As cantinas das escolas primárias – aonde está o respeito pelas crianças?

As lacunas nas escolas primarias portuguesas são muitas, mas hoje vou focar-me nas refeições escolares, deixando pendentes alguns temas igualmente importantes que falarei brevemente noutras crónicas.

Eu estou longe de ser uma mãe perfeita (até porque mães perfeitas não existem), mas sou uma mãe trabalhadora, tenho um horário que me preenche o dia como muitas mães batalhadoras por este país fora. Eu não vivo de rendimentos mínimos, nem ando de emprego em emprego para garantir o subsidio de desemprego, eu não sou dona de casa, nem dondoca, não sou cigana, nem barraqueira, nem ando metida nos cafés o dia todo. E como todas as pessoas que trabalham honestamente neste país, além de sustentar esta malta toda que referi em cima, malandras e sem objectivos na vida, também tenho de pagar tudo o que se refere a produtos e serviços das escolas dos meus filhos. Eu pago, meus caros, eu pago, mas pagaria mais satisfeita se o serviço e produto estivessem aliados a excelente qualidade. Mas o que se passa nas cantinas escolares está longe de ter boa qualidade. E atenção que estamos a falar de crianças em idade pré-escolar e primaria, que são as primeiras a ter o direito a uma boa alimentação, a uma boa educação e ambiente escolar o melhor possível.

O que conclui há já algum tempo é que os pais não devem descurar a refeição da noite, o jantar, porque é a única refeição decente que as nossas crianças vão usufruir no dia. É óbvio que o pai sensato e inteligente vai fornecer aos seus filhos a melhor refeição possível, mas há muitos pais que se estão a borrifar, acham que a refeição que as crianças fazem na escola lhes fornece algumas das necessidades nutricionais diárias. Mas estão francamente enganados. A comida nas escolas não presta para nada.

Isto é muito simples: as empresas que confeccionam e entregam a comida nas escolas, candidatam-se em concurso, e como neste país funciona a lei do mais barato mesmo que não preste, ganha a empresa que cobrar menos. E o resultado é o que se vê actualmente: comida que é confeccionada provavelmente em condições que não serão as melhores, com produtos sem qualidade, atravessam meia cidade e quando chegam às cantinas, já não está quente, nem com bom aspecto, nem porra nenhuma.

A comida que eu sou obrigada a pagar todos os meses à câmara municipal do Porto (e aí de mim se atraso um dia), mas que nem de graça os meus filhos e os filhos de nós todos deviam comer!

Mas não é só a má qualidade da comida, há funcionarias que deviam ser demitidas das suas funções de auxiliares. Quando uma criança pede para repetir o prato é porque tem fome, quando uma funcionaria nega-se a dar mais comida a essa criança é crime. Ponto. Com a recessão sabemos que há muitas crianças a passar fome em Portugal, muitas crianças só fazem uma refeição por dia, que é precisamente o almoço na escola. Negar comida a uma criança com essas necessidades é motivo para despedimento, mas o mais grave é que essas criaturas não dão mais comida às crianças porque tem a porra dos taparueres para encherem de comida para levarem para casa! Que vergonha de país, que vergonha deste sistema, que vergonha eu tenho destas pessoas!

A alimentação é a principal plataforma para termos crianças saudáveis, activas, inteligentes e felizes. Não ter boas praticas de alimentação na infância tem consequências drásticas no futuro destas crianças.

E agora o pai banqueiro e rico diz-me: não está bem com o que têm, coloque o seu filho numa escola privada ou num infantário privado. E eu respondo: porque é que tem de ser assim? Eu trabalho, pago os meus impostos, não ando a roubar, educo os meus filhos, porque é que para ter qualidade tenho de ir para um privado? As públicas não deveriam ter a postura que as privadas têm? Ah pois, o dinheiro, maldito dinheiro que comanda esta merda toda!

Se nunca vos passou pela cabeça tal pensamento eu vou elucidar-vos: as crianças a quem hoje damos má alimentação, má educação, pouca atenção, pouco afecto e pouco tempo serão futuramente os nossos médicos, os nossos juízes, os nossos policias, os nossos governantes! Pensem nisso…