João Soares tramado por… João Soares

Li já imensas opiniões sobre este assunto na internet, desde logo, onde começou a polémica: no Facebook. Muitas delas dizem mesmo que João Soares vai ficar conhecido como o ministro que foi despedido por causa do Facebook.

Eu acho que ele não foi despedido por causa da rede social. O Facebook foi apenas um meio de se expressar. Se não tivesse sido ali, teria sido noutra rede social, num café ou num evento qualquer. Depois alguém teria “vendido” a informação ao “i” ou ao “Correio da Manhã” e o resultado final seria quase o mesmo.

João Soares não é conhecido por ser o mais cuidadoso e ponderar bem as consequências das suas palavras. Pessoalmente já não tinha achado, do ponto de vista institucional, que João Soares estivesse na apresentação de autobiografia de Carlos Cruz – que, relembre-se, aconteceu porque o ex-apresentador, condenado pela justiça à pena de prisão, teve uma saída precária de alguns dias -, nem que tenha pedido a um membro da igreja católica o milagre de haver mais verbas para o seu ministério. Embora possa parecer que há um João Soares cidadão e um João Soares ministro (legamente existe com certeza), todos sabemos que em politica e, especialmente, quem desempenha cargos de governação,  raramente pode “despir-se” das suas funções em eventos públicos. E certas atitudes e palavras não ficam bem a um membro do governo, por muito que, legalmente, seja legítimo ao mesmo, enquanto cidadão.

Mas referia-me aos exemplos acima indicados, porque quanto às “bofetadas”, não é legítimo nem ao cidadão, nem ao membro do governo. Quando há diferendos de opinião debate-se de forma civilizada. Quando há, como João Soares disse, insultos ou, acrescento eu, ofensas ao bom nome, a questão resolve-se nas instâncias adequadas, os tribunais. Não se oferece “bofetadas”.

Por isso concluo que o único responsável pela inevitável demissão do Ministro da Cultura foi ele mesmo. Ninguém, a não ser o próprio, iria achar normal tais palavras. E pior ainda o pedido de desculpas esfarrapado e forçado que fez depois.

Crónica de João Cerveira

Este autor escreve em português, logo não adoptou o novo (des)acordo ortográfico de 1990