Fernando Santos: De Deus Grego a D.Sebastião

Dia 11 de Setembro de 2014, foi um dia em cheio para todos os portugueses. Não porque tenham ganho o Euromilhões, não porque tenham recebido a notícia de que vão ser pais, mas sim porque Paulo Bento  saiu, finalmente, do comando técnico da seleção nacional. O seu lugar passou a ser ocupado por Fernando Santos, que passa assim a ser o homem do leme e o rosto da esperança portuguesa. Hoje, 18 dias mais tarde, é tempo de perspectivar a carreira de Fernando Santos na nossa seleção, vendo o que mudará e analisando os prós e os contras, de forma a tentar perceber se foi, ou não, uma boa escolha da Federação Portuguesa de Futebol.

Estará 8 jogos fora do banco, não podendo orientar a equipa durante os 90 minutos

Este é, sem dúvida, o facto que mais faz os portugueses ficarem de pé atrás com esta escolha. No período conturbado que atravessamos, seria essencial e necessário ter um timoneiro que pudesse auxiliar a equipa e empurrá-la para a frente durante os 90 minutos. Parecendo que não, é essencial. Obviamente que a preparação, os treinos, as convocatórias e o discurso são importantes, no entanto, estar a qualificação toda, ou quase toda, sem um homem forte a orientar a equipa, será, complicada. É que entre ter o banco vazio, ou estar lá Ilídio Vale, é praticamente o mesmo. Verdade seja dita, não sabemos como irão reagir os jogadores a um banco vazio e sem o seu treinador, não será, de todo, uma situação fácil de gerir, cabendo ao próprio saber contrariar na perfeição esta enorme adversidade. O castigo do novo selecionador português é sem dúvida um ponto contra e, quem sabe, um tiro no pé.

Todos os jogadores passam a contar, são todos selecionáveis não havendo ninguém excluído à partida.

Com a vinda de Fernando Santos, deixarão de haver jogadores castigados, embirrações despropositadas ou castigos encobertos. O novo homem forte da equipa das quinas, fez questão de reiterar que todo e qualquer jogador português é selecionável e que ninguém está ou estará, à partida, impedido de ser chamado. Boa notícia para o futebol português. As desavenças crónicas de Paulo Bento já começavam a tornar-se excessivas, tão excessivas que prejudicavam os nosso objectivos. Agora será diferente, tanto Ricardo Carvalho, Danny, Bosingwa ou Manel Fernandes, terão a sua oportunidade de mostrar o que valem, começando e demonstrando ao novo selecionador que são capazes de ser úteis ao seu país, levando em frente. Além do mais, é perfeitamente expectável e plausível, que o ex-selecionador grego aposte em jovens em ascensão e em jogadores que nunca mereceram uma única oportunidade, como por exemplo, José Fonte. Aspecto muito interessante e um dos acréscimos gigantes que a mudança de treinador trouxe.

Vasta experiência Internacional e grande conhecimento do futebol português

Paulo Bento chegou à seleção nacional depois de um trabalho, relativamente bem conseguido, ao serviço do Sporting. Agarrou a oportunidade muito cedo na carreira e sem um currículo de peso – mesmo tendo noção que não é o currículo que treina – para o acompanhar e afastar os fantasmas que pairavam no ar. Pelo contrário, Fernando Santos, agarrou a oportunidade vindo de um experiência muito bem sucedida na seleção grega, onde teve uma participação bastante boa, tendo em conta o que se esperava, no Mundial de 2014. Além do “calo” internacional que já tem, o novo selecionador traz consigo um currículo invejável, no qual constam nomes como Benfica, F.C. Porto, Sporting e AEK, tudo nomes conceituados no panorama tanto nacional como internacional. Sem nunca ter conseguido ser um treinador de excelência, Fernando Santos tem sido competente ao longo da sua já longa carreira, tendo sido mais bem sucedido por terras gregas, onde é visto como um Deus. Se chegar com rótulo de treinador de renome tem os seus aspectos positivos, também é verdade que a pressão é muito maior, veremos como o novo dono do banco da seleção das quinas reage.

Estilo de jogo, esquema táctico e nova atitude

É ponto assente que treinar a Grécia não é o mesmo que treinar Portugal. Podemos ter perdido uma final há 10 anos – que é melhor não mencionar -, no entanto, isso não nos retira o prestígio internacional de que hoje dispomos, sendo que teremos de jogar como seleção que somos, ou seja, top10 do mundo. Quando orientava a seleção grega, Fernando Santos adoptava uma postura muito defensiva, procurando fechar bem os caminhos do golo, enquanto esperava uma oportunidade para efectuar um contra-ataque e assim, de forma cínica, matar o jogo. Contudo, agora é diferente, não é isso que se espera. Espera-se que venha com ideias inovadoras, ideias de ataque, de domínio, ideias que nos façam não perder com a Albânia ou jogar de igual para igual com o Chipre. Precisamos de um futebol com mais qualidade, mais intenso e eficaz. Não se espera uma revolução total em termos de 11 titular, muito menos de esquema táctico, o que se espera é que as ideias de jogo venham, essas sim, revolucionar o nosso futebol e aumentar a nossa qualidade de jogo. É urgente que a nossa seleção deixe de basear o seu jogo apenas e só em Cristiano Ronaldo, são precisos planos Bês, Cês e derivados. A prova de fogo será já daqui a duas semanas no jogo amigável contra a França, aí teremos uma leve ideia do que nos espera.

Discurso, comunicação com os jogadores e imprensa

Quem olha para Fernando Santos vê um homem sério, sisudo, desconfiado e exigente. É a imagem que transparece. No balneário já são vários os jogadores a afirmar que não, que Santos não é como deixa transparecer cá para fora, o seu ar sisudo é parte da “fachada”, sendo o mesmo um treinador activo, dedicado e trabalhador. Na parte do discurso, podemos afirmar que ganhou pontos. Ganhou pontos em apontar metas, em desvalorizar o que é, na verdade, um grande problema, o seu castigo, e em afirmar que nenhum jogador estava excluído. Com este discurso, Fernando Santos ganhou apoiantes, gerando assim à sua volta uma onda de esperança e alegria que todos esperam ver transformada numa qualificação tranquila para o Campeonato Europeu de 2016. No que toca à imprensa, as opiniões dividem-se. De um lado aqueles que reiteram que nunca se deveria ter contratado um treinador que está castigado com 8 jogos de suspensão, do outro, os que sabem que, dos nomes possíveis, Fernando Santos era a melhor opção e que com ele a seleção fará uma boa campanha.

Resumindo, o lisboeta de 59 anos que já treinou os 3 grandes portugueses, é uma boa escolha. Goste-se ou não do seu estilo de jogo, da sua postura, ou do seu trabalho, o certo é que neste momento não havia melhor. Todos os possíveis treinadores disponíveis – exceptuando Vítor Pereira que rejeitou – eram uma escolha incerta, um tiro no escuro, um escuro no qual Portugal não pode arriscar cair e voltar ao mesmo de há uns 15 anos atrás, épocas em que nunca nos apurávamos para nenhuma competição internacional. Como tal, há que aceitar Fernando Santos como a melhor opção. Há que aceitar que este é o nosso D.Sebastião e que, não tendo chegado num dia de nevoeiro, veio com fama de Deus Grego para nos salvar da catástrofe. Agora, só cabe ao nosso novo homem de confiança, não desiludir.