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As fábulas dos famosos – António Costa e o papagaio tagarela

Há muitos, muitos anos, numa região remota da Índia governava um marajá chamado António Costa.

Era soberbo e andava sempre muito aperaltado. Vivia num palácio todo branco, erguido em mármore na encosta de uma montanha de onde avistava um imenso rio que nascia dezenas de quilómetros a montante e era como uma ponte que se estendia até ao mar.

Infelizmente, Costa não gozava de grande popularidade, pois embora fosse famoso pela sua capacidade de conseguir consensos, toda a gente sabia que só conseguia diminuir o défice das suas contas públicas à custa de aumentar os impostos sobre os mais pobres. Era-lhe reconhecido também o talento de, a respeito de alguns temas, ele ser capaz de explicá-los a uma plateia de ouvintes atentos, dando, no final, tanto a entender uma coisa como o seu contrário.

Sob o teto do mesmo palácio, vivia a corte do marajá e, como era costume entre os monarcas do seu tempo, um extenso harém repleto das mais belas mulheres do reino, que mais não eram do que amantíssimas esposas cujas vidas confiavam à guarda dele como este se fosse um Santo da sua devoção.

Uma das favoritas e mais invejada pelas demais, era a bela Catarina, filha primogénita de um mercador de especiarias pela rota que levava esses produtos à Europa. Era uma jovem de olhar expressivo, a tez morena e lábios fartos, que até pareciam inchados e só á espera de serem beijados a velar por um homem mais vigoroso do que ele, para voltarem ao seu tamanho normal.

Catarina tinha um gosto particular por aves e por conseguinte, u ma das mais recentes ofertas de casamento, tinha sido um extraordinário papagaio de penas coloridas chamado Jerónimo, em homenagem a um linguarudo ministro do reino que ambicionava tornar-se no braço direito do marajá e influenciá-lo nas decisões mais importantes que tomasse.

O papagaio era uma espécie de imitador do político, que, nas reuniões mantidas com o marajá, a propósito de tudo e mais alguma coisa., falava até à exaustão, tanto de quem estivesse perto dele a ouvi-lo, como de quem à distância de uns metros já percebia do que estava a ser tratado.

Um dia, estava o marajá a barbear-se com a face de uma lâmina, em que tinha refletido o sorriso pelo facto de ter a pele esticada e quase sem rugas, quando o animal de penas abertas veio pousar no parapeito da janela que, desde as primeiras horas para refrescar a casa, permanecia entreaberta. Interrompendo o que estava a fazer, o marajá deteve-se a observá-lo. Tinha penas lustrosas e o bico revirado na ponta, como as extremidades da pinça que por vezes usava para, arrancado um a um os pelos, nivelar a altura das pestanas.

Às vezes, servia para este fim, a sala de trabalho que se assemelhava a um escritório atual, mas sem o incomodativo toque dos telefones que interrompem a concentração de quem quer trabalhar em paz.

Nisto, o animal pôs em posição de quem ia proferir um discurso e desatou a insultar o marajá. “Marajá trapaceiro, fazes tudo por dinheiro” e “Berimbau cara de mau, tens olho de vidro e perna de mau”.

Intrigado por o animal ter começado a palrar e a dizer o que entendia ser um chorrilho de disparates, o marajá tratou de tentar saber quem lhos tinha ensinado, a fim de dar-lhe uma valente lição pela vergonha que estava a passar. “Diz-me lá, meu querido, além da tua dona Catarina, com quem aprendeste a falar tão bem? Não foi ela certamente que te ensinou a dizer essas coisas, mas eu gostava de recompensar essa pessoa. Se me disseres o seu nome, certamente ela vai ficar muito satisfeita contigo.” E dizendo isto, pôs-se a observá-lo mais atentamente, tentando descortinar se tinha sido acometido de alguma doença física que pudesse saltar-lhe ao olhar.

Contudo, o animal revelava-se um adversário à altura de Costa. Não quis saber de colocar as culpas em ninguém. Tinha aprendido a mentir muito bem, a disfarçar os seus sentimentos e unicamente a dizer às pessoas o que elas gostavam de ouvir. Alegou que se tinha equivocado e pediu desculpa. Depois, espreguiçou-se e voou para junto da dona, deixando o marajá mais descansado, a sós com a sua vaidade.

FIM

Moral da história:

À força de convivermos com alguns políticos, corremos o risco de ser contagiados pelos seus principais defeitos.