Fruta da Época

Numa semana em que foram encontrados, em várias lojas e mercearias do norte do país, 237 quilos de cocaína dissimulados em caixas de bananas, decidi voltar a escrever sobre a actualidade da política portuguesa. As bananas, procedentes da Colômbia, serviram para a ocultação da droga, e servem também de pretexto para esta mudança de tema relativamente às minhas últimas crónicas.

Surpreendentemente ou não, a banana tem origem asiática. Apenas no século XVI foi introduzida no continente americano, mais precisamente no Brasil, tendo sido levada até ali pelas caravelas portuguesas provenientes da Madeira e de Cabo Verde, e mantendo-se até hoje como a fruta eleição de muitos sul-americanos.

Embora a banana seja vista por muitos como um símbolo fálico e de virilidade, na religião Budista a banana é símbolo de fragilidade e impermanência. As escrituras de Buda comparam a mentalidade humana com uma bananeira devido à instabilidade de seu fruto, enquanto outros a descrevem como sendo o fruto do amor. É também a expressão popular utilizada para definir uma pessoa sem energia, um palerma. Deixo a interpretação que mais se adequa às linhas que se seguem a cargo do leitor.

Como se percebe pelo anterior parágrafo, as bananas da Madeira, uma das mais antigas castas mundiais, forjaram a sua reputação após anos e anos a serem apreciadas pelos mais exigentes paladares. Também da Madeira, embora com uma reputação menos unânime, provém Alberto João Jardim, actualmente e desde há mais de 30 anos, o Presidente do Governo desta região autónoma.

O presidente do Governo Regional da Madeira, não esteve, uma vez mais, à altura das verdadeiras embaixadoras da sua região, e não compareceu ao 11º Conselho de Estado dos mandatos de Cavaco Silva.   Ao contrário da originalidade e pureza das bananas madeirenses, Jardim apressou-se a culpar  o caos no cumprimento de horários que vai na TAP pela sua ausência.

Na informação atempadamente enviada à imprensa, o governante avança como causadora deste caos instalado a situação gerada pelo compromisso de voos programados pela transportadora nacional, sem no entanto ter assegurados as tripulações e aparelhos necessários à execução dos mesmos. O líder madeirense destaca ainda os incómodos e prejuízos para os portugueses em geral e para a economia da Região Autónoma da Madeira em particular, alertando também para os custos mais uma vez lançados sobre os contribuintes e para eventuais questões de segurança, fazendo notar que esta situação da TAP vem sendo adiada desde o início do regime democrático.

O trajecto de Alberto João Jardim na política portuguesa tem sido desde sempre bastante controverso, sendo habitual assistir a vários excessos de linguagem e falta de postura política, que a sua relação de proximidade com o povo madeirense acaba por fazer esquecer. Foi esse o caso do vídeo do Carnaval da Madeira, em que o líder insular, literalmente apanhado de calças na mão, vociferou insultos dirigidos a Lisboa e à Assembleia da Républica. Foi também o caso das declarações xenófobas contra chineses e indianos. Mas o simbolismo da ausência de uma reunião do órgão político de consulta do Presidente da República que tinha como objectivo discutir o pós-troika e os fundos comunitários bate todos os anteriores episódios. A seriedade da nota distribuída à imprensa acaba por ter o efeito inverso, soando apenas a desculpa de mau pagador e deixando transparecer a bandalheira em que vive a administração do arquipélago das melhores bananas do mundo.

Verdade seja dita,  Alberto João Jardim demonstrou ter mais vidas que um gato e nada abala o seu carisma. Mesmo depois de exposto o enorme buraco financeiro em que a Madeira está metida, Alberto João viu a sua posição reforçada e foi eleito para mais um mandato. O défice democrático de que falava Mário Soares (também ele ausente deste Conselho de Estado) tornou-se uma bola de neve e parece claro que os madeirenses não estão dispostos a dar o braço a torcer. Hoje em dia, Alberto João Jardim mantém-se no poder porque simplesmente os madeirenses não querem admitir o seu erro. E neste caso, tal como a fruta da época, o excesso de maturidade pode não corresponder a qualidade. Tal como algumas bananas, o tempo de Alberto João Jardim passou. Mas ao contrário das suas congéneres madeirenses, a sua reputação tem caído a pique.