Caminho

O Senhor nos juntou a todos neste caminho…

A minha primeira vez numa peregrinação, em 2014, como todas as primeiras vezes de qualquer outra situação, foi especial, apaixonante, cheia de emoções e de amor…

O Senhor escolheu-me muito antes de eu querer, pois confesso que como fraca que sou, perdi a vontade de voltar assim que pensei em todas as dificuldades e obstáculos do caminho.

Parei, desanimei…

Mas como Ele me conhece, sabe que se me desse um sentimento profundo, a proposta D’Ele eu ia aceitar. Assim enviou-me sinais e a vontade de querer voltar era mais forte que o peso da mochila e que as recordações das dores.

Aceitei, fiz-me ao caminho…
Ao primeiro dia tudo me era indiferente, só trazia comigo a determinação de querer chegar e citando Santa Teresa porquê “ficar ao pé da montanha, sendo que poderia subir ao topo”.

Comecei então a preocupar-me e a achar que não estava ali a fazer nada, pois a única coisa que me fazia andar era a determinação de querer chegar, então perguntei: “Meu Deus, porque me quiseste aqui?”. Mesmo assim, continuei o meu caminho apenas com a determinação de querer chegar…

Naquela noite fria e ventosa, no Santuário de Bom Jesus do Carvalhal na Oração de Taizé, em silêncio e diante D’Ele, voltei a perguntar: “Meu Deus porque me trouxeste a este caminho? Que faço eu aqui, se apenas quero chegar? Como vou chegar a conhecer os cento e tal peregrinos? E como vou conseguir chegar a todos?”
Ao segundo dia parti em silêncio…

É no silêncio que muitas vezes me encontro e encontro Deus, eu sabia que no silêncio da oração Ele ia mostrar-me o caminho.

Estava a precisar que Ele me envolvesse com o seu Amor, para que assim eu também descobrisse o verdadeiro sentido de me ter feito ao caminho.

Naquela tarde, recebi uma visita especial e pensei: “Como Tu me conheces tão bem e me sabes mostrar o que verdadeiramente faço aqui”. Assim acreditei que este ano tinha duas grandes missões, encontrar alguém para ter vindo comigo e ajudar e ser ajudado.

Ao terceiro dia abri o meu coração…

Comecei a estar atenta aos outros, olhava-lhes no rosto pois pelo menos queria guardar cada um no meu coração, sendo difícil decorar o nome de todos, assim caminhei.

Colocando o meu bastão nas mãos de quem precisava…

Colocando uma palavra…

Dando um sorriso…

Caminhando em silêncio ao lado de quem sofria…

Cantando…

Massajando…

Enfim, ajudando nas mais diversas formas…

E o Senhor deu-me alegria para animar.

Ao quarto dia voltei a perguntar:”Senhor é isto que queres que faça?”

Ele voltou a colocar no caminho alguém a quem eu pudesse dar a mão, uma palavra, um sorriso e assim continuei a caminhar… Assim, alegrava-me.

Quanto mais ajudava alguém, mais forças tinha para caminhar, menos sentia o peso da mochila e menos dores tinha.

Então foi aqui que percebi, que realmente era isso que tinha de fazer, continuar a caminhar ajudando.

À noite, as minhas fraquezas também eram muitas, também tinha saudades de casa, do meu conforto, da minha família, também tinha dores, também chorava sozinha… Mas pedia sempre para que me desse forças…

Ao quinto dia colocou em mim uma força especial…
Caminhar com a minha filha a ultima etapa foi maravilhoso…

Fez-me recordar todos os momentos importantes da minha vida, nos quais ela esteve presente, na minha Bênção de pastas, no meu casamento e em tantos outros momentos importantes.

A força com que o grupo caminhava pela montanha era divinal, pé ante pé, ninguém ficava para trás, todos cantavam, todos se alegravam e emanavam alegria.

Conseguia caminhar e sentir que éramos um só, apesar de não saber todos os nomes conhecia todos os rostos.

Pela tarde fiz um pedido especial ao Pe. David e hoje vi como o poder da oração faz maravilhas e atua com uma força enorme, basta termos Fé.

Eram 10h chegamos, consegui sentir de novo uma brisa como um beijo, um abraço, um carinho de Mãe.

Abraçamos a Capelinha das Aparições com um cordão humano e sentimos a imensidão do Amor de Deus por nós.
Ao sexto dia com a família…

Testemunhámos aquilo que sentimos nesta peregrinação, revelamos o nosso amigo secreto, mais uma vez conseguimos sentir que éramos um só. O Senhor fez maravilhas em nós.

Caminhava-mos de mãos dadas rumo à capelinha das aparições, ao longe avistei a minha filha e o meu marido, a força era tanta que mesmo de mochila às costas peguei na minha filha ao colo, beijei e abracei o meu marido, é bom sentir o nosso conforto familiar e é bom ver que o Senhor também os protegeu.

Nestes 6 dias, não vimos praticamente televisão, não tivemos quase acesso à internet, jogos, facebook, não coloquei maquilhagem, não tive uma cama para me deitar todos os dias, não tive água quente para tomar banho todos os dias, mas tive coisas tão mais importantes.

Tive Deus sempre comigo nas Orações, nas Eucaristias, nos outros peregrinos, tive alegria e comida na mesa.
O caminho faz-nos descer e abrir o nosso coração.
“Só Deus basta”

Da Peregrina
Maria Raquel