Café, Açúcar e Depressão – Unidos por um bem melhor!

O mundo pode ser, por vezes, uma espécie de paraíso. Mas, igualmente, um local muito estranho para se viver. Todos os dias somos literalmente obrigados a presenciar situações que, à primeira vista, nos parecem demasiado estranhas para aceitar. Por outro lado, essas mesmas situações são consideradas normais por quem as pratica. Volto a referir, o mundo pode ser, de facto, um local muito estranho para se viver. São tantas as situações absurdas que, em certos momentos, tenho a sensação que as outras pessoas é que são as normais e eu uma espécie de extraterrestre que foi colocado no planeta Terra para observar a espécie humana, sem que faça a mais pequena ideia disso.

Recentemente, assisti a um momento insólito que me deixou a pensar no que, nos dias que correm, pode ser considerado (ou não!) como um “acto normal”. Desloquei-me a um café perto da minha residência, para fazer aquilo de mais absurdo se pode fazer num café e que vocês, caros leitores, vão achar realmente muito estranho: beber um café. Ora, isto pode ser considerado como uma atitude normal no ser humano. Quase todo o  ser humano que se preze aprecia a deslocação até a um café, para socializar com amigos ou mesmo relaxar um pouco de um dia intenso de trabalho, enquanto degusta um simples e, por vezes (por vezes porque, de vez em quando, pede-se um café e acaba-se por receber uma chávena cheia de água suja…), muito prazeroso café.

Bebi o meu cafezinho enquanto fui relaxando e falando com amigos sobre as idiossincrasias e vicissitudes da vida, quando olho para a mesa ao meu lado. Não tem nada de mal nisto, porque se uma pessoa fica muito tempo a olhar para o infinito acaba por ficar com os olhos a arder e, por conseguinte, repleto de lágrimas. Só que as coisas acontecem sempre quando menos as esperamos. Ao meu lado, sentado à mesa, estava um pacato senhor a usufruir da mesma prática que eu: beber calmamente o seu café. Tudo normal, até que… assim que ele termina de beber o café, o que pode ser considerado normal transformou-se imediatamente em anormal. O senhor pega na colher que usou para dissolver o açúcar no café e desata a raspar o interior da chávena de uma forma veemente e assustadora. Primeiro, pensei que o senhor estivesse a ter um qualquer ataque e considerei pegar no telemóvel e chamar o 112. Mas depois percebi que não se tratava de um ataque, mas sim de o senhor tentar a todo o custo remover o açúcar que fica no fim da chávena de café, para o levar à boca. O senhor estava em aflição, como se o açúcar fosse uma espécie de argamassa e tivesse secado no fim da chávena e ficado lá agarrado para toda a eternidade.

O suor corria pela cara do senhor abaixo. O esforço de titã que ele estava a efectuar via-se claramente que o estava a cansar. Ele estava a ficar de rastos. Mas continuava sem parar. Uma pessoa quando teima em fazer algo, é capaz de tudo  — até falecer se for necessário, para alcançar o seu objectivo. Via-se claramente que o senhor estava a ficar transtornado por não conseguir remover o resto do açúcar que estava no interior da chávena. Parei um pouco para pensar e, a dada altura, olhei para a minha própria chávena de café. Lá dentro estava, de facto, uma boa dose de açúcar misturado com café. Olhei para o senhor, que estava naquele sufoco, e achei que devia fazer algo para acabar com aquele sufoco que, confesso, estava já a incomodar-me um pouco.

Por isso, peguei na minha chávena. De seguida, na colher que usei para mexer o café, olhei para o senhor e desatei a raspar o interior da chávena como se não houvesse o amanhã, conseguindo assim ingerir toda aquela mescla de açúcar e café misturado num só.

Conclusão: aquele senhor sabia bem o que estava a fazer, pois agora sinto-me uma pessoa muito mais feliz. O meu mundo nunca mais irá ser o mesmo.

Agora sim, sou feliz! Pelo menos até acabar a mescla de açúcar e café no fundo da chávena…

Depois… depois quando acaba é que é uma carga de trabalhos e rapidamente a depressão apodera-se de mim…

Enfim. Vidas…

 

Isto é que é uma Vida de Cão, hein…