A justiça do CM e a justiça dos Outros

Por muito estranho que possa parecer o titulo, parece que há uma justiça diferente para o grupo proprietário do Correio da Manhã e outra para os restantes cidadãos. Pelo menos, na ideia da referida empresa.

Vários processos em tribunal contra esta empresa – os mais mediáticos são os de Cristiano Ronaldo contra o CM – permitem concluir que os editores têm muita dificuldade em perceber que mesmo as figuras públicas têm direito à privacidade. E têm também muita dificuldade em entender a diferença entre o que é interesse público e interesse do público. Isto porque é muito rentável dar aos leitores e/ou espectadores tudo o que querem saber (o interesse do público), mas, entrando na esfera privada de cada um, torna-se uma violação ao direito à reserva sobre a intimidade da vida privada.

Mas o que me leva a opinar sobre este assunto foi a acção da empresa depois de uma equipa de reportagem da estação de televisão da mesma ter sido alegadamente assaltada e ter sido furtado um microfone. E o caríssimo leitor deve ter pensado que, tal como qualquer cidadão ou instituição, foram à esquadra mais próxima e apresentaram queixa. Eu não li em lado que apresentaram queixa numa esquadra, mas a empresa fez questão de publicar uma carta enviada à Ministra da Administração Interna (pode ver aqui). Sim, à Ministra. E o que é que a Ministra respondeu? Que compete, obviamente, ao Ministério Público investigar e, por isso, encaminhou o caso, como faz com todos os relatos de natureza semelhante que chegam ao Ministério.

Agora pense um pouco se, de cada vez que existe um alegado crime praticado, cada cidadão ou instituição enviasse uma carta ao Governo. Só era bom para os CTT, em termos de negócio. E isto acontece porquê? Na minha opinião porque o CM quer fazer render a noticia e faz, como diz a sabedoria  popular, “um tempestade num copo de água”, porque enquanto a carta vai e vem a resposta, são mais algumas peças e artigos que se fazem sobre o assunto e são mais audiências e jornais que se vendem. A sede de fazer dinheiro (percebe-se pela noticia de Abril do ano passado do JN, com o titulo «Grupo dono do “Correio da Manhã” penhorado por dívidas») leva a que publiquem aquilo que não deveria ser publicado e que inflamem assuntos que deveriam estar a ser tratados à porta fechada, nas instituições de investigação criminal. Bem sei que uma empresa precisa de fazer dinheiro para subsistir, mas o jornalismo não tem limites éticos?

Crónica de João Cerveira
Este autor escreve em português, logo não adoptou o novo (des)acordo ortográfico de 1990