O caráter resumido de um livre-pensador

Livre-pensador. Era como o classificavam as pessoas que o não conheciam lá muito bem, mas não deixavam de dizer o que pensavam a seu respeito se lhes fosse pedido que dessem a sua opinião.

Ivo Schwartz nasceu, descendendo de imigrantes dinamarqueses, na década de sessenta do século passado, na cidade de S. Luís do Estado nordestino do Maranhão, Brasil, no seio de uma família camponesa pouco abastada em que só se ele e os sete irmãos tivessem começado a trabalhar desde tenra idade é que poderiam pensar em viver num patamar ligeiramente acima do limiar da pobreza.

Com sacrifício, laborava cumprindo um horário de mais de cinquenta horas semanais, como Auxiliar de Ação Médica num hospital público de onde sempre se saía com a sensação de que o tempo de espera para as consultas deveria ser consideravelmente menor.

Ivo Schwartz não era um homem metódico, nem pretendia sê-lo. Pelo contrário, fazia do facto de não ter uma agenda para calendarizar as tarefas diárias, um dos seus principais trunfos para não sentir a frustração natural de nalgum dia não ter conseguido executá-las todas.

Além disso, não era dado ao cumprimento de convenções, sobretudo das que lhe impunham regras de conduta das quais discordava em grau, género e número.

Era fluente o seu discurso em favor de causas perdidas, a respeito de que ninguém apontava qualquer coisa positiva a não ser terem a defendê-las alguém com tão bom poder de argumentação e que falasse tão bem.

Consideravam-no, por isso, um homem inteligente e um dia por graça a esposa pôs-lhe até a alcunha de Senhor Professor. Mas a sê-lo, só se ensinasse a disciplina de Ciências da Natureza, porque, devido a ser um amante da liberdade, era ao ar livre que gostava de passar o tempo.

Qual poeta, inspirado na delicadeza da rosa, que era a mais nobre das flores de acordo com o seu padrão de beleza, dedicava algum do seu tempo livre a escrever versos que punha nos cartões de Boas Festas que oferecia à esposa nos anos.

Para ele, na qualidade de livre-pensador, Natal era sempre que ao homem apetecesse e nunca esperava pelo aniversário da mulher para oferecer-lhe um presente de que ela não estava à espera. Do mesmo modo que ela, embora de caráter menos informal, não esperava pela chegada dele a casa se lhe apetecia dizer que o amava. Simplesmente pegava no telefone e fazia-lhe uma chamada ou então digitava um pequeno texto e mandava-lhe uma mensagem.