Coreia do Norte: Ameaças em troca de medicamentos

O regime ditatorial da Coreia do Norte retirou o convite para uma visita ao país efectuado ao secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o sul-coreano Ban Ki-Moon. No mesmo dia, na passada Quarta-feira, e sendo coincidência ou não, os norte-coreanos fizeram saber que conseguiram miniaturizar armas atómicas. Uma e outra coisa estão relacionadas: o nível da chantagem da dinastia comunista norte-coreana mede-se pela força das ameaças e boatos que consegue espalhar pelo ocidente, e sempre pretendendo obter poder negocial em troca. A Coreia do Norte é o país do mundo que sofre as mais severas sanções económicas e que, como tal, está sempre necessitado de medicamentos e alimentos, que de outra forma que não desta, com chantagens e ameaças à mistura, nunca entrariam em solo norte-coreano.

Após o convite ter sido retirado, Ban Ki-Moon considerou “lamentável” essa decisão norte-coreana. Em 20 anos nenhum secretário-geral da ONU, após o egípcio Butros Butros-Ghali, visitou o país liderado pelo ditador Kim Jong-Un. Estava alegadamente prevista uma visita à zona industrial de Kaesong, um território do lado norte da Coreia, composto por um complexo industrial que representa uma espécie de “offshore” para as duas Coreias, onde os comunistas norte-coreanos ganham dinheiro ao venderem barato a sua mão-de-obra pouco especializada, e os capitalistas do sul rejubilam com os lucros pagando salários baixos. Kaesong situa-se junto à fronteira entre o lado norte e sul da península da Coreia, país dividido há mais de 60 anos.

O nível de pobreza da maioria da população na Coreia do Norte é avassalador. Apesar da inexistência de dados oficiais, presume-se, tendo em conta informações de algumas ONG’s, que a pobreza existente neste país asiático é desumana, e a existência da pena capital é medida alargada a uma série de crimes de variados tipos, como atentados aos interesses do estado comunista. A tortura e a inexistência de direitos fundamentais “ornamentam” o leque de atrocidades cometidas pelo regime contra o próprio povo.

Contam isto mesmo alguns norte-coreanos desertores, que organizaram recentemente um lançamento de balões de hidrogénio em direcção à Coreia do Norte. Dentro dos balões encontravam-se cópias em DVD do filme “The Interview” (“A entrevista”, filme em que se retrata uma tentativa de assassinato do ditador norte-coreano), assim como algum dinheiro.

Relativamente à temática das armas nucleares, Washington fez saber que não acredita que Pyongyang tenha chegado a esse nível de perícia tecnológica. Contudo, os norte-americanos não recusam a ideia do avanço efectuado com a dinâmica imposta no desenvolvimento de outro tipo de material bélico, como os vários tipos de mísseis já ensaiados, em vários testes secretos levados a cabo pela dinastia comunista de Kim Jong-Un e no entanto nunca autorizados pelo mundo ocidental.

Com a Coreia do Norte, nunca os ocidentais levaram pouco a sério as ameaças do regime ditatorial. Sendo vizinhos da China, os norte-coreanos usufruem de uma protecção imensa, pois a China é uma superpotência com regime de partido único (comunista), e obviamente pelo seu poderio económico e militar regional e também à escala planetária, nunca irá permitir interferência ocidental em territórios que praticamente representam “protectorados” chineses. E, assim, Kim Jong-Un conseguirá, uma vez mais, aquilo que deseja. Seja isso o que for.