Da consciência humilde (1)

environmentally-conscious

Contámos uma história, toda a gente se concentra na história, nas palavras contadas, na imagem pessoal que a Presença a contar está a transmitir, na imagem social que a Presença a contar está/irá auferir (o Eu para o outro), na repercussão do conteúdo dessas palavras na vida diária de todos os que estão a ouvir. Porém locutor e ouvinte partilham de uma mesma intenção, acredito que boa e afável, que é a de aprender mais, para de alguma forma vislumbrarem a aplicação de um conteúdo teórico em ações na sua vida diária.

O ‘Tornar Consciente’ algum assunto, alguma matéria que ficou no passado, de certo modo esquecida ou “negativamente interiorizada” nos faz (re)pensar alguma emoção, algum sentimento menos “diluído” e deste modo, construir um novo pensamento acerca do mesmo acontecimento, ou por outras palavras, interpretá-lo segundo uma nova realidade e condições. Porque a interpretação é personalizada, ou dotada de sentido. Se dizes «que vislumbras o amor proliferar no teu coração», talvez vejas vários raios de sol saírem do teu coração, ou vários corações a irradiarem luz, ou então, talvez vejas simplesmente «um coração límpido, seguro, puro e feliz».

Este sentido de personalizar o conteúdo a uma prática pessoal feliz, está presente nas palavras de Unamuno (2001) que referiu que «o homem primitivo, vivendo em sociedade, sente-se dependente de potências misteriosas, que invisivelmente o rodeiam, sente-se em comunhão social, não apenas com os seus semelhantes, os outros homens, mas também com toda a Natureza, animada e inanimada, o que não quer dizer outra coisa, senão que personaliza tudo». E apesar disso, saiamos de uma visão errónea, narcisista ou neurótica de pensar que somos só nós. Saibamos pois que personalizar é humanar e isso é tão simples quanto humilde:

«Eu falei-te na humildade: é preciso procurar na humildade».

«Mas uma coisa é a humildade de quem não desiste de encontrar o encontrável, outra é a humildade daqueles que sentem que os mistérios permanecerão indizíveis e dispersos pelos muitos saberes do mundo?». (Baptista, 2001)

 E a uma coisa e a outra talvez possamos conferir o mesmo valor, mas da parte de dentro, sente mais o(a) que sente com mais dor, sem conseguir achar ainda, nas pequenas recordações, algo que nem ‘sabemos’ o que é, nem «conhecemos» da palavra memória alguma coisa menos boa para que saibamos explicar o que é isso da dor. Apenas denotámos a riqueza integral e pessoal de uma realidade facilitada pela ideia pequena de que lá longe (nosso EU-TU) vive e reina o conseguimento de que ‘ouvimos, pensámos e agimos’ por bem e em bem, cúmplices assim… E é tão fácil e difícil ao mesmo tempo; e por isso o fazer das pequenas coisas grandes coisas quando a nossa inércia, por momentos, for esquecida pela nossa consciência presencial, dando lugar  ao simples e único valor do amor…porque «o que ama o próximo incendeia-lhe o coração como a lenha verde; quando se queima, geme e destila lágrimas» (Unamuno,  2001).

 « – Homem, pense bem!…Não faça isso!…Então você tirou um curso, escolheu uma carreira e agora vai desistir?…Olhe que isso não lhe fica bem…– Eu não vou desistir Sr. Dr. Juiz. Sinto é que tenho outras coisas para fazer…– Mas o quê?…O que é que vai fazer?… – Vou procurar. Eu acho que vou encontrar alguma coisa que me entusiasme…Ele interrompeu: – Sabe? O senhor é um poeta…um poeta é o que o senhor é…Ele chamou-me poeta sem que isso tivesse nada de injurioso: era a palavra com que podia qualificar, sem me ofender, aquela atitude que não podia compreender» (Batista, 2001).

Eis o que brota da abertura da consciência o maior lugar do mundo – o coração – que se despe de razão, de certezas, de ódio e se vai agachar nessa tua liberdade, ‘pequenina’ de amar e de encontrar no dever, um Ser mais perfeito e mais sublime… quase encantador; enternecendo-se na paz alheia e trazendo ao templo da tua mente, um sorriso maior.

 Baptista, A. (2001). O Riso de Deus. (13ª ed.). Lisboa: Editorial Presença.                               Unamuno, M. (2001). Do Sentimento Trágico da Vida. Lisboa: Quarteto Editora.