Académica

Já havia falado deste tema numa anterior crónica, mas chegou a altura de voltar a falar: sobre a Académica. Para muitos, a Académica é apenas a equipa de futebol que desceu esta temporada à segunda liga. Desenganem-se.

(…) podendo parecer cliché, a mais pura verdade é que muito do que se passa nesta magnifica cidade de Coimbra e nesta gigantesca academia só se entende tendo vivido ou vivendo cá. Há coisas que não se consegue transmitir por palavras. O que, por razões óbvias, torna difícil a vida do cronista.

A Associação Académica de Coimbra (AAC) é a mais antiga associação académica do país – fará 129 anos a 3 de Novembro – e, reza a história, uma das primeiras a ter futebol (antes só o Casa Pia, dizem algumas fontes na Internet) através da sua secção de futebol, a mesma que ganharia a Taça de Portugal em 1969. Mas quase 129 anos não se fazem apenas de futebol ou de desporto. Foram muitos anos de luta académica e muitos anos de produção cultural, a par, obviamente, de muitos anos de desporto, praticado a todos os níveis e em variadíssimas modalidades. Actualmente, segundo o site oficial, conta com 26 núcleos de estudantes (a representação da AAC nas faculdades), 26 secções desportivas, 14 secções culturais, 10 grupos académicos e 8 organismos autónomos, um deles o OAF, Organismo Autónomo de Futebol, o da equipa que, na próxima época, estará a jogar na segunda liga.

Feita esta introdução, importa dizer que compreendo que nem todos os leitores consigam entender boa parte desta crónica. E isto porque, podendo parecer cliché, a mais pura verdade é que muito do que se passa nesta magnifica cidade de Coimbra e nesta gigantesca academia só se entende tendo vivido ou vivendo cá. Há coisas que não se consegue transmitir por palavras. O que, por razões óbvias, torna difícil a vida do cronista.

Quem está habituado a torcer por toda esta enorme casa que é a AAC está habituado a sofrer. E a fazê-lo tendo com única retribuição aquele calor que se sente cá dentro, aquele orgulho de ver o negro nas camisolas das equipas desportivas e nas batinas e casacos dos grupos académicos e secções. É um orgulho ouvir a Rádio Universidade de Coimbra, a rádio escola na Académica, ver produções da tvAAC, televisão de estudantes para estudantes, ler o jornal “A Cabra” da secção de jornalismo, ver o sucesso do festival Caminhos do Cinema Português, organizado ano após ano pelo CEC, Centro de Estudos Cinematográficos, etc. Enfim, creio que perceberam a mensagem.

Por tudo isto, como já devem ter percebido, a Académica é muito mais que a equipa profissional de futebol do OAF. E mesmo relativamente a esta, acredito que será apenas uma fase. Acredito que muito em breve estaremos a festejar, como em 2002/2003, o regresso da equipa à primeira liga. Mas desta vez, por favor, sem destruição do estádio. Em 2003 deu jeito, pois foi antes da remodelação para o Euro 2004. Agora há que manter o Efapel Cidade de Coimbra intacto. E todos nós, academistas, devemos contribuir para isso, apoiando a equipa na segunda liga.

A Académica é diferente. A Académica não é grande, é enorme.

Crónica de João Cerveira

Este autor escreve em português, logo não adoptou o novo (des)acordo ortográfico de 1990