Breves Notas Sobre Beltane – 1 de Maio – Dos Celtas e da Celebração do Amor

Hoje escrevo umas notas sobre o Festival de Beltane, celebrado na passagem da noite de 30 de Abril para 1 de Maio, no Hemisfério Norte, e originário da Antiga Tradição Celta.

Na madrugada da noite de 30 de Abril para 1 de Maio, celebrou-se um dos mais importantes festivais celtas, Beltane, no Hemisfério Norte, e Samhain no Hemisfério Sul.
A 31 de Outubro inverte, e celebra-se Samhain no Hemisfério Norte, e Beltane no Hemisfério Sul.
No entanto, as tradições neopagãs, em muitos casos, optam por seguir o modelo do Hemisfério Norte, celebrando Beltane nesta primeira noite de Maio.
Deixo uma breve nota ao festival de Beltane, cujo simbolismo mais profundo é demasiado vasto para um artigo deste género, mas fica a nota para quem quiser saber mais acerca do mesmo.

Ambos os Festivais, Beltane e Samhain, resistiram ao tempo e à imposição da doutrina católica e/ou protestante Cristianismo, sendo por eles absorvidos.
O Samhain foi absorvido pelo Dia de Todos os Santos, celebrado no dia seguinte, e Beltane é tido como mote para todo o mês de Maio, em muitas partes do Mundo, onde para alguns cristãos, nomeadamente católicos, se presta homenagem à Virgem Maria.
Em Portugal é também um mês consagrado à Virgem Maria, pela doutrina católica muito presente culturalmente, tendo aliás a sua máxima consagração no dia 13 de maio, quando se celebra o dia que sinaliza o começo daquilo que para os católicos são as aparições de Nossa Senhora em Fátima.
Também o Dia da Mãe passou para o primeiro Domingo de Maio, numa clara homenagem a Maria, mãe, neste mês a ela consagrado, isto também para os crentes.
Para além disso, o mês de Maio está muito associado às flores e a um certo resplandecer da Natureza, do seu pleno vigor e beleza, remetendo por um lado ao que é visível na Roda das Estações do Ano, e portanto claramente visível no Hemisfério Norte, o auge da Primavera na sua caminhada para o maior Dia do Ano.
Por outro lado, remete para o significado mais profundo deste Festival, que na clara alusão ao seu mito Solar, assinala o auge e vigor pleno, a máxima fertilidade ao deus Sol, o seu encantamento e paixão pela deusa Lua, donzela, Virgem, e aqui se percebe a clara identificação feita muito mais tarde pelo catolicismo por exemplo.

Beltane é o Festival e ritual da Fertilidade, o Festival do Fogo, em que se assinala a união da deusa e do deus, para muitos Lua e Sol.
Unem-se alquimicamente aqueles que são complementares, e que finalmente se encontram na madrugada de Beltane, numa celebração alquímica de corpo e alma, no pleno sentido da fertilidade.

No mito Solar celta, o deus Sol está no seu auge agora, no auge da fertilidade, e apaixona-se pela deusa donzela, pura e casta, na mitologia a Lua, símbolo da Virgem.
Isto remete para um maravilhoso e fértil período para a agricultura, como para os humanos e animais.
Simbolicamente representa o momento alquímico em que Sol e Lua se encontram, e se reconhecem como pares complementares, unindo-se.
Para além de um certo folclore místico e de muitas celebrações que remontam aos Antigos Rituais que consagram o Fogo, em toda a sua Glória, numa clara colagem ao Festival Druida do Fogo, a essência de Beltane que aqui importa realçar é a vibração em Amor que se espalha por toda a Terra, numa clara alusão ao encontro entre pares que se complementam, Identificação e União, o caminho para a Fertilidade, dos nascimentos e renascimentos, florir, florescer.

Beltane celebra por isso o retorno do Sol, ou Deus ou deus Sol na mitologia celta e noutras com outros nomes e identificações também. Sinaliza o retorno do Sol agora na plenitude do seu vigor.
É um Festival pleno de conteúdo e simbolismo, aliás tal como Samhain no seu oposto, e são Festivais que viajaram no tempo, desde períodos pré-cristãos até ao presente.

Beltane é portanto um importante Sabbat para o paganismo e o neo-paganismo, proveniente da Velha Religião, da Velha Arte, das tradições celtas, sendo revivida hoje nomeadamente pelas novas religiões que derivam da velha Arte, religiões pagãs que veneram a Natureza e a Terra, como a Wicca, a Wicca Verde, e outras formas neo-pagãs, que, cada uma com o seu estilo e rituais próprios, reverenciam o mais antigo mito, reproduzido de Oriente a Ocidente sob as mais diversas formas, o Mito Solar.

Beltane é um dos Sabbats mais festivos, porque conta uma história de Amor, onde o Deus se apaixona pela Deusa, remetendo para o simbolismo mais profundo, e muito para além do erotismo, onde se celebra o Amor que deu origem a todas as coisas no Universo.
Em Beltane a Deusa, que tem várias fases de vida, apresenta-se como Donzela, a Lua donzela, Virgem. O Deus, o Sol, também com várias fases de expressão, apresenta-se em pleno vigor, na sua fase jovem e no auge da fertilidade, a face radiante do Sol, de regresso ao mundo na Primavera.

No ritual mais antigo de Beltane havia referência ao Fogo e a suas Fogueiras em sua representação, por onde os celebrantes tinham de passar, entre as duas Fogueiras, num ritual de purificação pelo Fogo, queimando todo o mal, e livrando-se de toda a doença e enrrgias negativas.

Também de passavam por entre ambas as fogueiras os animais domésticos, com o mesmo objetivo, de os livrar de males vários.
Curioso como o ritual de “saltar por cima da fogueira” permaneceu com forma derivada deste ritual de Beltane, retomado nas festas de São João, em Junho.
Mais uma vez o catolicismo importa celebrações com os mesmos rituais populares conferindo-lhes novo significado, neste caso com a celebração dos fogos, associada a S.João e ainda ao solstício de Inverno. O povo mantem da Tradição Oral, a Fogueira e o “pular a fogueira”, sem dar conta daquilo para que ela remete.

Em lugares mais pequenos em espaço, o ritual de Beltane toma contornos mais simbólicos e menos folclóricos, substituindo-se as fogueiras por duas tochas por exemplo, ou mesmo apenas por duas velas (adequadas aos espaços fechados), passando as pessoas entre ambas as chamas, com o mesmo objetivo e significado.

É interessante também percebermos que já os antigos romanos recorriam a alguns rituais por exmeplo para proteção das casas e das suas familias, onde utilizavam algumas coisas usadas também em Beltane para proteção.
Grinaldas com flores e pendurar estas grinaldas diantes dos altares pagãos dos romanos, tal como queimar selo de salomão e olíbano diante dos mesmos altares, eram rituais de homenagem e veneração aos espíritos protetores a quem se pedia que guardassem as casas e famílias.
Tanto uma prática como outra continua a ser usada nos rituais neo-pagãos, como os de Beltane.

Na antiga cultura celta, os casais enamorados em Beltane passariam sempre a noite juntos, em profunda comunhão de corpo e alma, preferencialmente no meio de bosques silenciosos.

Pela meia noite tradicionalmente colhiam-se as flores usadas depois nos rituais de celebração.
Os alimentos associados a Beltane são os frutos vermelhos, as saladas de vegetais e ervas aromáticas, bolos de aveia ou de cevada, redondos (bolos de Beltane).

Na Escócia, nas terras Altas, estes mesmos bolos de Beltane são utilizados para as artes divinatórias, oferecendo-se depois os seus pedaços aos espíritos de proteção, através de queimá-los na fogueira.

A cor simbólica de Beltane é o verde. As pedras preciosas sagradas são a esmeralda, a safira, o quartzo rosa. E várias são as ervas ritualisticas a usar, dentre as quais freixo, margarida, malmequer, rosas, primaveras amarelas, olíbano, etc.

Seja como for, o ritual pode variar de grupo para grupo, e na verdade isso não é tão relevante para o que vos escrevo hoje.

Importante é dar conta do significado mais profundo deste Beltane, transversal a várias culturas e cultos, em comunhão com a Natureza, com os humanos e com os animais, em sintonia com o Universo, o assumir da polaridade masculina e feminina em união perpétua.

O Sol no seu papel fecundador, a Lua no seu papel de fertilizadora, numa comunhão plena, em perfeita alquimia.

A noite de Beltane, assinalada na madrugada de Domingo para Segunda feira, de 30 de Abril para 1 de Maio, seria portanto, e por excelência a noite da União sagrada entre aqueles que se complementam. Uma noite onde apenas ambos estão presentes, no silêncio à sua volta.
A União é no entanto em muitos casos simbólica ao nível do corpo, e plena ao nível divino.
Simbólica porque não necessariamente sexual, plena ao nível divino porque é disso exatamente que se trata em Beltane, muito para além do que se vê.

Outros rituais identificam outros deuses, deuses das florestas por exemplo, na mesma complementaridade que têm o Sol e a Lua.
A União é um ato sagrado em Beltane, como se revertesse para o Bem de todos, porque seriam almas que unidas reproduziam correntes de pleno Amor.

Esse Amor é na verdade fruto germinado daquilo que se plantou em Ostara, Equinócio da Primavera, e capaz de se replicar e reproduzir pelo Universo e pela Natureza.
Beltane assinala o tempo em que germinam e brotam as sementes de Ostara, quer as que foram colocadas na terra, quer as que foram colocadas enquanto desejos profundos e intenções nos nossos corações.
Dessas sementes, o bom fruto germina na noite de Beltane, e assim deverá continuar na dança perpétua dos ciclos de renovação.
Agora é o tempo de germinar e brotar s boas sementes do Equinocio da Primavera, o tempo em que o deus Sol renovado e glorioso surge em todo o seu esplendor, no auge da sua potência, e a deusa Lua no auge da sua feminilidade e fertilidade.
Unos finalmente os amantes, eles são a mais perfeita alquimia do Amor, que se propaga como uma vibração por toda a Terra, influenciando o Universo.

É neste raio de vibração, a do Amor pleno, que podemos “vibrar” durante este mês de Maio.

Uns pagãos, outros cristãos, muitos ateus, é no entanto a mensagem de Amor e União que pode ser vivenciada por todos, sob a forma de pares complementares, ou sob a forma mais fraterna e humana.
Importante é revestir o mundo e o nosso planeta dessa maravilhosa energia.
Isto será certamente benéfico para todos nós.

Tenham uma boa semana, plena de harmonia, de paz, de Amor.