A Minha Prenda Já Chegou! – Carla Vieira

Há uns meses atrás publiquei uma crónica que falava das saudades. Lembram-se? Está aqui neste cantinho. Podem ir ler e relembrar. Doeu-me muito escrever esse artigo porque estava a vir do fundo de mim. Uma pessoa muito especial estava prestes a ir embora, e eu já sentia aquele buraco estranho onde essa pessoa costumava estar a esvaziar lenta e dolorosamente.

Durante estes meses todos fui perdendo a paixão desenfreada com que costumava escrever porque me sentia assim mínima, pequena, incompleta. Lá está, as saudades cada vez apertavam mais, e mais, e mais… E fui-me dando conta de que cada dia sentia mais peso no buraquinho do meu coração.

O problema começou a não ser só desleixar-me com as palavras, mas sim o constante fingir de que “está tudo normal” e “sinto-me bem” e “vai-se indo”. E peço já desculpa a todas as pessoas a quem disse isto, porque vos andei a mentir descaradamente. O que me traz ao motivo desta crónica: quantas vezes vocês respondem qualquer coisa neste tom a quem vos pergunta como vai a vida, e sabem que estão a cuspir mentiras pelos dentes todos? Eu costumava ser assim; ninguém em arrancava nada, e quando me perguntavam o que se passava, eu respondia automaticamente que não se passava nada. Tenho a agradecer a uma amiga muito especial por me dar nas orelhas até eu perder esse hábito de desconfiar que as pessoas perguntam mas não querem mesmo saber.

Ora, tanto tempo andei eu a tentar largar esse hábito para o apanhar logo depois quando deixei de me sentir bem mas não me apetecia estar a dar a mesma resposta de sempre a todas as pessoas. E sim, é completamente parvo. Como ando farta de dizer a uma outra amiga estes últimos tempos, os amigos têm mais é que nos aturar. Estamos a ser completos idiotas se não partilharmos as coisas que nos incomodam. Certo? Certo. Espero que estejam a perceber onde quero chegar.


Quando alguém vos perguntar como se sentem, digam a verdade. Se estão bem, partilhem. Se estiverem mal, partilhem também. Se se mostrarem felizes, toda a gente à vossa volta vai partilhar dessa felicidade, e se estiverem descontentes, as pessoas à vossa volta vão fazer tudo o que puderem para que isso se resolva. Não há nada melhor no Natal do que a partilha sincera, não de comida ou presentes mas sim do estado de espírito.

Este Natal, recebi o que queria. Recebi a minha pessoa especial de volta, e não podia estar mais contente. Espero que se reflicta na minha escrita, e de certeza que se vai reflectir no meu estado de espírito também.

Feliz Natal, e que vocês também recebam tudo o que desejam, a não ser que sejam coisas más. Aí lixem-se. Até para a semana!

P.S.: Vá, digam lá de vossa justiça: posso escrever crónicas com ar de cabritinha, mas sou lamechas ou não sou?

Crónica de Carla Vieira
Foco de Lente