A culpa é da humidade! – Teresa Isabel Silva

A chuva e o mau tempo, conseguem fazer despertar nas pessoas, sentimentos e características nunca antes vistas.
Caros historiadores e antropólogos, se quiserem ver humanóides no seu estado primitivo saíam á rua num dia de chuva e de vento, e acreditem que basta retirarem os acessórios, para verem como as pessoas são básicas e limitadas.

Aliás, para quem já viu daqueles filmes de má qualidade sobre tribos africanas, os senhores e senhoras a dançam de uma maneira esquisita, pode ser que encontrem semelhanças entre essas danças e o jeito desengonçado com que as pessoas andam no tempo de chuva. Alguns até chegam mesmo a dançar de pernas abertas para saltarem sobre alguma água acumulada no piso. Reparem bem e vão ver que não estou a alucinar!

O mau tempo deve ser a razão da existência humana. Até agora achava que o Inverno era apenas uma estação que servia para estragar a vida aos agricultores, que todos os anos se queixam do tempo, ou até mesmo para que as meninas bonitas mostrassem a colecção Outono/Inverno com orgulho. Mas hoje descobri a verdade! O Inverno serve para que nós os mortais, entremos num estranho ritual de contacto com os nossos antepassados!

Basta um pouquinho e chuva, uma quantidade quanto baste de vento, e alguma humidade e lá começamos nós a parecer selvagens.

E se não acreditam no que eu estou a dizer tentem apanhar um transporte público. Com este tempo, muita gente é capaz de atropelar outras pessoas, só para conseguir um lugar dentro da viatura que o vai levar do porto A ao ponto B, sem que este molhe a sua parca nova, ou então sem que a pessoa em questão fique com o penteado estragado.

Viajar é incomodativo nestes dias. As pessoas ficam compactadas dentro dos transportes, como se ele fosse o ultimo transporte á face da terra. Aliás compactam-se dentro do veículo (que como aparentemente nem todos sabem, tem lotação limitada), que até mesmo, as sardinhas numa lata de conserva conseguem ter mais espaço dentro dos seus aposentos de alumínio.

A dança há chuva não é a única maneira de se constatar este estado primitivo. Durante este tempo, muitas pessoas falam um dialecto estranho e imperceptível, entre o ronco, ou então um grito de guerra para que se abram alas só para aquele indivíduo passar.
Minha gente, já não fazemos fogo com duas pedrinhas, aliás com este tempo não iam haver pedrinhas que fizessem faísca, mas mesmo assim, nada vai acabar. Vão continuar a existir, transportes para todos, a vida contínua amanhã, e segundo a meteorologia o mau tempo também. Por isso lembrem-se que ainda somos (ou tentamos ser) um povo civilizado!


Eu já fiz a minha parte, já ronquei por causa da chuva, já dei o meu grito de guerra enquanto saltava uma poça de água e já reclamei que este tempo é mau para a agricultura. Agora que já aqueci os pés á lareira, decidi voltar a ser civilizada e escrever esta crónica, não para criticar aqueles que como eu soltam o seu lado primitivo em dias de chuvas, mas sim para criticar aqueles que continuam a ser primitivos 365 dias por ano.

Crónica de Teresa Isabel Silva
Crónicas Minhas