Quando o futebol, em especial a rivalidade entre clubes grandes, influencia outras áreas

Que o futebol, apelidado como “desporto rei” em Portugal, influencia muita coisa, todos sabemos. Mas há algumas que são, no mínimo, caricatas.

A chamada “maldição de Ramsey” é uma delas. Cada vez que o médio do Arsenal Aaron Ramsey marca um golo morre alguém conhecido.  E, nos dias seguintes a um golo de Ramsey, todos correm o mundo à procura da figura pública que morreu. E, coincidência ou não, efectivamente há mortes. Mas também há mortes (porque a imortalidade só existe na ficção) quando Ramsey não marca. Esses são “amaldiçoados” por quem? Pela vida?

12049346_1017864674961294_9132677903243407181_nEsta é caricata, mas por outros motivos e nem sai do âmbito futebolístico. Mas sai do âmbito dos clubes, para o âmbito das selecções.
Todas as selecções que participam no Euro 2016 em França deverão ter um slogan que figurará no autocarro oficial da equipa. E não escapou aos olhares dos adeptos que uma das três frases disponíveis para escolha (“Um passado de glória, um futuro de vitória”) seja a mesma frase usada pelo SL Benfica na apresentação do treinador Rui Vitória. Obviamente, gerou orgulho por parte de muitos benfiquistas e desprezo pelos não benfiquistas, bem como por todos aqueles que, independentemente da sua preferência clubistica, acham que a selecção, por uma questão de imparcialidade, não devia usar aquela frase, nem sequer como candidata a slogan. Eu faço parte deste último grupo. Podem verificar no site oficial da UEFA, clicando aqui e depois escolhendo o nosso país nas bolas com as bandeiras.

A terceira e última situação que vou aqui enunciar é-me mais próxima, pois diz respeito à minha Associação Académica de Coimbra (AAC). Não confundir com a equipa que joga na Primeira Liga Sagres: para quem não sabe, a equipa que joga na Primeira Liga Sagres é a Associação Académica de Coimbra OAF (Organismo Autónomo de Futebol), organismo autónomo (com gestão independente) da AAC.
E a AAC organiza todos os anos a Queima das Fitas, através da Comissão Central da Queima das Fitas e Conselho de Veteranos. E há 2 anos consecutivos que a Queima das Fitas de Coimbra ganha o prémio para o melhor festival académico no Portugal Festival Awards. Ora, a organização decidiu dar destaque a esta distinção e usar nas redes sociais a hastag #rumoaotri, isto é, rumo ao terceiro ano consecutivo com a distinção de melhor festival académico. Aos olhos de muita gente, isto é um desrespeito pela AAC e AAC-OAF e uma clara alusão ao SL Benfica, que também ambiciona alcançar o terceiro campeonato consecutivo.
Das duas uma: ou quem escolheu o hastag não percebe nada de futebol e/ou foi ingénuo(a) a escolher; ou quis aproveitar a coincidência para criar a confusão (e a ira) nas redes sociais. Se foi esta a opção, foi claramente conseguida. Mas, a meu ver, um tiro no pé, de qualquer das formas. É demasiado arriscado associar, mesmo que não deliberadamente, a imagem da Queima das Fitas a um clube como o SLB que, embora tenha muitos adeptos, tem também muitos anti-adeptos. Para já não falar que a própria AAC tem, através do OAF, uma equipa profissional de futebol na Primeira Liga Sagres e, através da secção de futebol, uma equipa de futebol no recem renomeado Campeonato de Portugal Prio, série “E”.
A única associação (ou ligação) que a Queima das Fitas deveria ter era à “prata da casa”, às secções e organismos da AAC e estabelecimentos de ensino. Eventualmente e pontualmente a organismos da cidade. Com esta “brincadeira”, vê-se no meio de uma polémica pelos piores motivos. Se ao menos servisse para promover a queima, o mal era menor. Mas pelo “ruído” que vi na página de Facebook oficial, só está a dar criticas para a Comissão Central.

Crónica de João Cerveira

Este autor escreve em português, logo não adoptou o novo (des)acordo ortográfico de 1990