Brito Ventura & Os Desalinhados

Música. A arte técnica de harmonizar os sons de feição melodiosa. Uma sequência que soa aos ouvidos. Acto mavioso. 

A música eleva o corpo e a alma. A outros patamares. Faz viajar o tempo e relaxar. Um sentimento vicioso. A mente adquire um significado gratificante. O real significado. De todos os sentires. Da junção humana. Não finda aquele que solta de si o encanto musical na sua narrativa pouco custosa. 

A educação começa com poesia. Assegura-se com disciplina. E termina com música. Que torna as coisas quase nada traiçoeiras. Que culmina em atitudes nada rapinas. A música é para os homens bons. Não necessariamente para os de Deus. Para os homens. Ponto.

Ser música é também sinónimo de Brito Ventura. E os desalinhados. O defensor da jurisdição. De profissão. O advogado que surge de improviso ao manifestar uma direcção mais profunda. Onde a transparência é a causa principal a defender. Um amor que encontra no silêncio da guitarra a importância do caminho a percorrer. Um sossego que não fecha a boca. Que sabe onde procurar a legião. De encontro ao recomeço.

A voz rouca. Que submerge com a guitarra. A confluência de um artista e a banda sonora de uma vida. A segunda casa habitada.

A ideia de Brito Ventura desembainhar uma banda desponta com os amigos. Os Desalinhados. Amantes e músicos nada amadores. Muito pelo contrário. O pragmatismo. O critério do valor prático do homem de fato e gravata. A sensualidade pertinente. A racionalidade que toma de assalto todas as criações musicais. A contrariar o drástico emocional dos pensamentos.

A gravação de um álbum. Ou de um sonho. Que é a mesma coisa. Num tempo que pouco importa. A impugnar a valorização do momento. Que é o que realmente aufere interesse. E há coisas que ficam para sempre na vida da gente. E nos olhos de quem ouve. Como um “Até Sempre” pouco ou nada definitivo. Duradouro. Com um cheiro de despedida que inunda um tempo de verdade. Uma veracidade nua e crua. Que provoca o mundo. Que o transporta para um lugar despovoado. A indesmentível solidão. Traduz-se num trabalho discográfico irrepreensível para a música portuguesa. A simplicidade impera. A honestidade promove a continuação. Porque na existência há coisas que findam. Mas que em nenhuma vez vão deixar de subsisitir.

O tema “A Promessa”, do mesmo álbum, fez parte da produção nacional “Belmonte”, TVI. O sucesso foi inesgotável. E perdura no coração de todos. Nos tempos que correm. Uma das telenovelas de maior sucesso da estação de Queluz de Baixo. Um acontecimento saudoso. Da mesma forma que o melancólico “Até Sempre” entrou directamente para “Destinos Cruzados”. Igualmente da TVI. Uma história de amor perdida. Mas vivida. Como manda a lei.

A música acompanha Brito Ventura desde os tempos de menino e moço. Numa faculdade mais usual. As horas passaram. Os segundos voaram. E as vidas desvendaram outras vidas. Em jeito de retalho. A música.

Mas a música pode sempre ir mais além. E a prova dessa afirmação é o registo “The Reason”. O single de avanço com o mesmo nome. Uma produção mais abalada como a electricidade. Que transparece com mais intimismo. As imponentes guitarras apresentam um ar menos autobiográfico. Adquirem um maior relevo. Afirmam a forte sonoridade exigida por parte de todos os elementos. Desde sempre. As letras sentem-se invadidas por um sentimento mais profundo. A linguagem virtual ganha volume. As raízes intocáveis. Do novo álbum emerge o tema “Saudade” dos míticos Heróis do Mar. Uma versão robusta. Ou o “Shining Light”. A reedição dos temas em inglês. Em suma; um trabalho muitíssimo português, que não procede ao iludindo dos adeptos de sempre. Um disco que pretende exorbitar novos públicos. Um disco que pretende calcanhar novos palcos. Dos grandes. Um disco que pretende ser mais desalinhado. Mais do que nunca.

O erro não existe. Dos que deslumbram a música realizada com o coração. Como é o caso evidente. Brito Ventura & Os Desalinhados. Muito prazer.