A degustação como Merchandising e o Respeito pelos Dealers – Marco Aurélio Cidade

Café Novo Mundo Festival de Bolos 005Segundo Philip Kotler, “ marketing é um processo social e gerencial onde indivíduos ou grupos obtêm aquilo que necessitam ou desejam através da criação, oferta e troca de produtos de valor com outros.”

Kotler complementa ainda: ” o objetivo principal do marketing é tornar a empresa mais competitiva satisfazendo as necessidades dos clientes, voltando as atividades organizacionais para um processo mais eficiênte se destacando entre os concorrentes.”

Segundo R. Blessa “o merchandising é qualquer técnica, ação ou material usado no ponto-de-venda que proporcione informação e melhor visibilidade a produtos, marcas ou serviços, com o propósito de motivar e influenciar as decisões de compra dos consumidores. As ações de merchandising fazem a diferença no ponto de venda em seus diversos tipos e formas, como display coloridos, ilhas de oferta, degustação de produto, ponta de gôndola.”

Bom, uma vez explicado o que é merchandising e que a degustação faz parte dele, é importante deixar claro também que numa ação de degustação in door, ou seja, no PDV (ponto de venda) é preciso que o dealer/demonstrador(a) tenha no mínimo bom senso e não aborde inconvenientemente os clientes (prospects) na ânsia de oferecer o produto com o qual está trabalhando.

Fazer sampling de um produto não significa que se deve implorar ao cliente que consuma aquela amostra. Muito menos abordá-lo deselegantemente ou ainda, forçá-lo à prova.
Para isso deve-se contratar pessoas que, em primeiro lugar, tenham gosto por trabalhar com o público, em segundo lugar, tenham educação para abordar as pessoas e em terceiro lugar, não necessáriamente nesta ordem, tenham um mínimo de conhecimento sobre o produto/empresa com o qual estão trabalhando para responder a alguma provável pergunta sobre ele, uma vez que o cliente pode precisar de algum tipo de informação extra para se dispor a provar e, principalmente, comprar o produto em questão.

É importante dar condições de trabalho adequadas para o dealer, pois se ele tem a infraestrutura adequada, qual seja display em condições e compatível com o produto, estoque satisfatório para a promoção (isso deve ser sempre acertado entre a agência contratante, o PDV e o fabricante), meio de transporte para transferir as caixas do stock para o ambiente de loja onde irá trabalhar, material promocional (se este for o caso) suficiente e tranquilidade ele fará, com toda certeza, seu serviço com competência e profissionalismo.

Há redes de supermercados que transmitem ao público uma mensagem falsa através de propaganda enganosa, não oferecem as mínimas condições de segurança, conforto e higiene aos funcionários e muito menos a promotores de vendas que estão fazendo uma ação de marketing em alguma de suas lojas. Casas de banho imundas e danificadas (portas de sanitas sem tranca, sanitas sem tampa, sem papel higiênico e etc), stock desorganizado (logística zero), cheiro de lixo em algumas dependências do estabelecimento, local para as refeições sem as condições adequadas, ou seja, pia em perfeito funcionamento, mesas e cadeiras em bom estado, ambiente perfeitamente higienizado e refrigerado/aquecido.
É importante uma sala de descanso para que o funcionário ou profissional em trabalho naquela loja se recomponha após sua refeição e retorne ao trabalho tranquilo.

Importante também é a empresa, no caso, o supermercado, saber recrutar, contratar, treinar e reciclar seus funcionários administrativos tais como superisores e gerentes de setores e de loja para que saibam como se conduzir com os funcionárioos dos diversos departamentos da loja e com os merchandisers que lá forem/estiverem fazendo seu trabalho. É este trabalho que juntamente com uma série de outros fatores de ordem administrativa aliados a boas ações promocionais da loja, bom layout, higiene, organização, funcionalidade, disponibilidade de produtos e perfeita postura das supervisões e gerências, que vai fazer com que a loja venda mais e possa vir a se tornar referência e destaque dentre as demais.

É ponto para todo mundo. Para a administração, para os fucnionários, para supervisores e gerentes, para os clientes e para os dealers e outros profissionais que lá estiverem fazendo seu trabalho.
A boa publicidade, o bom marketing não é apenas ficar alardeando, espalhando aos quatro ventos através de campanhas milhionárias que a loja tal tem de tudo, é a melhor, é isso e aquilo.

Amar os seus clientes, amar os seus funcionários e respeitá-los devidamente é condição sine-qua-non para uma empresa ser respeitada e reconhecida. É assim que vai se posicionar no mercado, é assim que se tornará líder de vendas, é assim que será lembrada e querida por todos.
São os funcionários, os clientes e os dealers, tratados todos com respeito e carinho, volto a dizer, que vão fazer a loja dar lucro, preocupação constante dos empresários.

A época da chibata já acabou há muito e, aliás, nem deveria ter existido. Ninguém gosta de trabalhar insatisfeito, desrespeitado, açoitado, tocado que nem vaca. Satisfação, tranquilidade e respeito geram amor ao local de trabalho, compreensão pelas necessidades que ele exige, responsabilidade na execução das tarefas e reconhecimento pela empresa contratante.

Hoje resolvi escrever sobre este assunto porque outro dia, conversando com uma pessoa amiga que eventualmente presta serviços como dealer e já atuou em sales promotion de diversos tipos de produtos e em empresas diferenciadas, estava comentando comigo sobre isso.
O fabricante resolve fazer uma ação de degustação em um supermercado, mas não verifica o estoque, não orienta o dealer, não disponibiliza o material promocional a contento e no local e ainda remunera o profissional em 45 ou 60 dias?
Pois é, isso acontece com frequência. A questão de um seguro para acidentes de trabalho também é importante. Essa mesma pessoa comentou comigo que uma vez se acidentou numa loja (fez uma torção muscular) e quando narrou o fato para a responsável da agência que lhe contratou a resposta que obteve foi que isso só poderia ser resolvido na segunda-feira. E era um Sábado! Pasme. Foi essa a resposta que ela recebeu.

Uma atitude destas de uma agência de empregos beira as raias da estupidez, da insensatez. É vergonhoso saber que existem “profissionais” que agem dessa maneira. São pessoas(?) totalmente incompatíveis com os cargos que assumem, que desrespeitam integralmente o ser humano, que desconhecem o bom senso.

Escrevo dessa forma, em tom de desabafo, porque sei o que é isso.
No início de minha carreira fiz alguns trabalhos de sales promotion em vários supermercados e, sinceramente, nunca tive este tipo de problema, nunca sofri este tipo de desrespeito. Estou chocado. O mundo mudou muito e isso é ruim. A ganância dos empresários e a falta de respeito do ser humano pelo próprio ser humano é desoladora. Todos nós compramos nosso alimento nessas lojas, somos nós que colocamos dinheiro nos bolsos cada vez mais ávidos de capitães de indústria ávidos por lucro e sem nenhum respeito por quem lhes fornece o pão. Sim, porque é do bolso do consumidor que vem as régias quantias que lhes permitem uma vida de luxo e as extravagâncias.

É o cliente que consome muitas vezes produtos pelos quais passaram ratos, baratas e sabe-se lá mais o que, em almoxarifados mal higienizados.É o consumidor que se expõe, portanto a doenças, infecções, intoxicações e tudo mais. E são os funcionários que são obrigados a trabalhar, conviver com seus pares e a se alimentar num ambiente desses; de imundície, de negligência, de descaso, de falta de profissionalismo.
Ainda a isto acrescento a inaptidão de supervisões/gerências que insistentemente vão atormentar o juízo dos dealers, interferindo negativamente e constantemente em seu trabalho, dizendo que têm que vender, têm que vender, têm que vender.
A esses funcionários; sim, são apenas e tão somente funcionários de uma empresa supermercadista, tanto quanto quem lá trabalha na faxina, como estoquista, caixa ou segurança, digo uma coisa, ou duas, ou melhor, três, ou ainda um monte delas: dealer não vende; dealer, conforme diz o termo, demonstra, oferta o produto na forma de sampling ao cliente/prospect e o informa sobre as vantagens, sejam quais forem elas.
Não adianta ficar azucrinando a vida do dealer (e muitas vezes até interferindo sem a menor educação e muito menos noção do que está fazendo, na conversa dele com o cliente/prospect, na intenção de vender o produto) porque dealer demonstra, não vende.
O que acontece é que muitas dessesa pessoas que têm função de supervisão/gerenciamento de setor ou loja, ganham comissões pelo desempenho da loja e por isso se acham no direito de coagir quem trabalha sério e com competência para que vendam e elas possam então usufruir de mais alguns euros em seus salários. Ledo engano, triste atitude. Aprendam a ser profissionais, vão para a escola estudar e deixem os outros trabalhar em paz.

Ao invés de ficarem nessa perturbação constante, tratem de seus ambientes de trabalho mantendo-os limpos e em condiçõpes de receber todos os dias aqueles que se sacrificam chegando cedo, trabalhando duro e saindo tarde, para as pessoas poderem abastecer seus lares, suas empresas, com alimentos, material de higiene e tudo que precisam. Lembrem-se: são essas pessoas que pagam os seus salários e não os seus patrões.

 

Crónica de Marco Aurélio Cidade
(publicitário, redator escritor e professor)
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