Fiquei velhinho aos cinco anos de idade…

Sempre ouvi dizer que aprender, aprendemos com os mestres e com os livros…mas a sabedoria, aprende-se é com a vida e com os humildes!

Para mim, viver é observar, fixar, aprender diariamente com todos os que nos rodeiam. Se calhar chamaria a isto de humildade!…Um sentimento adquirido lentamente pelo trabalho interior…um sentimento de extrema importância, que nos faz pensar que não somos mais que ninguém…e assim aprender mesmo com o mais velhinho ou ainda por ele sermos surpreendidos! Pois bem, foi o que me aconteceu hoje! …Fui surpreendida com um romance, escrito por um idoso…pena tenho de não o publicar com a sua própria escrita, uma escrita desenhada, coisa que quase ninguém hoje em dia se atreve a fazer.

“O Romance da Minha Vida”

“A Infância”

“…Depois do nascimento, só a partir de uma certa idade, se começa a ter noção das coisas como é evidente! Como acontece com todas as pessoas, o mesmo aconteceu comigo

.Nasci em Fevereiro, no concelho de Chaves, distrito de Vila Real – Trás os Montes.

Tive um nascimento agradável, mas teve pouca duração, passados cinco anos, a assistir a uma diversão de outras crianças, fiquei imobilizado para sempre. Dirão algumas pessoas: Nessa tão tenra idade como poderia acontecer isso? Pois o caso relatado clarifica o assunto. Numa bela tarde de verão, numa eira  de fazer as malhadas de centeio, um tanto inclinada, havia ali um rodeiro de um carro de bois já inutilizado. Mas esse dito rodeiro, mesmo velho, sem o argolão tinha a ferragem de o segurar. Dois colegas, pouco mais velhos que eu, começaram a brincar com ele: opostos um ao outro, a fazer força, como já aqui foi dito, a eira era inclinada e o que estava em baixo desviou-se, eu que estava ainda mais abaixo a observar, encostado a uma parede, o rodeiro veio e tive a infelicidade que um dos cravos espetou-se na minha cabeça. Claro que o sangue apareceu rapidamente, como era de esperar. Os autores do crime, vendo-me banhado em sangue, retiraram o rodeiro e abandonaram-me. Eu a chorar naquelas condições, encaminhei-me para casa. Seriam talvez cinco horas da tarde, pela razão de encontrar uma senhora chamada tia Laura, o hábito lá da terra…ia pastorar o gado. Quando me viu disse-me em voz alta: Ai…Fagundes, como tu estás! Depressa abandonou o gado e foi-me levar a casa.

Ocorrendo este caso na época de verão, como os lavradores a essa hora andavam nos campos, simplesmente só estava a minha avó materna em casa, aliás era a única, pois não cheguei a conhecer a avó paterna. Quando anoiteceu todos regressaram a casa e encontraram-me naquele estado. Chamaram o barbeiro que por sinal era meu tio do lado da minha mãe, raparam-me a cabeça, lavaram-ma e começaram a tratar-me com remédios caseiros. É de assinalar que vivíamos distantes de Chaves dez quilómetros, com caminhos de cabras, não era fácil irem lá táxis. Aconteceu então que a fratura fechou rápido, e tudo parecia resolvido, mas passados dez dias deu-se a tragédia. Tive o que chamamos hoje de avc, tive uma paralisação do meu lado direito. A partir daí deixei de andar. Recordo-me de me levarem ao hospital transportado num animal ou seja num burro!

Os médicos só diziam: se tinham vindo na altura do acidente haveria probabilidade de não acontecer o que está á vista!

Depois na continuação do tempo limitava-me á dependência de alguém, usando a cama ou que me trouxessem para a varanda. Tinha que me limitar. Recordo ainda estar na varanda com uma ansiedade de voltar andar…tentava fazer “tem  tem”, para me agarrar aos balagustos, assim começava a mudar os pés…”

Esta é a primeira parte de “ O romance da Minha Vida”, uma história cativante, emocionante, escrita há bem pouco tempo pelo senhor Fagundes, que nos deixará em cada capítulo a reflectir… a vida coloca as perguntas! Nós temos a missão de encontrar respostas!…foi o que este idoso fez durante a sua caminhada até á data!

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Crónica de Aida Fernandes
A última Etapa