Crise no Brasil: Um perigo para a América do Sul, para a CPLP e para o mundo…

As manifestações ocorridas na passada semana nas maiores cidades do Brasil são a face do enorme descontentamento popular para com a política brasileira, ligada ao escândalo de corrupção relativo à Petrobras, que envolve dezenas de militantes do Partido dos Trabalhadores (PT) de Dilma Rousseff, a Presidente do Brasil, que é o país com maior extensão territorial da América do Sul e também o mais populoso.

Dilma Rousseff, perante tal cenário “assombroso”, está com dificuldades em bem gerir esse escândalo. Apesar de ter pedido “calma e compreensão” ao povo brasileiro, o conhecimento da opinião pública de que a Presidente e o seu antecessor, Lula da Silva, já sabiam do caso acaba mesmo por tornar as coisas ainda piores, e até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se recusou peremptoriamente a mediar um pacto entre a oposição e a Presidente.

Após a sua reeleição numa disputa apertada, num momento árduo de rescaldo da derrota da equipa do Brasil no Campeonato do Mundo de Futebol, jogando em “casa”, Dilma encontra-se numa posição difícil de se segurar no poder: elementos do seu partido, o PT, estão envolvidos no caso “Petrolão”, o Brasil perdeu o campeonato de futebol e biliões de Reais, e no próximo ano haverá ainda lugar a um gasto gigantesco do orçamento de estado com os Jogos Olímpicos sediados no Rio de Janeiro.

Dilma terá de gerir uma crise económica devido à anunciada recessão no Brasil, encontrando-se o dólar em alta e a inflação a atingir novos recordes. O “panelaço” do passado dia 15 de Março levou milhões de brasileiros às ruas e às janelas de suas casas manifestarem o seu desagrado para com este estado de coisas, um descontentamento para com as opções de Dilma preferir gastar dinheiro com eventos públicos de dimensão mundial do que financiar melhor saúde, educação, segurança social e transportes públicos.

O Brasil é, hoje em dia, um país com uma classe média que “nasceu” na década passada, em muito devido ao impulso económico dado pelas políticas expansionistas de Lula da Silva. Como em qualquer país que vê o seu produto interno bruto crescer muito em poucos anos, as necessidades das camadas mais pobres da população vão mudando à medida que o tempo passa, e, da mesma forma que funciona a Pirâmide da Hierarquia de Maslow (em que, estando suprimidas as necessidades básicas, estarão de seguida em causa suprimir as novas necessidades de outro âmbito), também assim funciona a sociedade no seu todo.

Quase toda a América do Sul depende em parte do estado da economia brasileira, pois é a superpotência regional por excelência. Quando os países vizinhos “viraram” os seus regimes para a esquerda, foi porque no Brasil Lula da Silva venceu as eleições, em 2000, e após isso Venezuela, Argentina, Bolívia, Chile e outros viram os candidatos da esquerda política vencer as eleições, presumivelmente porque o eleitorado “pressentiu” que as boas relações com a “vizinhança” trariam mais coisas a ganhar do que a perder, aliás como se veio a provar. Somente de há cerca de dois anos para cá é que se verifica um abrandamento mais evidente do crescimento económico na América do Sul, o que explica tumultos na Venezuela, instabilidade na Argentina, e, claro está, no Brasil.

A Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) também se pode ressentir. O abrandamento do crescimento da economia angolana tem relação com a baixa do preço do petróleo, mas também da queda do investimento estrangeiro que, para o caso, importa referir não se tratar apenas vindo da China e Portugal, mas também do Brasil. A superpotência da América do Sul tem-se “fechado” economicamente ainda mais do que aquilo que já era, prosseguindo uma política até hostil para com os Estados Unidos da América e denotando falta de empenho nas relações diplomáticas com Portugal. Por estas razões, a Portugal e a CPLP devem observar com prudência e preocupação a evolução do trabalho da Justiça Brasileira, poder judicial esse que está fortemente pressionado por várias camadas da sociedade na realização do seu trabalho.

A economia e a diplomacia do Brasil estão paradas, bloqueadas até, internamente e também no plano externo: até onde irá a demonstração de descontentamento da oposição popular que deu a Aécio Neves, candidato dos conservadores e oposição, quase 49% nas últimas eleições, e mesmo daqueles que votaram em Dilma? Será ainda a Presidente apenas uma gestora de crise dos anos vindouros? O que faltará para que Dilma saia da presidência? Valerá a pena para o Brasil se Dilma se demitir? Ou estará a República do Brasil em risco de colapsar, com uma sociedade tão bipolarizada? Um perigo para a América do Sul, para a CPLP e para o mundo…