Guess Who’s Back? – Carla Vieira

Eu sou uma pessoa bastante peculiar. Não se nota, suponho, porque nós conseguimos mostrar apenas facetas da nossa personalidade dependendo de qual seja a nossa companhia. Isto significa que nem toda a gente conhece tudo o que nós somos e às vezes parecemos duas pessoas completamente diferentes dependendo de quem esteja a falar.

Eu acho, no entanto, que há uma coisa em que toda a gente pode concordar acerca de mim: a minha inegável admiração pelo Eminem. E como ele vai celebrar os seus (muito bem feitos) quarenta anos amanhã, porque não falar sobre ele?

Chamado Marshall Bruce Mathers III mas mais conhecido como Eminem, nasceu a 17 de Outubro de 1972 em Detroit. Tem o alias de “Slim Shady”, um alias que advém do seu constante abuso de drogas que causou um emagrecimento rápido, dando azo ao trocadilho das palavras magro, sombra, e mau. Casado e divorciado, tem uma filha chamada Hailey da sua ex-mulher Kim, mas também alberga em casa a sua sobrinha Alaina e outra filha da ex-mulher, Whitney.

A sua carreira começou em 1996, quando eu tinha seis anos, com o álbum “Infinite”, que gerou muita polémica por causa das letras das músicas. Em 1999 lançou uma bomba com os seus dois álbuns, “The Slim Shady LP” e “The Slim Shady EP”. Ninguém estava preparado para o single “Guilty Conscience” que muitos acharam era o terror da América e causou ainda mais polémica devido ao conteúdo e à mensagem: é uma música baseada nas conversas metafóricas entre o anjo e o diabo dentro da cabeça de um homem que bebeu demais, tomando Eminem o lugar de diabo e vencendo a discussão contra o anjo, o que acaba em violência. Em 2000 veio o mais sombrio “The Marshall Mathers LP”.

Foi quando o meu primo mais velho pôs o CD a tocar que que eu percebi que nunca mais iria largar este homem. Ainda não sabia inglês suficiente para traduzir as letras mas pouco tal me interessava. A paixão na voz dele, as misturas de música, a maneira como se fazia ouvir tão zangado mas ainda assim com inteligência… Arrebatou-me. O dueto entre ele e a Dido intitulado “Stan” tornou-se icónico e o personagem Stan com tempo iria-se tornar o símbolo e o nome de todos os que seguem o artista ao longo das décadas.

Dois anos depois chegou talvez o mais falado álbum nessa altura, o “The Eminem Show”, que continha não só baladas e melodias mais fortes como músicas irreverentes e muitas vezes mal interpretadas como tendo mensagens pró-drogas e anti-homossexuais. Desse álbum obviamente se destaca o single “Without Me”, que até hoje continua a estar nos tops. Foi um álbum lançado entre o início e o que muitas pessoas viram como o fim da carreira do Eminem, o chamado álbum do ponto alto da carreira. Lutando contra a depressão com o uso de drogas, o rapper conseguiu lançar o álbum “Encore” depois do qual se retirou para (o que parecia ser) “sempre”, tendo como objectivo lutar conta a sua dependência.

Durante cinco anos não se ouviu falar dele a não ser brevemente aliado ao álbum dos seus companheiros o qual ajudou a produzir: “Eminem Presents: The Re-Up”, mas voltando muito rapidamente as costas à fama e escondendo-se de tudo e todos.

Finalmente em 2009 chegou às prateleiras o álbum “Relapse” que se destaca pelo conteúdo sombrio e malvado a alinhado a histórias de terror e morte. Foi claramente chamado “Relapse” para ilustrar o estado de mente do rapper aquando da sua dependência. Embora tenha sido internado numa clínica de desintoxicação, ainda era notável a influência dos maus tempos. Tinha planeado fazer mais um CD, mas tal acabou por não acontecer dado que o artista queria seguir outra (menos medonha) direcção. Criou o “Relapse: Refill” com as músicas que já tinha gravado e em 2010 presenteou-nos com o seu último álbum, “Recovery”. Sem skits, sem Slim Shady, apenas Eminem. Entra aqui a controvérsia entre fãs que discutem o “velho” e o “novo” Eminem, comparando singles antigos com músicas novas e sem chegarem ao mínimo consenso. E assim chegamos a 2012, com o CD a arrefecer e muitos projectos em pausa.

Este é o seu processo artístico. O que é que tem a ver comigo? Eu só ouço as músicas. Nunca fui a um concerto dele, nunca o vi com os meus olhos, nunca o toquei, nunca o conheci. Como todos os fãs, é esse o meu maior desejo, mas suponho que tal não acontecerá (embora me custe muito e a esperança seja demasiado forte!). E as pessoas não percebem porquê. Por que é que gosto das músicas dele, por que é que me identifico. Não conseguem discernir a verdade da brincadeira e acham que ele renega as mulheres porque lhes chama nomes, não gosta de homossexuais e é um toxicodependente. Está tudo muito certo, mas o que as pessoas se recusam a ouvir são as músicas mais calmas, as músicas em que ele expressa um carinho e um amor tão grande pelas filhas dele, as músicas em que ele se exprime acerca da depressão e o suicídio, as músicas em que ele realmente salva vidas.

É muito bonito criticar aquilo que não se conhece, ainda por cima quando se trata deste homem. Claro, com tantos fãs, tantos seguidores, há-de haver qualquer coisa para se desculparem de não gostar. Com certeza. Profanidades, sexo, violência. Coisas que ai jesus. Amor, carinho e emoções é que ninguém vê, toda a gente é cega.

Eu não sei, mas já sigo a carreira deste homem desde que era pequeniníssima, e sou hoje uma pessoa completamente formada e sem morais distorcidas. Não fumo, não bebo, não uso drogas, não uso armas nem sou violenta e não me oponho à sexualidade de ninguém. Considerando que o Eminem é o meu ídolo, acho que isso poderá dizer alguma coisa. Afinal de contas, as pessoas mudam.

diferença

Digo eu.

E digo mais: feliz aniversário, Marshall, e que contes muitos, muitos mais.

“Truly yours,
your biggest fan,
This is Stan.”


Crónica de Carla Vieira
Foco de Lente