Eu sou do tempo em que as mulheres casavam virgens

Eu, Sandra Castro, sou do tempo em que as mulheres casavam virgens, do tempo em que se namorava à porta e à janela, do tempo em que um beijo na cara era o mais perto que se podia chegar, do tempo em que o pai só permitia a entrada do namorado quando já era marido, do tempo em que as mulheres casavam de vestido branco e de véu, mas honravam essa simbologia, eu sou do tempo em que as mulheres eram sérias.

Leitores, não acreditaram em nada do que eu escrevi pois não? Ainda bem, porque obviamente estava a divagar. A geração que referi anteriormente está completamente extinta, actualmente temos uma geração de jovens demasiado libertinos, demasiado expostos, demasiado sexuais.

Não sou apologista de casarmos virgens, o envolvimento sexual depois do casamento pode se tornar catastrófico e terminar num divorcio frustrante, como refiro muitas vezes, se um casal não se entender sexualmente a união jamais resultará. Casamos com um homem não casamos com um amigo, memorizem esta frase leitores, que eu sou capaz de ter alguma razão nisso, também se destina aos homens claro. Mas por outro lado, o ditado “cada panela tem seu testo” está em desuso porque, nos dias de hoje, já “muitos testos” e “muitas panelas” passaram pelas mãos, antes de as pessoas juntarem os trapinhos…

Perdi a virgindade aos quinze anos, ele um ano mais velho, numa quente tarde de Agosto, na casa de minha mãe, à sua socapa, assim até sabia melhor. Eu, quente desde que me conheço, não resistia ao desconhecido, deixei o chavalo navegador conhecer o meu corpo de lés a lés, só os beijos já me incendiavam, a mão cujos dedos já tinham provocado alguns orgasmos mesmo sem saber ainda o que significava tal prazer, reinava junto com a língua, e eu delirava naqueles pequenos grandes momentos, no banco à frente da casa abandonada, nas escadas das escolas, nas escadas de minha casa.

Mãe quero tomar a pílula.

– Se queres fazer essas coisas eu não quero saber, não quero mais conversar sobre isso.

Miúda responsável e esperta que eu era, lá fui sozinha à medica, como em varias fases da minha vida estive sempre assim, sozinha. Não havia margem para erros, eu queria perder a virgindade com ele, eu queria mais do que qualquer outra coisa, já estávamos há vários meses em fase experimental, o preservativo não se dava muito bem nas nossas mãos e, nesse sentido, a pílula foi a melhor opção. Ao final de oito meses de namoro perdi a virgindade, rolamos na cama todos suados, todos nus, putos sem saber o que fazer a tão boas sensações, putos que tão depressa jogavam às cartas na cama como depressa se enrolavam e perdiam a noção das horas. Foi um momento romântico e inesquecível, mas soube a pouco, foi tão rápido que nem deu para sentir o tal prazer que tanto falavam. Nunca mais me envolvi com ele, passado dois meses terminei a relação. Apaixonei-me por outro puto, acho que lhe parti o coração, provavelmente fui o primeiro desgosto amoroso dele. Ele, furioso e magoado, contou a todos os amigos que tínhamos tido sexo, que eu tinha perdido a virgindade (como se ele também não tivesse perdido a dele comigo), na escola todos me olhavam de lado e me criticavam, afinal, há quinze anos atrás, perder a virgindade aos quinze anos era precoce, éramos consideradas umas porcas, umas putas, umas oferecidas. Hoje em dia, aos quinze anos, as miúdas já rodaram quatro ou cinco rapazes, quanto mais experientes melhor, fazem sexo oral aos chavalos nas casas-de-banho da escola, quanto mais ousadas melhor, vão vestidas para a escola como se fossem para um bar à noite, quanto mais corpo mostrarem melhor. Há quinze anos atrás ser virgem era estatuto, no presente ser virgem é um fardo.

Já passaram quinze anos, cada um seguiu a sua vida, de vez em quando, muito raramente até, passo por ele na rua e cumprimentamos-nos com um respeitoso bom dia, olá…ele, homem de família, engenheiro, casado, com dois filhos, não sei o que ele pensa ou acha sobre a sua primeira vez, mas também não interessa, é uma parte da minha vida que ficou resolvida, que recordo com muito carinho e respeito, e o mais importante, da qual eu não me arrependo.

” Mais virgindades se perderam pela curiosidade do que pelo amor.”

Autor Desconhecido