BCE baixa taxa de juro: UE prepara a retoma – Nuno Araújo

Na passada Quinta-feira, 7 de Novembro, o Banco Central Europeu (BCE) baixou a taxa de juro em 0,25%, estabelecendo assim a mesma na percentagem mais baixa de sempre. Essa é uma notícia de relevante importância, dado que numa logica de mercado de capitais, se os juros baixam, então os negócios crescem e o dinheiro circula mais e em maior quantidade. Eis o esperado: mais circulação de capitais e mais criação de valor acrescentado, sobretudo numa altura em que a União Europeia (UE) vai dando sinais claros de que o pior da crise já passou.

Com efeito, e apesar de a Comissão Europeia ter agido tarde, em defesa da criação de emprego no seio da UE e da melhoria do “ambiente macroeconómico”, o início da “derrocada chinesa” (para a qual eu já tinha alertado há uns meses atrás) parece ter acelerado o processo de estruturação de uma retoma sólida por parte da UE, e em particular nos países da zona euro.

Portugal, caso que interessa particularmente aos portugueses sobretudo, terá melhoria da actividade económica já este ano, pois o pagamento do governo de alguns subsídios a funcionários públicos e pensionistas faz aumentar o volume de negócios das vendas a retalho, o crescimento das exportações (ainda que seja tímido) e a descida, pese ser muito residual, do desemprego. Claro que nada disto se deve às acções do governo de Passos Coelho, que em nada contribuiu para que a macroeconomia portuguesa melhorasse; o Tribunal Constitucional (TC), esse sim, sai como o “grande herói” ao qual se deve o mérito de a economia poder vir a crescer de forma evidente, devido às decisões em como o governo terá de pagar subsídios que de outra forma seriam retidos na fonte pelo Estado português. O TC não merecia, claramente, os brutais cortes de que será alvo, constantes naquele que será o pior orçamento de estado (OE) desde o 25 de Abril, o OE 2014.

A UE vive, assim, o “prefácio” da retoma económica. Já se vislumbram os resultados de acordos económicos com a Ucrânia, assinados a 15 de Maio deste ano; workshops com alto patrocínio da Comissão Europeia e Parlamento Europeu em crowdfunding parecem estar a fornecer boa resposta na área do empreendedorismo; criação de um mecanismo único de supervisão financeira aos bancos, que é a antecâmara de uma futura e ambiciosa união bancária europeia, a conceder solidez à zona euro. Todos estes indicativos são dados essenciais para que se perceba o momento de viragem em que a UE se encontra. O shutdown dos Estados Unidos da América (EUA) e os prejuízos avultados daí resultantes; os problemas actuais do governo chinês relacionados com a resolução da “bolha” de especulação imobiliária na China; e o acordo do CRD IV Package, um acordo do G-20 que permitiu estabelecer regras comuns para os bancos sediados nesses países, e que é tendencialmente mais favorável para os países da UE do que para os restantes países. Todos estes dados conjugados estabelecem o que parecia improvável ainda há um ano atrás: a recuperação da UE, como um todo. E o mais notável é que Passos Coelho poderá sair beneficiado desta retoma económica europeia, e sem ter feito nada em prol disso.

Assim, o BCE, sendo uma entidade independente da Comissão Europeia, concedeu aos países da UE condições muito favoráveis para a maior concessão de crédito a empresas e particulares, para além de possibilitar um “alívio” na austeridade em vários países europeus. O mercado único europeu será também um dos mais beneficiados, pois enquanto o “seu” euro se solificou na sua primeira crise monetária, poder-se-à vir a assistir a mais uma “crise do dólar”, até porque isso já não acontece há alguns anos.

 

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana