Carta Aberta à SIC e FreemantleMedia Portugal

À SIC e FreemantleMedia Portugal,

Quem me conhece ou quem lê os meus textos com alguma frequência sabe que sou grande fã do formato “X Factor”.  E, como tal, acompanhei a primeira temporada do “Factor X” no ano passado com bastante interesse (enquanto continuei a acompanhar as versões internacionais, especialmente a australiana e britânica).

Devo dizer que  foi grande a desilusão. O autor do formato (Simon Cowell) criou-o para ser o maior programa de televisão do género e o “Factor X” não esteve, nem de perto, nem de longe, perto disso. Cheguei mesmo a enviar email à SIC a descrever como era bizarro que uma produção deste género não tivesse melhor qualidade de som e imagem, para já não falar do “atropelo” às regras originais do formato.

Basta ver os fóruns online para concluir que não fui o único a queixar-me. A SIC anunciou que ia exigir mais da produtora. Sinceramente, não creio que o problema esteja na produtora. A FreemantleMedia produz este programa (através das suas subsidiárias) por todo o mundo com enorme qualidade, pelo que não creio que a subsidiária portuguesa não consiga dar a qualidade que o formato exige à versão portuguesa. Estou mais em crer que a SIC não tenha desejado pagar tanto por uma super produção como é este formato e pediu algo mais em conta. E saiu o que se viu. Cabe à SIC provar o contrário pois, pelo que li online, foi a ideia com que a esmagadora maioria dos fãs do formato ficaram.

Sem produção em palco, fraca qualidade de imagem e som, uso insuficiente dos LEDs e iluminação, para as potencialidades que têm e que vemos nas versões de outros países, quase nenhuma produção em palco (elementos cénicos inexistentes, músicos e bailarinos em palco a suportar os artistas só surgiram mais tarde após as queixas dos fãs e não foram presenças frequentes), apresentadores (sim, apresentadores porque era dois, quando o formato não exige mais do que um) muitas vezes “perdidos”, sem saber o que fazer, foi assim o “Factor X” na sua primeira edição.

O verdadeiro “X Factor” tem, antes de mais, 2 dias seguidos: um dia em que todos os artistas a concurso apresentam os seus actos, fortemente apoiados por produção em palco (iluminação, LED’s, dançarinos, músicos, fogo de artificio suspenso [ou não], cenário, ao ponto de, algumas vezes, transformar de tal forma o palco que nem percebemos que é o “X Factor”); um segundo dia em que o programa tem convidados especiais, em que todos os artistas a concurso cantam uma música em grupo, em que são apresentados os nomes de quem passa e dos 2 actos (artistas e/ou grupos) que vão ter cantar mais uma música escolhida por eles mesmos para convencerem os mentores/jurados a salvá-los da expulsão (isto depois dos telespectadores terem tido cerca de 12 horas, desde o fim do programa do primeiro dia até cerca de meio do dia do segundo programa, para votarem nos seus preferidos). Isto todas as semanas. E todas as semanas, logo após o primeiro programa, as actuações de todos os concorrentes são vendidas no iTunes (em formato audio). Têm aqui um exemplo da actuação de um grupo no  primeiro dia: http://youtu.be/zYgKZKQR7xo. E aqui um exemplo do segundo dia: http://youtu.be/LNKR63K0V-M. Ambos do fantástico X Factor Austrália.
No formato X Factor o “papel principal” é para os próprios concorrentes e os seus mentores. Por isso está provado que o programa não precisa de dois apresentadores. E não precisa de um apresentador a ler mensagens do twitter. As mensagens das redes sociais vão aparecendo no ecrã, em rodapé, no final das actuações, sem intervenção do apresentador.
E mais: no formato original, todas as semanas têm um tema (lendas, bandas sonoras do cinema, rock, top10, etc), o que é um teste à versatilidade e talento dos artistas.

Porque escrevi este texto? Quem procura o formato X Factor procura espectáculo, procura actuações e produção que nos deixe de queixo caído, de boca aberta. E, não obstante a qualidade de muitos dos concorrentes, não foi o que vimos no “Factor X”. A produção não foi capaz de os acompanhar e apoiar. E, sabendo eu que a FremantleMedia é capaz de o fazer, falta o esforço da SIC para que consigam, na segunda temporada que está prestes a começar, dignificar a qualidade do formato. Porque aquilo que mostraram o ano passado foi muito fraco. Não dignificou nem o formato nem os artistas que nele participaram. O X Factor é mais, muito mais. Espero sinceramente que este ano seja melhor, muito melhor.

 

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