Cidadão do mundo e onde houver um português

JORNALISTA – Boa noite, Dr. Durão Barroso, posso trata-lo por Cherne?

DURÃO BARROSO – É uma liberdade de expressão que costumo conceder apenas à minha mulher, mas está bem. Tenho essa alcunha desde que era um jovem militante e toda a gente a conhece, o que me deixa duplamente satisfeito. Mostra que sou um político popular e além disso não é do cherne que têm dito mal ultimamente mas sim da sardinha, que chega à altura dos Santos populares fica ao triplo do preço.

3219_artigo_Barroso_madrid_feb11[1]

JORNALISTA – Quem é afinal o Dr. Durão Barrosos, ex-Primeiro-ministro e eurodeputado que chegou a presidente da Comissão Europeia?

DURÃO BARROSO – Sem falsas modéstias e sem querer parafrasear o grande filósofo Sócrates, eu diria que “Não sou nem ateniense nem grego mas sim um cidadão do mundo.”.

JORNALISTA – Considera então que os gregos não são cidadãos do mundo? É por causa do resultado do referendo? Para os economistas que auscultámos, já é suficientemente mau terem sido apenas excluídos da Europa.

DURÃO BARROSO – Não tem nada a ver com a política, já é de antes de eu pertencer aos quadros do MRPP. A minha convicção de ser um cidadão do mundo, vem de aquando da minha tomada de consciência política. Era muito jovem, e foi na altura em que me consciencializei de que o mundo era muito maior do que aquilo em que nos queriam fazer acreditar. Comecei por sonhar ter nascido em França, para partilhar os ideais de igualdade e fraternidade saídos da revolução do século dezoito. Mais tarde, sonhava ter nascido no Brasil para sair à rua e festejar a conquista do primeiro campeonato mundial em cinquenta e oito, na Suécia. A seguir, almejei ter nascido nos Estados Unidos para sentir ainda mais orgulho da chegada do primeiro homem à Lua e, por fim, sonhava ter nascido na Inglaterra para ter uma Rainha a quem dedicar a minha causa.

Barroso-2_2668075b[1]

JORNALISTA – E não sonhou ter nascido na Alemanha por causa da carreira política?

DURÃO BARROSO – Não foi necessário. Mesmo sendo português lá consegui chegar a presidente da Comissão Europeia.

JOSE-BARROSO[1]

JORNALISTA – Entrando na atualidade política, acha que o futuro de Portugal passa por um dia voltar a ser intervencionado pela Troika?

DURÃO BARROSO – Sem ponta de alarmismo, eu diria que sim. Se os políticos em Portugal aprendessem alguma coisa útil com os erros que cometeram nos últimos quarenta anos, seriam tão bons que presidentes da Comissão Europeia já teríamos tido uns quatro ou cinco, presidentes do Parlamento Europeu seis ou sete e Secretário-geral das Nações Unidas outros tantos.

jose_manuel_barroso1[1]

JORNALISTA – Acredita que Portugal voltará a acentuar as medidas de austeridade?

DURÃO BARROSO – Ao que sei, por parte do PSD, estranhamente será aquando da campanha eleitoral para relembrar aos portugueses os sacrifícios a que foram forçados para salvar o país da bancarrota, tal como os socialistas o deixaram e os riscos de voltarem a dar ao PS a possibilidade de governarem mais quatro anos.

JORNALISTA – Conhece bem o Programa de Governo defendido por António Costa?

DURÃO BARROSO – Não tão bem, infelizmente, que o distinga logo à primeira do antigo programa do PS grego, que arrastou a Grécia para o buraco negro em que se encontra. Porém, do que sei, não me parece credível para manter Portugal na senda da recuperação económica.

ng1688837[1]

JORNALISTA – Acha que seria mais consistente o programa de António José Seguro?

DURÃO BARROSO – Tem andado sumido ultimamente, não é verdade? Creio que seria mais ao género do que António Costa teria feito há seis meses, altura em que já tinha sido eleito para fazer oposição ao Governo mas andava remetido ao silêncio, como se nenhum dos problemas em Portugal lhe dissesse respeito.

JORNALISTA – Como encararia a hipótese de um entendimento entre os dois Partidos da esfera do poder e um Governo de Bloco Central?

DURÃO BARROSO – Entendimento entre os líderes do passado ou os atuais?

JORNALISTA – Atuais, evidentemente.

DURÃO BARROSO – Sem grandes reservas, porque o entendimento seria fácil. Penso que, hoje em dia, há mais pontos de convergência entre os dois Secretário-geral desses Partidos do que dantes, pelo menos no que toca a manter as medidas de austeridade preconizadas pela Troika contra o povo português.

3219_artigo_Barroso_madrid_feb11[1]

JORNALISTA – A seu ver a austeridade é para manter? Mesmo agora que já não estamos sob observância dessa mesma Troika?!

DURÃO BARROSO – Nem é preciso. Quem for agora eleito, sabe perfeitamente que é isso que deve continuar a fazer, se estiver no seu horizonte, por exemplo, fazer uma carreira no estrangeiro igual à minha e candidatar-se a Diretor-geral do FMI ou a outro cargo importante no Banco Central Europeu.

JORNALISTA – Pondera avançar em dois mil e dezasseis para uma candidatura ao Palácio de Belém?

DURÃO BARROSO – Por que não? Estou cansado das minhas funções, a achar monótono o meu atual trabalho de professor catedrático. Em minha opinião, será o ideal para fazer quando me reformar, mas não pela Segurança Social, a menos que privilegie a contagem do tempo a dobrar para os anos que passei no estrangeiro, como faziam antes do vinte e cinco de abril aos militares que iam para a guerra.

ng2100335[1]