Andava a bisbilhotar pelo Facebook e descobri um artigo do Miguel Esteves Cardoso, ” A mulher portuguesa tem um bocado de pena dos homens”. Li, partilhei. Porque reconheço que, de alguma maneira, nós, as mulheres portuguesas, somos leões que sabemos ter voz de galinha.
A referência à padeira de Aljubarrota – nunca percebi se esta padeira existiu mesmo ou foi apenas mais um mito da história de Portugal – deixou-me a pensar na efectiva voz de leão que temos – e escondemos sob a máscara da galinha.
Também a história da galinha me faz sorrir. Não é a primeira vez que afirmo: Mas tu pensas que eu sou alguma galinha ou quê??? Ser-se galinha é tudo aquilo que as mulheres portuguesas, na generalidade, não são.
Esteves Cardoso afirma que as mulheres portuguesas têm pena dos homens e aturam-nos como quem suporta o clima, os animais domésticos e as crianças. Que é um acto de compaixão. Que os deixam acreditar estar no comando, mas que nelas ninguém manda.
A mulher portuguesa é com efeito, alguém que se distingue das suas congéneres europeias. Há sempre um não sei quê que a torna diferente da espanhola, da francesa, da alemã.
São muito protectoras em relação aos filhos e aos homens, portadoras de um sexto sentido sem precedentes; têm um sentido ímpar de auto sacrifício, uma energia que parece nunca se esgotar: trabalham mais horas que as suas congéneres e ganham menos, fazem compras, cozinham, lavam, tratam – e governam- da casa e dos filhos, encontram as peúgas dos maridos – que têm esta comum incapacidade de nunca distinguir a gaveta correcta – vêem os seus episódios preferidos na televisão, vão ao ginásio, bebem café com as amigas…
Quando os homens dizem que não sabem conduzir ou fazer furos com o berbequim, elas sorriem com ar condescendente e têm, de facto, pena deles. Porque criaram-lhes a ilusão de que elas mandam na casa, mas eles mandam nelas – e nada é mais falso.
Têm habitualmente uma forte influência sobre os filhos do género masculino e, conforme reza o ditado, “the hand that rocks the cradle rules the world”, porque na verdade é mesmo isto: a mão que embala o berço governa o mundo.
Ser leoa com voz de galinha: partilho um pequeno episódio num cenário profissional. A determinada altura trabalhei num open space com umas cinco ou seis mulheres. E um homem. Tínhamos dias em que quase trabalhávamos em silêncio; outros em que a chilreada era tal que o homem desatava a fugir – para ir fumar um cigarro, dizia. Um dia de manhã, o homem chegou ao trabalho e saudou: “Bom dia galinhas!”. As mulheres ficaram surpresas e logo se ouviram exclamações do tipo: galinhas? mas ele julga-se algum galo aqui? mas ele pensa que isto é algum galinheiro? “
O assunto teria acabado por ali se ele não tivesse argumentado que muitas vezes nós falávamos tanto que parecíamos um bando de galináceos numa capoeira; que era da nossa natureza sermos galinhas e provavelmente inferiores face à sua autoridade de galo.
O dia passou e terminou. Mas no dia seguinte, quando ele chegou, fui a primeira a ser cumprimentada: Bom dia Anabela! Olhei-o e cacarejei.
Cumprimentou a colega do lado e ela, deitando-me um olhar cúmplice, cacarejou. E todas nós o cumprimentámos cacarejando. Sem termos combinado o que quer que fosse.
Queixou-se nesse dia ao chefe de divisão que as mulheres não falavam com ele. Apenas cacarejavam. Apesar de falarem entre elas.
Então o Silva – provavelmente uma espécie de Esteves da Tabacaria de Pessoa – acenou-nos do seu gabinete e respondeu-lhe: Ó homem, então você chamou-lhes galinhas. O que é que estava à espera????
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