E tudo uma banana mudou

Em 1982, José Cid fazia sucesso e preenchia as rádios portuguesas com o seu single, “Como o Macaco Gosta de Banana”, 32 anos depois, não é a música que volta a estar na ordem do dia, mas sim o fruto presente na mesma. No fim de semana passado, o jogador do Barcelona, Daniel Alves, teve uma atitude que, não mudando a forma de pensar, mediatizou uma situação que é um flagelo no universo do desporto desde há muito, falamos pois, do racismo.

Estava a decorrer o minuto 75 do jogo que opunha o Villareal ao Barcelona, quando um adepto da equipa da casa decide atirar uma banana para Daniel Alves, insinuando que ele era um macaco, aludindo à sua cor de pele. Um acto de racismo, portanto. Nesse momento, o defesa-direito blaugrana teve uma atitude surpreendente que viria a chocar todo o mundo e a despoletar uma campanha como nunca se presenciou. Quando viu a banana, Alves decidiu come-la, dando assim uma mostra de superioridade perante tal acção e pondo todo o mundo a ovacioná-lo de pé.

O simples acto de comer uma banana, acabou por gerar uma enorme onda de apoio a Daniel Alves e contra o racismo. A partir daquele momento, as redes sociais, a imprensa escrita e um pouco por toda a internet, tudo foi inundado por fotografias de jogadores, ex-jogadores, figuras públicas ou simples anónimos, a comer o fruto do momento, marcando assim uma posição pública e catapultando a luta contra o racismo, especialmente no desporto, para o centro da ordem do dia, assumindo uma posição e um mediatismo que nunca teve.

O racismo sempre foi um problema nos estádios. Não só agora, mas sempre. Os insultos sempre se ouviram, os objectos sempre foram arremessados e os ânimos sempre se exaltaram. Contudo, o tempo de se jogar o jogo dentro das quatro linhas e de perceber, de uma vez por todas, que não há diferença, que somos todos iguais – um cliché com sentido – parece estar a chegar. Obviamente que não é expectável que todos os actos racistas acabem, porque ignorantes, esses, há sempre. O que é expectável, é que com o mediatismo e a repercussão que a campanha “somos todos macacos” está a ter, as coisas comecem a melhorar, pelo menos que se comecem a tomar medidas e a não deixar passar impune este tipo de atitudes como se tem feito todos os anos. Só agindo se resolverá alguma coisa.

O dia 27 de Abril de 2014 ficará marcado no mundo do futebol, como se de uma revolução se tratasse. Foi um “abrir de olhos” que surgiu de um acto, quase, espontâneo de um jogador que já havia sido visado inúmeras vezes por insultos deste género. Um fruto que se tornou popular, uma campanha – com um nome infeliz, diga-se – que se tornou viral e um jogador que passou para o centro do mundo. Esta é a força que muda o desporto, que o torna belo e que faz dele apaixonante. Que se mudem mentalidades, que se mantenha o espetáculo. Tudo uma banana mudou, agora que não volte ao mesmo.

AntónioBarradasLogoCrónica de António Barradas
A Bola Nem Sempre é Redonda