Eleições Europeias: a análise que falta!

No rescaldo das Eleições Europeias: para o parlamento europeu (e sublinho: PARA O PARLAMENTO EUROPEU) do último domingo, chegamos a tristes conclusões acerca da pequenez da nossa classe política e de como muitos dos seus agentes estão mais preocupados com o taticismo político do que com a vida das populações que servem (e sublinho: QUE SERVEM). Sim, porque a missão dos políticos deveria ser em primeiro lugar, de servir a população que os elegem e não o de se servirem a si próprios.

Na noite das eleições e nas horas que se seguiram, ouvi e li muitos comentários e opiniões, mas ainda há coisas por dizer e por analisar.

Comecemos pelas estatísticas:

– Os votantes são cerca de 9.700.000;

– Desses, apenas cerca de 3.200.000 foram às urnas (33,9%);

– Dos que foram às urnas, cerca de 3,5% votaram branco ou nulo, ou seja, queriam votar, mas nenhum dos partidos que se apresentaram satisfaziam as suas preferências: este “partido” é o 4º, nas intenções de voto;

– Apenas 10% votaram no PS;

– Apenas 9% votaram na coligação Aliança Portugal;

– Apenas 4% votaram na CDU;

– Cerca de 3% votaram em Marinho de Pinto;

– Apenas 2% votaram no BE;

– Cerca de 1% votou no Livre, dissidentes do BE;

– Cerca de 4% votaram noutros partidos, o que significa que, todos juntos, ficariam em 3º lugar.

Posto isto, coloco as seguintes questões, para reflexão:

– Porque se considera o PS vencedor destas eleições? Com que legitimidade democrática tem a displicência de exigir eleições legislativas antecipadas e a atenção do PR? Quando pediram um severo castigo ao Governo, pretendiam chegar a percentagens próximas dos 40% (ultrapassaram essa fasquia por 2 vezes em eleições europeias) e, numa altura que lhes era favorável, pois era inevitável que a maioria fosse castigada… não conseguiram e ficaram até bastante longe. O PS perdeu, no sentido em quis fazer destas eleições uma avaliação do povo ao governo e à troika, mas esqueceu-se de que o “feitiço se poderia voltar contra o feiticeiro” e o povo acabou por penalizar o PS por discutir pouco a Europa e muito o estado interno do país;

– A coligação PSD/CDS alcançou o pior resultado de sempre em eleições europeias (concorrendo tanto coligados como isolados). Reconheceram a derrota mas, com razão, acham que “não perderam por muitos” e digamos que, para a hecatombe que se esperava, ainda assim não foi tão mau como poderia ter sido. De facto, se somarmos o eleitorado fixo do PSD (22/23%) com o eleitorado fixo do CDS (5/6%), atinge-se a fasquia dos 27/28% que a coligação obteve. A Aliança Portugal perdeu assim o eleitorado flutuante, que desta vez quis penalizar os partidos do governo e apresentar-lhes um cartão amarelo;

– É bem possível que esse eleitorado flutuante tenha “fugido” para o surpreendente MPT de Marinho de Pinto, que alcançou mais de 7% – percentagem que seria suficiente para que a AP ganhasse as eleições. Recordo que o MPT, nomeadamente Marinho de Pinto, não é um partido que se possa considerar de esquerda, pela postura conservadora que o seu candidato adota, mas também anti-regime: discurso que agrada a muitos dos eleitores atualmente. O próprio fundador do MPT, o conhecido Eng.º Gonçalo Telles, não é um homem de esquerda. Se as os eleitores quisessem ter preferido mudar os seus votos para o concorrente direto, teriam ido para o PS, mas o que é facto é que não o fizeram e optaram pelo MPT. Será que numas próximas eleições legislativas, a AP não poderá vir a capitalizar os estes votos do MPT? Fica aqui a grande questão que ainda não ouvi qualquer comendador analisar.

– A CDU reocupa o 3º lugar – posição que já antes conheceu – devido essencialmente ao seu discurso coerente e não dissonante. Apresentou candidatos jovens e dinâmicos e, recordo, que o seu eleitorado é fiel, por isso, a abstenção acaba sempre por beneficiar os partidos com base de votantes sólida.

– O que não aconteceu do o BE, que nas últimas europeias tinha ficado em 3º lugar e que caiu definitivamente, corroído pelo “dissidente” Livre e pelos votos nos outros partidos de esquerda mais radicais. Para isso também contribuiu a saída de Francisco Louçã do Bloco, lacuna que a atual liderança bicéfala não consegue colmatar. Se o Bloco quiser sobreviver, terá possivelmente que tentar ser um partido “diferente”, não sistematizado e não faccionário. Terá possivelmente que tentar engrossar o bloco com outros partidos mais à esquerda, como o PCTP/MRPP, o POUS, o MAS, o PTP, etc.

– De salientar ainda que, à direita existem alguns partidos também “dissidentes” de PSD e CDS e não só, como PPM, PND, PNR, PPV, e ainda um PDA, que não se sabe ao certo o que é… Todos estes partidos apenas servem para que, em altura de eleições, sejam mais as vozes a dissonar dos partidos do regime, mas que servem também para dispersar votos que não têm utilidade, além da análise puramente de “dar voz a quem nunca a tem” e de defenderem conceitos e ideias que nos outros partidos do regime apenas se tratam marginalmente.

Preocupante é a situação de crescimento dos partidos radicais um pouco por toda a Europa, nomeadamente os nacionalistas, racistas e xonófobos e ainda a grande taxa de abstenção, que deixa a classe política sem palavras, sem atitude e sem saberem o que fazer para que os cidadãos europeus se interessem pela governança da Europa, das suas instituições e do seu jogo de poderes.

É essencial refletir, mas também agir, por apenas refletir nada traz de novo ao povo Europeu.

Por cá, tudo na mesma, o Governo irá governar até às legislativas e, prevejo eu, com grandes hipóteses de vir a ganhar, mesmo por poucos, porque com esta liderança na oposição, não se perspetiva a simpatia dos portugueses por um Primeiro Ministro tão “poucochinho” e pensam: “mal por mal, este que temos”.

Temos 15 meses para descobrir as respostas, tão importantes para o nosso futuro coletivo.

Crónica de Rafael Coelho
A voz ao Centro