Era uma vez no cinema: Captain America: Civil War

       Os filmes do estúdio Marvel criaram-me um dilema que vai perdurando ao longo do tempo, mesmo que “Captain America: Civil War” seja já o décimo segundo projecto do estúdio. A questão é que adoro grande parte das personagens retratadas, contudo, não gosto da maioria das obras derivadas dos mesmos. Se os primeiros dois filmes da saga “Iron Man”, “The Avengers” e “Captain America: The Winter Soldier”, são filmes de qualidade, o mesmo não se pode dizer de “The Avengers: Age of Ultron”, “Iron Man 3” e os dois “Thor”. Felizmente, repetindo a dupla de realizadores do já bem sucedido “The Winter Soldier”, esta primeira parte de “Civil War” tem nota positiva e poderá ser considerado um passo em frente nos filmes do estúdio, no que eu espero que seja o começo de uma etapa de maior regularidade ao nível qualitativo.

       A trama desenrola-se ainda na ressaca dos acontecimentos de “The Avengers: Age of Ultron”, episódio que alertou os governos em relação ao papel desempenhado pelos Vingadores, querendo impor políticas que controlem as acções dos super-heróis. Essa preocupação por parte dos políticos aumenta ainda mais após um atentado à Sede das Nações Unidas, do qual Bucky é acusado. Tudo isto vai contribuir para que aumentem as divergências entre os diversos heróis, resultando na separação e inevitável confronto entre dois grupos, um deles liderado pelo Captain America e outro pelo Iron Man.

       Em “Captain America: The Winter Soldier”, os irmãos Anthony Russo e Joe Russo, acertam ao dar à trama um tom mais sério, realista e credível, algo que os filmes do estúdio teimam em afastar-se. A grande evolução feita em “Captain America: Civil War” passa pelo reforçar desse amadurecimento vindo do antecessor. Os grandes vilões e os seus planos maquiavélicos com vista à extinção da raça humana são postos de lado aqui, desta vez, os nossos heróis estão perante problemas e dilemas reais, onde as suas acções acarretam consequências e responsabilidades são atribuídas. Este cenário torna desde logo o filme mais interessante do que muitas das obras anteriores da Marvel. Os irmãos Russo trouxeram também uma grande melhoria nas cenas de acção, evitando os excessos de CGI, tornando todas as sequências de  acção mais autênticas e envolventes. A juntar a isto, o carisma e espectacularidade de grande parte dos heróis, onde no lote de repetentes se destacam inevitavelmente o Iron Man e Captain America, enquanto que nos estreantes, o Spider-Man e Black Panther deixam óptimas indicações para o futuro. “Captain America: Civil War” conta ainda com um excelente clímax, numa sequência de cenas realmente tensas e pesadas, onde cada troca de murros entre o Iron Man e o Captain America são autênticos golpes no estômago dos espectadores.  A vertente cómica, tal como em todos os filmes anteriores, também está presente em “Captain America: The Winter Soldier”, embora numa dose mais equilibrada e acertada do que nas obras anteriores, contribuindo para uma maior seriedade da trama. No entanto, apesar das melhorias ao nível narrativo, do argumento e do consequente aprofundamento das personagens, há certos erros que continuam a perseguir os filmes da Marvel. Os excessos e clichês, embora sejam mais contidos do que nunca, existem ainda em bom número, o que nos deixa a sensação que embora esta seja uma obra eficiente e um avanço significativo na cinematografia Marvel, esta tinha condições de ir muito mais além.

       O elenco é sem sombra de dúvida um dos “pratos fortes” desta primeira parte de “Civil War”. No meio de tanta personagem, tal como referi no parágrafo anterior, é obrigatório distanciar o trabalho de Robert Downey Jr. e Chris Evans. O primeiro parece que nasceu para dar vida a Tony Stark, a sua irreverência e carisma tornam difícil imaginar outro actor no papel de Iron Man. No que diz respeito a Chris Evans, incorpora de forma perfeita tudo aquilo que o Captain America deve representar, lealdade e um enorme sentido de justiça. Scarlett Johansson continua excelente com a sua Black Widow, tal como Paul Rudd com o seu Ant-Man. Nas novas personagens, ainda que o vilão Zemo de Daniel Bruhl e a Black Panther de Chadwick Boseman estejam em grande plano, é o novo Spider-Man do jovem Tom Holland que “rouba” todas as cenas. Com filme a solo já a caminho, o novo Peter Parker foi a surpresa mais agradável de “Civil War”, deixando as expectativas dos fãs em altas para o que aí vem. No entanto, existem certos heróis que tardam em convencer-me, como é o caso do Vision de Paul Bettany e a Scarlet Witch de Elizabeth Olsen. Não sei se por culpa dos argumentistas ou dos próprios actores (ou muito provavelmente de ambos), o que é certo é que não consigo criar grande empatia com estas personagens.

       Se no primeiro confronto de super-heróis do ano a coisa não correu muito bem, estou a falar de “Batman vs Superman: Dawn of Justice”, o resultado de “Captain America: Civil War” é bem satisfatório. Há muito a melhorar, sem dúvida, mas o que nos é apresentado nesta mais recente aposta da Marvel é superior ao que foi feito antigamente, e isso é desde logo um bom sinal. Os dados estão lançados para uma óptima segunda parte de “Civil War”!

7/10