A nostalgia de Dezembro

     A semana passada decidi que no sábado iria ganhar coragem para ir à minha arrecadação em busca da árvore de Natal. Sabia que tinha uma caixa com os enfeites e o meu kit de luzes master blaster e que a árvore estava numa caixa alta, encostada bem no fundo da arrecadação. A aventura prometia ser longa. Afinal, são caixas e caixas de uma vida de “acumuladora” e a árvore de Natal, tendo sido arrumada em março, foi logo a primeira a ir para o fundo do amontoado… Basicamente, sair de casa e ir a uma loja comprar uma tinha sido mais rápido do que ir buscar a minha à arrecadação mas… missão cumprida, árvore montada e a piscar como a antiga e querida feira popular.

     Mas, na realidade, não é isso que venho partilhar com os meus estimados leitores (sim, já coloco no plural porque os meus patudos Zucka e Nine aprenderam entretanto a ler).

     A verdade é que, com a proximidade do Natal, sou invadida por uma nostalgia desgraçada… fico cheia de vontade de ser criança outra vez. Sou abraçada pela saudade do que era sentir aquela excitação e expetativa das prendinhas de Natal, de passar a tarde de 24 de dezembro a rapar as panelas e os tachos dos doces da minha avó (sim…panelas e tachos, são diferentes, sabiam? Tacho é um “recipiente de metal ou de barro, de forma cilíndrica, mais largo do que fundo, com tampa e asas, onde se cozinham alimentos” e panela é um “recipiente de metal ou de barro, geralmente de forma cilíndrica, mais fundo do que largo, com asas e tampa, onde se cozinham os alimentos”). Lembro-me tão bem… morávamos lado a lado, no mesmo andar, e eu dizia “avó, quando for para rapar os tachos avise-me, sim?” e ela, sempre doce e altruísta, lá vinha tocar à campainha para me chamar. Muita massa crua comi eu.

     Saudades de quando calçava um par de saltos agulha da minha mãe (coisa que em adulta nunca consegui fazer, diga-se de passagem) e fazia passagem de modelos no corredor… de ver a minha mãe preparar as rabanadas, era sempre ela (e ainda é) a encarregada pelas rabanadas. Lembro-me também daquela vez em que me trancaram na sala de estar e eu a tentar espreitar pela janela, e do outro lado da casa, no salão onde passei todos os meus Natais de pequena, uma algazarra gigantesca, sinos, portas da varanda a abrir e fechar, gritos…era o pai natal a vir deixar os presentes e eu… trancada na sala… GRRRRRRR. Enfim, era o resultado de ser a neta mais nova da família.

     Mas no natal, havia sempre um filme de eleição pelo qual eu me perdia… e a verdade é que me havia esquecido dele, até sexta-feira passada. Estava eu tranquilamente deitada, às duas da manhã, a deixar-me embalar por André Rieu (sim, eu gosto deste tipo de cenas e aconselho os leitores a ouvirem esta obra prima, composta pelo “fabulástico” Sir Anthony Hopkins e executada pelo André Rieu e sua orquestra; uma valsa divina que me leva às lágrimas e que conta uma história traduzida em belíssimas notas musicais, And The Waltz Goes On).

     Regressando ao planeta terra, como dizia eu, estava a ouvir as músicas do André Rieu e comecei a ouvir uma música de Natal. De repente… visualizei um nariz vermelho e não, não era o narizinho vermelho da rena Rodolfo, era mesmo um nariz vermelho de um pai natal abonecado. Pronto… estava o caldo entornado. É que eu tenho um problema… quando me lembro de algo, mas não recordo o nome, não descanso enquanto não descobrir o que procuro, custe o que custar, demore o tempo que demorar. É de tal forma doentio que recordo ainda hoje os nomes com os quais isso me aconteceu. De vez em quando, passa de rajada entre o meu Tico e o meu Teco o nome Mel Brooks… Gabriel Byrne… Balada de Hill Street… estes são só alguns exemplos.

     Bom, lembrando-me eu bem daquele rosto de nariz avermelhado, lá fui eu googlar. Procurar por Imagens de “Christmas movies children 80’s”. Grande sorte! Na página três dos resultados, dou de caras com um dos personagens do dito filme. Entrei no link e, tiro certeiro, para a senhora que escrevia sobre o assunto, era também o seu filme favorito “The Year Without a Santa Claus“, de 1974! Fiquei radiante, nem queria acreditar. Claro que dei um pulo da cama e fui logo fazer uma coisa que não posso dizer porque dizem que é ilegal. Digamos que fui ao Amazon e comprei o filme… custa cerca de 21€.

     Conclusão, já tenho programa de Natal! Sim, porque este ano, o Natal é em Barcelona e a consoada será em modo Skype com a família em Portugal. Pelo menos assim não ocupo muito espaço à mesa e principalmente, não me estico nos doces! Resta-me agora saber se me aguento até à noite de Natal para rever esta relíquia.

     Se algum dos meus ilustres leitores e leitoras se recordarem deste fantástico filme de natal, façam como eu… comprem, revejam e recordem os bons velhos tempos. Eu já estou a preparar o set de lenços de papel para chorar baba e ranho porque finalmente vou ficar a saber qual é a história! Era muito pequenina para entender o que eles diziam mas adorava ver os bonecos. Por outro lado, recordar tem alguns efeitos secundários como limpar as fossas nasais ( o que me ajuda na rinite), reduzir o risco de nictúria (micção noturna excessiva, portanto menos xixi na cama) e aquece o coração… neste Natal, voltarei a ser criança.