26 ou 2, à escolha do freguês, para curar a ressaca, 27 de Fevereiro, dia anterior à Terça-feira de Carnaval, mascarar demora o seu tempo, tarde de Quinta-feira, véspera de Sexta-feira Santa, é necessário colocar o cabrito à assar com antecedência, 24 de Abril, Segunda-feira, fazer ponte é para quem pode, quem não pode faz o pino, bem haja ao “Grândola, Vila morena”, com um dia de greve mais outro que já se avizinha, sempre à Sexta-feira ( o mistério das greves à Sexta-feira ), em que a função pública se manifesta não sei bem porque razões, mas vou perguntar à minha vizinha que ela é funcionaria do Estado e, nos dias de greve, ela anda a laurear a pevide nas compras ou na praia. Portanto, desde essa data os funcionários públicos trabalharam menos seis dias que o trabalhador do sector privado, tendo em conta que, não trabalham as quarenta horas semanais, picar o ponto é mestria, dar duas de letra no café mestria é, o nível de produtividade é inferior a 0,00 por cento, descontentamento e empatia no trabalho ( tipo quando vamos a uma repartição de finanças e saímos de lá com os cabelos em pé ), evolução profissional zero,  os restantes meses do ano são uma autentica folia, confirma-se que é um ano em cheio pá!

Outra questão pertinente é o facto de todos os funcionários públicos serem católicos, era coisa que eu desconhecia, e se, por mero acaso, algum não for católico? Significa que tem de ir trabalhar? Ou vai ser obrigado a ir nas camionetas junto com o people da fé? O pessoal da função publica deve ter ficado emocionado com  a atitude nobre do nosso primeiro-ministro, malta que de outra forma não poderia ir ( porque nunca faltam ao trabalho, nem podem colocar dias de ferias ), tem agora a possibilidade de ir a Fátima e estar presente numa cerimonia entulhada de gente, com dinheiro a derreter em velas, a comprarem terços que custavam dois euros e agora custam dez, com policiamento até às orelhas, isto é, se conseguirem lá chegar perto, a mim cheira-me que dia 12 ainda vai passar algum católico em minha casa a pedir guarita porque o engarrafamento vem até aqui ao norte…

Eu sei leitores, vá, podem criticar à vontade, sim, eu acho que é uma estupidez esta tolerância de ponto assim como todas as outras, sim, eu acho que num país que precisa tanto de produzir, é um contra-senso tantas paragens, sim, eu conheço bons profissionais e maus profissionais, tanto no sector público como no privado, sim, eu gosto muito de trabalhar no sector privado, sim, claro que estou chateada e com azia, mais um dia que não há escola, mais um dia que vou ter menos dinheiro em caixa, mais um dia que tenho de pagar à babysitter para aturar os meus filhos, quem paga todos estes extras? Eu, que trabalho no sector privado, que vou trabalhar honestamente, que não faço tolerância de ponto mas, no caso de o leitor se sentir emocionado com o meu desabafo, pode sempre queimar uma velinha em minha honra, a Santa Sandra. Ámen.

Nota: Na eventualidade de reparar na imagem que detém esta crónica e ficar curioso, saiba que, na próxima crónica eu vou explicar o que é que a Nossa Senhora, um dildo de cristal e 128 euros têm em comum.