Foi Antoni Tàpies quem o disse: “A Arte contra a Estética”; um livro da autoria do mago da arte Catalão, que veio reavivar o debate, e colocar em rota de colisão estes dois conceitos que muitos juravam inseparáveis.
Terá razão Tàpies?
Bom, a História da Arte diz-nos que TODOS os artistas, sem excepção, têm razão antes do tempo…
Discutamos então a obra e o pensamento deste Mestre incontestável (embora polémico) da segunda metade do Século XX.
Tàpies defende com unhas e dentes uma visão em profundidade do que deve ser a arte, e esta visão, ligada ao primitivismo, à pintura matérica, ao informalismo europeu, tornou-se tão “violentamente” abstracta que afronta os conceitos tradicionais da “estética”, como se estes fossem verdadeiros “alvos a abater”.
A arte contra a estética faz, então, todo o sentido.
Após o futurismo e o dadaísmo, após o expressionismo abstracto e a arte pobre, após esse erro histórico e artístico chamado Arte Pop, Tàpies volta a lançar os dados e a atirar-nos de encontro à realidade mais simples das coisas, não evitando a polémica: arte não é estética; mais, arte é algo que contém valores intrinsecamente anti- estéticos !
Para quem julga que Mozart é superior a Beethoven porque tem uma orquestra mais afinadinha, Tàpies esclarece: a técnica não significa NADA, em arte.
Para quem diz que a arte clássica é superior à arte moderna, Tàpies responde: são conceitos diferentes.
A cultura versus a contra- cultura…
Estou à vontade para falar da obra deste génio universal, pois durante demasiados anos não a compreendi; e foram precisos muitos meses de aproximação desconfiada e, logo após, de estudo interior atento, para conseguir penetrar no mistério da sua excepcionalmente ambígua e simbólica pintura.
Para apreciar Tàpies é necessário colocarmos o nosso coração apto à escuta de novas emoções, sentir tudo de novo através, tanto da meditação, como da concentração; é uma experiência humana de características mentais únicas.
Cada nova pintura é uma lição. Uma lição de um mestre da arte, de um mestre- do- budismo- zen- não- “encartado”, de um mestre do pensamento, de um mestre, afinal, da VIDA.
A sua postura frontal, politicamente incorrectíssima, artisticamente provocadora (para o sistema económico indefensável criado pelas galerias de arte moderna) é- nos hoje essencial para uma compreensão cabal do que é um Ser Humano.
Tàpies, mestre da vida, do andar, da respiração, tem ainda todo o mundo para conquistar, sonhando de novo o Tempo, em seu olhar.
Crónica de Francisco Capelo
O Suspeito do Costume
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