Época da caça à gorda – Joana Camacho

Porque é que toda a gente subitamente se lembra da existência de promenades nesta altura do ano? Tudo bem: acho ótimo que frequentem as promenades. Nada contra. Mas a questão aqui é: elas estiveram lá o ano todo – que raio de pessoas são vocês, que só agora se lembraram delas? Ontem, ao final da tarde, mal se conseguiam ver os semáforos, tantas eram as gordas a circular pelas passadeiras. E isto, claro está, afeta o tráfego automóvel. Não é bom para o planeta haverem tantas gordas a passear as banhas à mesma hora, e no mesmo sítio. É daquelas coisas que afeta o aquecimento global e provoca as chuvas ácidas.

Mas este é um fenómeno que ocorre a nível mundial. Aliás, se muita mais gente se apercebe disto, abrem uma época da caça à gorda, tal é a afluência desta espécie em regiões específicas do planeta (leia-se: promenades). E, aparentemente, gorda que é gorda, usa leggings floridos para correr, consequentemente cegando todo o universo em seu redor, com uma visão absolutamente aterrorizante, traumática e causadora de profundas perturbações psicológicas.

Gosto particularmente de ver aquela malta que vai correr para a promenade e, após vinte minutos, se senta numa esplanada e pede um crepe com nutella e uma coca-cola com gelo, como recompensa pelo seu esforço durante, precisamente, mil e duzentos segundos consecutivos.

– É pá, sou mesmo bom! Perdi 50 calorias a correr durante vinte minutos, e depois, para celebrar, fui consumir 600 calorias na esplanada. Já me sinto mais magro!

Só para esclarecer: sim, acabo de descrever pormenorizadamente, e com elevado rigor científico, as minhas idas esporádicas à promenade. Não me julguem.

Mas, falando agora com alguma seriedade: será que as gordas só se lembram que estão gordas pela altura do verão? É que, ou muito me engano, ou as banhas – durante o resto do ano – continuam lá. Como é possível não terem reparado? Que não tenham reparado naquela borbulha que vos apareceu na bochecha esquerda, eu entendo. Mas como é possível não repararem em algo que vos impede de observar os vossos próprios dedos dos pés? Algo aqui está muito mal, caras amigas.

E ainda há aqui mais uma situação que me aflige. O que é que a mãe de uma gorda lhe responde, quando esta pergunta se é bonita? É que o típico “o importante é ter saúde” nem se pode aplicar nesta situação, devido ao colesterol e à glicémia, e a tudo o resto. Que aborrecimento. Mas, vá, agora vou para a rua correr um bocado… porque acho que a carrinha dos gelados já vai ao fundo da rua e tenho de me apressar para conseguir apanhá-la.

Já agora: acho que perdi o meu iPhone 5 em lugar indeterminado. Se alguém encontrar um com uma maçã meia comida na parte de trás, é meu.

Caras pessoas que me leem: caso, por alguma razão, tencionem subornar a autora deste texto, permitam-me que vos deixe uma sugestão… chocolates. Montes e montes deles.

JoanaCamachoLogoCrónica de Joana Camacho
A parva lá de casa