A semana que passou, a semana que aí vem… – Nuno Araújo

1.Portugal

É aqui, no nosso país, que as contas “vão dando para o torto”. Se na Irlanda e na Grécia já toda a gente sabe com o que pode contar, em terras de “Luís Vaz de Camões” não é bem assim. Contávamos todos com uma execução orçamental digna dos melhores elogios dos ministros alemães, que até vêm a Portugal “ver o que se passa”…mas o relatório da UTAO (Unidade Técnica de Apoio ao Orçamento) revela que, afinal, as receitas dos impostos indiretos (IVA, imposto de selo, etc) caíram quase duas vezes mais do que aquilo que o Governo tinha afirmado.

A execução orçamental em Portugal corre mal, o desemprego “supera” os 15% (são recordes atrás de recordes…) e o défice teima em manter-se nos 7 por cento ou mais (mas alguém sabe?).
Talvez se o governo aceitar as recomendações de encerrar vinte e tal serviços de internamento hospitalar (“pobre” Hospital da Póvoa do Varzim…), consiga então reduzir o défice até aos 4,5 por cento, exactamente como num “conto de fadas”.

2. Espanha
Esta semana a União Europeia (UE) vai enfrentar mais um teste absolutamente decisivo para o futuro da moeda única, o Euro.
Espanha colocará a leilão, dia 7 de Junho (Quinta-feira), mais uma emissão de dívida a 3, 5 e 10 anos, enquanto se acentuam as dúvidas dos investidores sobre Espanha conseguir resistir a um “bailout”( pedido de resgate financeiro internacional ao Fundo Monetário Internacional – FMI).

As taxas de juro acima dos 6,5% no mercado secundário, a fuga recorde de capitais – mais de 53 mil milhões de euros, só em Março, e mesmo tendo mais tempo para corrigir o défice até 3% (2014); tudo isto não parece afastar a pressão exercida sobre o governo de Mariano Rajoy.

Factor a acrescentar a este evidente prenúncio de desgraça que caiu sobre Espanha, são as críticas de Mario Draghio, presidente do Banco Central , acerca de como Rajoy lidou com problema do Bankia e da cobertura estatal de 19 mil milhões de euros. Como se tudo isto não bastasse, ainda vem fonte do FMI afirmar estar a preparar plano de emergência para ajudar financeiramente Espanha, isto dependendo da capacidade do Erário público conseguir suportar a despesa relativa ao Bankia.

3. Grécia

O FMI e a UE “que se cuidem”. O Syriza, possível vencedor das eleições de 17 de Junho na Grécia, promete “rasgar os acordos com a Troika” e promover uma nova política económica, com nacionalizações em vez de privatizações (vejam o documentário “Catastroika”, no Youtube, a respeito disto mesmo!).

O Syriza pretende implementar reformas (ou “revoluções”, termo trotskista para definir políticas de ruptura) no sistema administrativo e constitucional grego. Uma das medidas constantes no site do partido grego, é a retoma da proporcionalidade do sistema representativo grego (que “oferece” 50 deputados ao partido vencedor das eleições legislativas). Mais uma: reformulação do Quadro de Responsabilidade Constitucional e Responsabilidade criminal, que previa privilégios especiais para os políticos, encurtamento do prazo de prescrição de crimes…entre outras verdadeiras “pérolas” jurídicas!

A Grécia é vítima do mau governo, da “trapaça” feita durante anos e anos por políticos corruptos, por agentes da cena da governança mal-intencionados, que puseram e fazem pôr, a Grécia, berço da Democracia, “de joelhos”, perante os seus credores.

4.Irlanda

Este país, que por vezes até parece que não está a ser intervencionado financeiramente pelo FMI, foi a votos esta semana para decidir se o povo irlandês queria, ou não, aceitar o Tratado Orçamental Europeu (aquele que Portugal aprovou em Abril, lembram-se, eu escrevi sobre isso?). Pois, o povo (60% dele) disse que “sim”, e o restante que “não”. Os vários testemunhos de cidadãos, facilmente consultáveis em orgãos de comunicação social irlandeses, demonstram que, na sua grande maioria, os irlandeses votam “sim” pelo receio que têm do resultado que o “não” lhes poderia trazer.

A austeridade também existe nessa ilha europeia, não muito distante de nós, Portugal. Desemprego em mais de 13 por cento, défice acima de 4 por cento, e crescimento residual em cerca de 0,5 % do PIB.

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana