Carta a Minh’alma

Minh’alma, hoje escrevo-te para te pedir que sossegues. Sinto-me cansada do barulho que fazes dentro do meu corpo, chegas a ser desconcertante. Apelidei-te de Minh’alma porque vives dentro de mim mas chego a pensar que nem sequer te conheço, apesar do teu mundo ser apenas o meu corpo, é tão vasto que nem te encontro, andas perdida.

Minh’alma, desculpa não te falar mas pareces não me ouvir e pelo menos assim sei que escutas o meu pensamento, vivemos num mundo tão pequeno e ainda não nos conhecemos. Não sei a tua forma, não vejo a tua cor, nem sinto o teu cheiro, tenho uma vaga lembrança do teu ser mas é tão fugaz que chega a desaparecer como o fumo que se desvanece no ar. Minh’alma, perguntei-te se me conhecias. Perguntei-te apenas para descansar, pois reconheço que são poucas as vezes que nos encontramos, para saberes sequer a cor dos meus olhos ou o toque das minhas mãos. Não soubeste responder, percebi que não me conhecias. Sabes na verdade não somos mais que aquele vizinho que morando debaixo do mesmo tecto, sim porque vivemos no mesmo corpo, apenas ouvimos os passos de quando chega e quando sai. Ouvimos o murmurar, sentimos as voltas que dão mas não lhe conhecemos o rosto.

Minh’alma, tal como a parede separa os vizinhos e a vida não deixa que se encontrem, assim estamos nós. O corpo dissocia-nos e a parede da vida não nos deixa encontrarmo-nos, mas eu preciso de ti. Preciso de me encontrar contigo Minh’alma. Preciso que pares, que não murmures, que não corras. Preciso que sossegues.

Preciso que me deixes encontrar-te, para te escrever. Preciso que me deixes encontrar-te Minh’alma, para ficarmos em Paz. Quero conhecer-te. Minh’alma se para nos encontrarmos tiveres que silenciar, silencia-te, mas deixa-me repousar.