Christian Grey, o Osteopata Sexual

Depois de várias tentativas bem conseguidas da minha parte em evitar uma ida ao cinema com a minha cara-metade para assistir ao segundo filme do sucesso de bilheteira “As 50 Sombras de Grey”, eis que tive de vestir a pele de namorado carinhoso e bastante meloso, e satisfazer a sua vontade: numa ida nocturna ao cinema – coisa complicada nos tempos que correm quando se tem uma bebé de 8 meses a preencher-nos a vida por completo.

Não que eu tivesse algum receio em não gostar do filme e chegar ao fim do mesmo com a ideia que tinha acabado de gastar dinheiro em algo que não compensou e, igualmente, perdido tempo precioso que podia ter sido usado para dormir – que é, actualmente, uma das coisas a que mais dou valor na minha vida –, mas sim por existir sempre a ideia que podia chegar a casa depois do cinema e sofrer na pele algum dos horrores a que pude assistir no filme. Primeiro, porque um filme assim pode provocar certas e determinadas obscuras vontades na mente da minha cara-metade, e segundo porque, por mais que me esforce, nunca conseguirei vestir a pele de um “Grey” e satisfazer por completo a minha companheira. No máximo conseguiria vestir umas calças de ganga sem cinto que as obrigasse a sofrer a força da gravidade, fazendo-as descair de forma sexy — tal e qual como o sr. Grey usa no filme e que parece deixar loucas de desejo muitas mulheres. Mas lá fiz a vontade da minha senhora, e lá a acompanhei ao cinema…

Devo dizer que fiquei muito impressionado com o filme. É óbvio que a Anastasia Steele é menina para me deixar boquiaberto tal e qual um depravado a babar-se por modelos de lingerie num catálogo La Redoute, mas não foi esse o motivo principal de eu ter saído do filme verdadeiramente impressionado. É certo e sabido que se trata de um filme de puro sadomasoquismo. Uma história de amor com um pelintra a infligir muita dor como se não houvesse o amanhã. Mas foi neste segundo filme que eu fiquei esclarecido sobre o que realmente é a personagem Christian Grey. Tenho de reconhecer que o senhor é um génio, pois não se trata apenas de um sádico que sente prazer em infligir dor na suas companheiras durante o acto sexual. Ele faz muito mais que isso…

Ora, Christian Grey, como é de conhecimento público, possui um tal de “quarto vermelho” para onde leva as suas companheiras. É onde ele possui uma vasta panóplia de instrumentos que servem apenas e só para infligir dor. Mas isto é o que a maioria das pessoas pensa e retém na sua mente. Eu não penso o mesmo. E é aqui que eu vou revelar o que, para mim, serve aquele “quarto vermelho”.

Caro leitor, Christian Grey é, na verdade, um Osteopata Sexual. Na minha mais modesta opinião, é para isso que ele possui toda aquela enorme quantidade de traquitanas de cabedal e afins. Porque, muito honestamente, foi a que assisti durante o filme: o Grey a curar maleitas da coluna à menina Anastasia, permitindo assim que estivesse em óptimas condições para a prática do que vinha a seguir: o sexo.

Antes que o leitor pense que eu estou completamente chalupa, eu passo a demonstrar a minha total credibilidade neste assunto, usando uma das cenas do filme: Anastasia entra no “quarto vermelho”, faz uma breve vistoria à panóplia de instrumentos de dor de Christian, e acaba por interrogar o mesmo sobre qual era a função de um certo instrumento. E, quando deu por ela, estava deitada numa cama com as pernas presas entre si na zona dos tornozelos, com uma espécie de barra de madeira extensível que ligava uma perna à outra. Não vou mentir. É estranho? É, sim senhor. E é excitante? Sem dúvida que o é. Mas, de repente, quando eu estava a imaginar mil uma coisas que Christian podia fazer à sua “presa”, eis que o senhor pega na barra de madeira e vira Anastasia de barriga para baixo num movimento repentino que, para mim, deve ter feito maravilhas à coluna da rapariga. Eu que estava apenas sentado a assistir à cena, senti a minha espinha a estalar. E depois? Depois… coiso.

Ora, estarei assim tão errado nesta minha teoria? Então o senhor não aproveita para dar consultas de Osteopatia, curando as suas pacientes de maleitas da coluna, para depois cobrar o serviço com sexo? O malandro… O sacana do malandreco, hein…

A verdade é que, depois de assistir à cena anteriormente descrita por mim, quem ficou com maleitas na coluna fui eu. O estalar de espinha que senti não foi uma espécie de compaixão ou até solidariedade para com a menina Steele. Foi mesmo um mau jeito que dei na cadeira, porque me engasguei com uma pipoca e, ao tossir violentamente, acabei por fazer um movimento de contorcionismo que, para uma pessoa da minha idade, foi abusar da sorte.

E agora estou a pensar seriamente em visitar o “quarto vermelho” do osteopata sexual Christian Grey, a ver se ele me cura esta maleita na coluna. Mas não se preocupe leitor, eu depois conto como foi…

Isto é que é uma Vida de Cão, hein…