FIFA President Sepp Blatter attends a news conference following the FIFA Executive Committee meeting in Zurich, Switzerland, on Saturday, May 30, 2015. (Ennio Leanza/Keystone via AP)

FIFA: Não é apenas mais um escândalo de corrupção

Esta semana fica marcada de forma incontestada por episódios relacionados com futebol, ou não fosse a anunciada transferência de Jorge Jesus, exteinador bicampeão do Benfica, para o Sporting.

Porém, a nível mundial, o “terramoto” foi mesmo o facto de Joseph Blatter se ter demitido (e muito bem) da presidência da FIFA na passada terça-feira, na sequência de notícias que dão como certo que está a ser alvo de investigação pelas autoridades norte-americanas. O escândalo de corrupção que atingiu alguns directores de federações e confederações de futebol caribenhos e centroamericanos já atingiu contornos demasiados grandes
e sérios.

Blatter tinha somente sido eleito presidente do organismo que tutela o futebol a nível mundial, pela quinta vez consecutiva, há apenas uma semana.

Envolvido em inúmeras alegações que o imiscuiam em sérias questões ligadas à corrupção, não teve
outra saída senão a demissão. Michel Platini, presidente da UEFA (organismo que gere o futebol europeu), já tinha aconselhado Blatter a demitir-se do cargo que ocupava há quase 20 anos.

Para quem assistiu às entregas dos mundiais de futebol de 2018 (à Rússia) e 2022 (ao Qatar) nas condições em que tal ocorreu, só pode ficar ainda mais com a certeza de que tudo o que se passou foi demasiado mau para o futebol, e para os adeptos. E foi isso mesmo que a chanceler alemã, Angela Merkel disse: “A saída de Blatter é uma boa notícia
para os adeptos de futebol”. Também é sabida a apetência de determinados países europeus misturarem desporto com política; assim se passou com os boicotes dos EUA aos Jogos Olímpicos de Verão de Moscovo em 1980, e da ex- União Soviética aos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984. Já nos dias que antecederam a demissão de Blatter, especulava-se na imprensa europeia se EUA e países europeus não poderiam mesmo boicotar o mundial do “desporto-rei” em 2018, ou até realizar uma prova alternativa, em solo europeu, ao certame previsto para 2022, no Qatar.

O que se passará daqui para a frente? Ninguém sabe. Porém, o futebol, hoje em dia, continua a ser um dos “ópios do povo”, recuperando a expressão de Karl Marx. As autênticas “romarias” aos estádios de futebol, seja em que prova for, representam uma forma de estar, uma crença, um gosto pelo espectáculo que também simboliza a união das
pessoas à volta de algo. E se há algo que pode unir mais que dividir (para além do dinheiro, dirão alguns…) é o desporto. Não sendo este apenas mais um caso de corrupção no desporto, só nos resta aguardar pela devolução da dignidade ao futebol. Ou pelo menos, que não regresse ao estado deplorável
em que estava…

Nuno Araújo – Candidato às primárias do Livre/Tempo de Avançar