É hoje – Mara Tomé

O dia 2 de abril enceta muitos motivos para não me esquecer desta data. Podia ser um dia normal, como os outros, mais um a somar no calendário. Podia, mas não é.

A 2 de abril de há muitos anos atrás, eu e o meu marido começámos a namorar. É uma data que, ainda hoje, fazemos questão de comemorar porque sim, porque queremos, porque faz todo o sentido.

A 2 de abril festejam aniversário uma das minhas melhores amigas de sempre, que foi também a primeira a saber do diagnóstico de autismo das piolhas, e a filhota de outra amiga.

A 2 de abril, a OMS marca o dia assinalando-o como “Dia Mundial da Consciencialização do Autismo”. Conseguem ver aqui uma pontinha de ironia? Eu vejo um iceberg inteiro dela.

A 2 de abril, hoje, escrevo a minha crónica, aproveitando para realçar – mais uma vez, sempre e enquanto fizer sentido – a questão da sensibilização para a o autismo, de continuar a chamar a atenção para a realidade do autismo. Se conseguirmos evitar, pelo menos uma vez, o chavão do “se fosse meu filho…” de cada vez que temos que lidar com um meltdown, já valeu a pena insistir nestes detalhes. Não é uma comemoração – que raio? Comemorar uma patologia? Já vi isto na net e fiquei verde -, é um processo de sensibilização da população, de levar às pessoas alguma informação sobre o autismo, de mostrar que os nossos filhos têm exatamente os mesmos direitos que os filhos das outras pessoas com a exceção de que os nossos precisam de alguns deles mais ativos: intervenção precoce, apoio à família, terapias, psicólogos, etc.

Por isso, hoje, think blue, wear blue. Não custa nada, não doi nada mas faz toda a diferença. Porque, quando de dois passamos a quatro e a vida nos apresenta imensos desafios, porque compramos uma viagem para Itália mas acabamos na Holanda, porque o futuro das nossas piolhas também nos diz respeito, porque com um passo de cada vez chegaremos mais longe, porque me recuso a baixar os braços, o autismo não fará de nós reféns nem vítimas de ignorância ou desconhecimento. Saber como nos sentimos, sem dizer nada, já é ajudar.

Crónica de Mara Tomé
T2 para 4