Carla Vieira | Um Momento De Silêncio…

Não é muito comum mas acontece às vezes estar a falar com alguém, e dizerem-me uma coisa tão estúpida, mas tão irremediavelmente desprovida de inteligência, que eu nem tenho como argumentar de volta, e por isso dou comigo num silêncio forçado, daqueles que são apropriados a alguém no seu leito de morte. Porque é assim que me sinto, como se a inteligência tivesse morrido. E por isso, um minuto de silêncio. Pus-me então a pensar em todas as coisas as quais me deixam sem palavras, porque eu não sou pessoa de ficar sem palavras, e se tal acontece merece atenção. Isso, e… Outras coisas singulares. Portanto, deixo aqui a lista, para talvez se juntarem a mim num momento de silêncio:

Em honra das cinco mil e quinhentas gatas chamadas Mimi em Portugal. Sim, é um fenómeno.
Por todas as gatas pretas que se chamam Luna, e brancas que se chamam Artemisa. Raios te partam, Sailor Moon!
Por todos aqueles que só sabem argumentar usando ad hominem.
Por todos os mosquitos que já passaram pelo meu quarto. Hasta la vista, assholes.
Por todos aqueles que não acham o nosso hino bonito.
Por todos aqueles que não o sabem cantar, ou que temos a palavra “egrégios” lá metida. Ou o que significa.
Por todos aqueles se acham apenas mais um tijolo na parede.
Por todos os que não entenderam a referência.
Por todos os que acham que o feminismo já não é necessário.
Por todas as mulheres que se acham feministas só porque dizem mal dos homens.
Por todas as pessoas que dizem “resisto” em vez de “registo”. Quedem-se, por amor de deus.
Pelos portugueses que insistem em criticar a “mentalidade portuguesa”. Sim, porque vocês são especiais de corrida.
Pelos homens que acham que uma mulher só é digna deles se souber termos de futebol e gostar de videojogos. Estes secretamente devem ser gays.
Pelas pessoas que só sabem criticar.
Por aqueles que acham que só deus os pode julgar. Eu posso não ser deus mas julgo na mesma. Oh, se julgo.
Pelos que continuam a achar que quem é LGBT+ é “anti-natura”.
Por todos os cães que querem que nós atiremos a bola, mas se recusam a dar-nos a bola. É o ano de 2014, evoluam, pá!
Por todos os anónimos aqui da aldeia que só sabem resmungar com os cronistas. Façam melhor.
Pelos que põem os cereais na tigela antes de porem o leite.
Pelo Cristiano Ronaldo, que chora sempre quando perde. Isso é que é jogar com o coração.
Pelas pessoas que se ofendem com tudo. Acalmem-se, a vida é bela.
Por todos os animaizinhos sem casa, e pelas pessoas também.
Pelo Leonardo DiCaprio, que ainda não ganhou nenhum Oscar. Não chores, rapaz, hás-de lá chegar.
Pela Natureza, que é sistematicamente culpada pelas borradas que nós, humanos, lhe estamos a fazer.
Por aqueles que não reciclam. Eu reciclo-vos o cérebro num instante.
Pelas meias sem par.
Por todos os infelizes que já calcaram um lego. Essa dor não se esquece.
Pelos que estão sempre a dizer “vou escrever um livro!” mas não o escrevem.
Pelos cães que têm medo de aspiradores.
Pelos que dizem “eu não sou racista, mas…” Parem. Parem aí. Parem em nome da lei. Apenas parem.
Por aquele comentador da RTP que não sabe dizer Eminem.
Por aquele iogurte do Pingo Doce que era de “cereais” mas quando li a lista de ingredientes tinha lá coco. Nunca mais, Pingo Doce!
Por todas aquelas pessoas que sabem acabar listas de uma forma graciosa porque eu literalmente não sei como acabar isto.

Ámen.