Futebol – uma visão estruturante – Francisco Capelo

Portugal podia perfeitamente chegar lá. Portugal, se fizesse os seus trabalhos de casa, chegava lá de certeza. “- Mas chegar onde?”, perguntam-me. Ao restrito e milionário clube dos países mais poderosos do futebol europeu, claro está. Um clube que movimenta a grande fatia dos lucros de um negócio de muitos, de imensos milhões. Ora, este selecto clube é actualmente composto por:

Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e talvez talvez França, com imensa boa vontade. E tudo o resto à volta é apenas paisagem, não duvidem.

Comecemos pelas ligações históricas a outros países, fornecedores da tão necessária “mão de obra especializada”, leia-se: jogadores de futebol.

– França tem a África francófona, que produziu praticamente sozinha uma selecção campeã europeia e a seguir mundial, um grupo de jogadores que jogavam quase todos no estrangeiro, obrigando o treinador da selecção a ignorar completamente um campeonato que historicamente sempre foi fraquíssimo, tirando o caso do Marselha- versão Tapie e Paris Saint- Germain de Artur Jorge;

– Itália faz de ligação a um certo Oriente, tem o célebre e universalmente odiado catenaccio, a táctica “terrorista” da defesa a todo o custo, tendo ganho o penúltimo mundial à conta disso e pouco mais;

– A Alemanha é quase sempre um dos finalistas tradicionais de mundiais de futebol, indo buscar jogadores sobretudo à Turquia e ex- “países de leste”;

– Inglaterra aposta na prata da casa mas também pesca em Espanha altos valores – El Nino, Fabregas, etc, e tem uma selecção em banho- maria há demasiados anos, talvez pelo errado casting de treinadores em final de carreira, mas o seu campeonato de clubes é dos mais poderosos a nível global – de facto apenas a Espanha lhe faz frente;

– Espanha contrata tudo o que de óptimo mexe à sua volta, pois Barça e Real são os colossos unânimes que toda a gente conhece e com os contratos milionários que as televisões são obrigadas a aceitar podem dar-se a esse luxo; já a selecção foi campeã europeia e agora mundial, portanto estamos conversados;

Quanto a Portugal, conta com um acesso directo e total a esse gigantesco e inesgotável filão de ouro puro que dá pelo nome de Brasil, o mítico país de Pelé, Garrincha, Zico, Ronaldo e Ronaldinho e Romário e Bebeto e um nunca mais acabar de nomes que produziram o futebol mais atraente e a única selecção pentacampeã deste planeta chamado Terra. Temos ainda a Argentina, e quase toda a América do Sul, e a estranhamente muito poucos vezes utilizada “escola de talentos” das ex- colónias africanas, que já nos deu “monstros” tão talentosos como Eusébio, Coluna e muitos etceteras. Ou seja, a placa giratória inflaccionada europeia começa, não em Espanha como se pensa, mas aqui mesmo, neste país à beira- mar plantado. E o nosso campeonato, não me venham com histórias auto- destrutivas, é bem mais forte e competitivo que essa fraude ambulante chamada campeonato francês, e estou plenamente convencido de que pode inclusivamente ombrear taco a taco com o alemão, suplantando-o a muito curto prazo.

Aliás, nos últimos anos, chegámos a umas 5 ou 6 fases finais consecutivas, entre europeus e mundiais. Mas, como eu dizia no início, Portugal tem de se pôr a jeito para que tal aconteça, tem de fazer primeiro os seus trabalhos de casa.

Já temos os elementos estruturais nos lugares certos:

– O maior agente de jogadores há mais de uma ou duas décadas – Jorge Mendes;

– Alguns dos mais talentosos jogadores do mundo nas suas respectivas posições: Cristiano Ronaldo; Nani; Simão Sabrosa; agora Bébé; Eduardo, Coentrão, etc etc etc;

– Uma selecção nacional que, mal ou bem, costuma andar no top- 10 mundial e que até esteve no 2º lugar mundial há pouco tempo (misteriosamente, mas esteve!);

– O melhor treinador de futebol do mundo, inquestionavelmente, é português – José Mourinho;

– Temos 2 ou 3 equipas de topo europeias: Porto, Benfica, Sporting e agora Sporting de Braga.

Ou seja, aparte o nosso lendário autismo, o mundo exterior está completamente ávido de tudo o que é português!! Eu vou repetir: completamente ávido, ávido de notícias sobre o Portugal desportivo! Portanto só nos falta agora fazer os tais TPC, pois estamos nos últimos 200 metros da maratona, e para ficarmos num lugar que dê acesso às medalhas, precisamos de um sprint final, para ultrapassar dois ou três adversários directos.

Vou agora enumerar esses TPC:

– Pacificar de uma vez por todas as relações institucionais entre Porto e Benfica;

– Não permitir concorrência desleal entre clubes e promover a troca de jogadores entre os grandes – e todos os outros;

– Fomentar a competitividade desportiva e inclusivamente desincentivar a que o mesmo clube ganhe demasiadas vezes seguidas (ao contrário do que se pensa, isto significa que ganham todos, e também uma maior visibilidade externa e um mais eficaz marketing do nosso campeonato, apesar de ser um fenómeno praticamente impossível de prever e viabilizar; o comentário de Ferguson sobre o FC Porto estar habituado a ganhar campeonatos no supermercado é sintomático do que tem de ser feito…);

– Criar sites próprios para os 3 ou 4 jogadores mais talentosos de cada equipa – da 1ª e 2ª divisões, linkando-os a um site centralizador da própria liga, com fóruns em várias línguas, vídeos de jogadas espectaculares linkados ao YouTube, apresentações Flash de jogadas vistosas de vários jogadores, guestbooks, video- conferências ,etc;

– Deixar caducar os actuais contratos e de seguida os próprios clubes devem negociar directamente e em colectivo com as autoridades europeias e/ ou entidades que permitam acesso via web de grande parte do campeonato, permitindo assim o aproveitamento dos grandes milhões que correm nestas auto- estradas do poder desportivo europeu;

– Criar websites paralelos de marketing do campeonato, facilmente acessíveis via pesquisa google.

E acho que por agora já chega! Os (maus) alunos vão lá esfolando este coelho que a malta depois fala!

 

FranciscoCapeloLogoCrónica de Francisco Capelo
O Suspeito do Costume
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