Green Project Awards

Estive na atribuição dos prémios de 2014 e resolvi investigar o que são, o que distinguem, falarei também sobre os premiados de 2014 e que implicações reais têm os Green Project Awards no ambiente em geral, na sociedade e na sustentabilidade ambiental e se visam outros interesses para além dos anunciados.

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O que são…

Promovidos por uma empresa consultora de de comunicação privada, a GCI, têm como objetivo claro mais do que a promoção da economia verde o lucro e a potenciação das marcas e dos patrocinadores que estão associados a estes eventos. Os parceiros destes na organização desde o inicio e que contou já no ano de 2014, com a sua sétima edição, são para além desta empresa privada – que é claramente o motor do mesmo até porque parte dos seus rendimentos são obtidos por este projeto – a Agência Portuguesa do Ambiente e a Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza. Ao que parece já organizaram eventos similares, embora com parceiros diferentes e locais, no Brasil e com premiados em 2012 sucedendo em 2013 o evento de Moçambique e em 2014 o de Cabo Verde.

Assim e de uma maneira geral e o que se nota desde a primeira edição portuguesa é que têm como objetivos contínuos uma grande colagem à sustentabilidade empresarial – ou seja ao tipo de greenwash mais descarado que aliás foi motivo de chacota na edição de 2009 – mascarando isso com chavões como criatividade, inovação e eficácia e/ou e que geram informação com mensagem pró-sustentabilidade – objetivos de 2009 – dar visibilidade às entidades, empresas, pessoas e/ou instituições que identificaram uma oportunidade no apoio e promoção da sustentabilidade e que atuaram positivamente na construção do desenvolvimento sustentávelobjetivos de 2012. 2013 e 2014 – e notaram que as empresas vêm primeiro que as pessoas e/ou instituições, é que uma empresa de relações públicas de empresas está mais preocupada com as suas clientes empresas do que com as pessoas (objeto secundário) e instituições (objeto terciário). Depois lá se vê os mesmos slogans de sempre de que visam alertar a sociedade civil em torno da fragilidade ambientalobjetivos de 2008 – ou alertando e consciencializando a Sociedade Civil para a importância do equilíbrio ambiental, económico e social – objetivos de 2012. 2013 e 2014 – no fundo o ramalhete chega para que os objetivos fiquem compostos.

Mas a GCI – agência de comunicação empresarial – deveria ser alertada para que cada vez mais os comportamentos ambientais que visam o lucro mas que neste caso tentam ter uma aceitação mediática crescente têm mesmo que se começar a preocupar primeiro com as pessoas, depois com as instituições e só lá para o final com as empresas, é que é bonito ter filmes a mostrar como é que uma empresa campeã em multas ambientais é muito verde, e chamar os administradores destes para as fotos e para as entregas dos prémios e que isso fica sempre bem no CV dessas empresas, nos seus relatórios de sustentabilidade, páginas de Internet e noticias internas e externas de modo a potenciar o branding, communications, corporate reputation, digital, innovation, measurement & evaluation, people match, public affairs, sustainability & CSR e territorial marketing, que são os produtos/serviços oferecidos pela GCI, mas que se isso se sobrepõem tão descaradamente sobre o fim que pretendem atingir soa a falso e a forçado.

A entrega dos prémio de 2014 dos Green Project Awards foi este ano na Culturgest
A entrega dos prémios de 2014 dos Green Project Awards foi este ano, tal como no ano passado, na Culturgest

E que cada vez mais a generalidade do público sabe distinguir essas colagens forçadas do que é realmente importante e positivo, porque os Green Project Awards têm coisas positivas como tudo o que se faz nesta área e até têm evoluído no bom sentido, por isso a GCI deveria começar a trabalhar e a dar mais importância a esses aspetos e deixarem-se de mascaras e espelhos que só os descredibilizam bem como às empresas parceiras que promovem é que uma corporate reputation constrói-se com mensagens verdadeiras e uma verdadeira empresa de public affairs protege os seus clientes de criticas desnecessárias, uma delas é por exemplo o de escolherem empresas parceiras/patrocinadoras deste projeto/evento que não têm nada de sustentável e pelo contrário são campeãs em multas ambientais.

O que destingem e os premiados de 2014

Todos os anos os prémios dividem-se em várias categorias, começaram com três em 2008 e 2009 – Projetos, Investigação e Desenvolvimento (v. I&D), Comunicação – e contaram nesta ultima edição com sete – Agricultura Mar e Turismo, Produto ou Serviço, Iniciativa de Mobilização, Consumo Sustentável, Cidades Sustentáveis, Information technology, + Iniciativa Jovem e/ou Projeto 80 – pelo que me dá a entender algumas destas categorias nos próximos quatro anos irão ser fixas, outras irão intercalar com mais outras categorias – I&D, Gestão Eficiente de Recursos, Consumo Consciente – nas próximas quatro edições.

Estas sete categorias são quase todas muito ligadas às áreas do branding e communications empresariais mas de entre as mesmas destaco três que fogem um bocado a esse espírito e que me parecem ser aquelas em que os Green Project Awards parecem ter alguma inovação e fugir do esquema de promoção tout court dos seus parceiros/patrocinadores:
Iniciativa de Mobilização: Embora seja uma área ligada à comunicação e que se presta muitas vezes a iniciativas de greenwash empresarial – aliás uma das menções honrosas deste ano foi para premiar um desses projetos – esta categoria tem um fim positivo se se conseguir afastar dessa atenção pois visa premiar campanhas, ações e outras iniciativas de mobilização da sociedade para o desenvolvimento sustentável e pormenorizam que as iniciativas candidatas têm que ter produzido impacto na comunidade e que têm que sensibilizar, informar e despertar a sociedade para o futuro sustentável. Se escapar de dar palco a projetos de greenwash empresarial poderá ser uma categoria muito interessante;
Cidades Sustentáveis: Esta categoria visa premiar projetos – programas, processos, produtos ou serviços – que tenham produzido impacte positivo no ecossistema urbano seja este comunidades urbanas, espaços públicos, infraestruturas ou simplesmente a sociedade civil que compõe a urbe e os projetos tem que se centrar no sentido de melhorar o metabolismo das cidades e a qualidade de vida dos seus habitantes, promovendo o desenvolvimento dos centros urbanos, ao nível das várias dimensões da sustentabilidade, económica, social e ambiental. É uma categoria importante pois visa premiar boas práticas públicas e a dar visibilidade e algum incentivo a que estas se verifiquem e continuem a desenvolver;
+ Iniciativa Jovem e/ou Projeto 80: que visa premiar projetos de grupos de estudantes que estes possam desenvolver na sua escola e que respeite pelo menos um dos temas propostos, para o ano letivo de 2014/2015 os temas são: a gestão eficiente de recursos; a diminuição da pegada carbónica e hídrica; a biodiversidade; o empreendedorismo; a economia verde; a inovação social; o voluntariado ou outras formas de cidadania e participação pública. Para além de ser acompanhado por um site bastante interessante o objetivo é bastante positivo pois tudo o que implica mobilização, trabalho em grupo e pensar no ambiente incluindo jovens na equação é sempre positivo.

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Entrega do prémio Obra Escrita Original Green Project Awards pela obra Pay-As-You-Throw a Dalila Sepúlveda

Também se atribui o Prémio Obra Escrita Original Green Project Awards que premeia a melhor obra original na área da sustentabilidade seja esta de natureza académica e científica ou outras obras originais na área do ambiente e da sustentabilidade sendo o prémio a publicação desta obra por uma editora. É um prémio muito positivo quando visa promover obras originais que não estão ligadas a nenhum dos seus parceiros/patrocinadores como aconteceu no ano de 2013 (com a EPAL patrocinadora através do grupo de Águas de Portugal a ter uma obra intitulada Bem Público – Valor Público. A Educação para os valores ambientais no Museu da Água da EPAL como a premiada), em 2014 escaparam a essa lógica e atribuíram um prémio a uma obra verdadeiramente original e inovadora, intitulada, Pay-As-You-Throw – a descrição de uma inovadora proposta para a aplicação de um sistema de pagamento de deposição de resíduos que beneficia os cidadãos que promovam a reciclagem de resíduos indiferenciados – ensaio escrito por Dalila Sepúlveda que é a Chefe de Divisão dos Serviços Urbanos da Câmara Municipal de Guimarães, assim e não estando esta Câmara ligada de forma direta e patrocinando os prémios em questão denota-se que o que foi premiado foi a originalidade ao contrário fica sempre a suspeita (seja esta fundada e/ou infundada).

Não irei falar de todos os vencedores de todas as categorias (que podem consultar AQUI), pois seria fastidioso, irei apenas me referir aos três das categorias que já descrevi, mas antes gostava de dizer que deveria ser proibido candidaturas de parceiros/patrocinadores e que é uma prática lógica e generalizada em todos os prémios que conheço, pois afasta a noção de favoritismo com que algumas candidaturas partem, fazendo um cruzamento por alto entre os parceiros/patrocinadores do prémio e os finalistas encontro alguns nas várias categorias e pelo menos um deles venceu (de novo a EPAL que pertence ao grupo Águas de Portugal), acho que é ingrato para os outros finalistas concorrerem contra projetos que à partida têm uma vantagem sobre estes.

Os vencedor na categoria da Iniciativa e Mobilização foi a Coopérnico a primeira cooperativa Portuguesa de energias renováveis e cidadania e que tem como missão envolver os cidadãos e empresas na criação de um novo paradigma energético renovável e descentralizado em beneficio da sociedade e do meio ambiente, o seu projeto defende um modelo energético renovável, justo e responsável que contribua para um futuro social, ambiental e energeticamente sustentável. Na categoria Cidades Sustentáveis, o vencedor foi a Câmara Municipal de Águeda com o projeto À Procura da Excelência, em termos resumidos este visou a qualificação dos espaços verdes, o aumento do espaço público para os cidadãos com menos tráfego, pistas clicáveis, pista check-up e o centro de marcha/corrida, a promoção da economia local e do empreendedorismo nomeadamente dos artesãos e por fim a promoção de uma Smart City aumentando a eficiência energética com entre outros projetos um sistema de gestão inovador e o uso generalizado de LED´s na iluminação pública e nos edifícios da autarquia. Por fim e no + Iniciativa Jovem e/ou Projeto 80 o vencedor do ano letivo 2013/2014 foi um Grupo de alunos do Curso Profissional de Técnico de Apoio à Gestão Desportiva da Escola Secundária José Belchior Viegas com o projeto O Surf na Serra do Caldeirão que visou a reutilização de rolhas de cortiça como matéria prima ecológica e limpa na construção de pranchas substituindo a matéria prima especifica – poliuretano, maioritariamente importada – esta reutilização permitirá, para já, resultados semelhantes em termos de flutuação, diminuição dos custos de produção, reutilização de materiais e implementação de uma nova industria.

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Entrega do Prémio + Iniciativa Jovem e/ou Projeto 80 ao vencedor do ano letivo 2013/2014, o Grupo de alunos do Curso Profissional de Técnico de Apoio à Gestão Desportiva da Escola Secundária José Belchior Viegas com o projeto O Surf na Serra do Caldeirão.

Que implicações reais têm os Green Project Awards no ambiente em geral na sociedade e na sustentabilidade ambiental.

Um aspeto positivo e que têm alguma implicação na mudança de mentalidades são as conferencias temáticas que têm promovido ao longo do ano, positivas porque abrem momentos de reflexão, mas de resto é bastante limitada na sociedade civil esta influência, mesmo assim e a par das conferencias o + Iniciativa Jovem e/ou Projeto 80 é o que tem mais impacto fruto do road show que fazem pelas escolas a promoverem o mesmo e a promoverem também é claro os seus parceiros/patrocinadores.

O reduzido impacto também se estende às áreas do ambiente e da sustentabilidade ambiental empresarial pois as empresas já desenvolveriam estes projetos existissem ou não os Green Project Awards, mas poderiam ser maiores e terem uma verdadeira influência na sociedade civil transversalmente e no país se se focassem nas três áreas que referi, no Prémio Obra Escrita Original e também nas categorias Consumo Sustentável, Gestão Eficiente de Recursos, Consumo Consciente e no I&D, sendo que e em todas não pudessem ser aceites projetos empresariais e apenas projetos de cidadãos, instituições do sector social e cooperativo, ONGA´s e entidades públicas e de investigação e desenvolvimento. Deste modo premiar-se-ia verdadeiros prémios verdes e sustentáveis e não projetos que visam apenas aumentar o lucro e promover as marcas das empresas, a aceitação de projetos sem ser do sector empresarial motivaria de facto a apresentação de projetos inovadores e delineados apenas e só para esta candidatura dando o empurrão e a motivação que de outro modo não existiria. Até lá o que veremos é apenas uma tentativa mal disfarçada da empresa GCI arranjar e/ou manter os seus clientes/parceiros e com este processo fazer branding, communications, corporate reputation, public affairs, sustainability & CSR e territorial marketing à custa do verde e dos temas da sustentabilidade.

E não sei se isso é ético e/ou sequer justo para quem de forma generosa e desinteressada participa neste concurso!!!

Esperemos que esta perceba e mude o rumo errado que presentemente segue!!!