Lá na minha terra… – 2011, o ano do povo

Lá na minha terra, 2011 foi apenas mais um ano, sem grandes mudanças e sobressaltos, os sujeitos do costume, as conversas habituais, os mesmos autocarros de sempre, mas a meu ver 2011 foi um ano rico, não em termos monetários mas no que toca a acontecimentos marcantes. Esta semana o Google Zeitgeist realizou um vídeo com os momentos mais marcantes do ano a nível mundial, um vídeo que nos faz recuar num passado recente, daí a crónica desta semana ser sobre este ano que para muitos é para esquecer. Penso no ano de 2011 como um ano de divergências, revoluções, mortes, inspiração, catástrofes naturais, crise económica… mas acima de tudo como um ano do povo. Decidi, então, escrever sobre o que este ano nos trouxe e sobre aquilo que nos preparou para o ano que vai entrar. 2012 é o ano do fim do mundo, mas parece que 2011 nos preparou bem para o caos.

Este ano foi um ano revolucionário que conduziu à conquista e esperança para muitos e à derrota eterna para outros. A Primavera Árabe foi o ponto de partida para a liberdade. As revoluções no Egipto e na Líbia correram o mundo, tocaram o mundo. 2011 foi também um ano de mortes marcantes: Bin Laden e Muammar Kadhafi foram duas perdas humanas, mas duas vitórias da humanidade. O ano ficou ainda marcado por partidas inesperadas de personalidades que a todos dizem algo, mesmo indirectamente. Angélico, para mim a perda mais inesperada, fez milhares de portuguesas chorar, Amy Winehouse fez-nos a todos repensar na vida boémia e de risco, mas fez-nos lamentar pela perda “daquela” voz, Steve Jobs fez-nos sonhar e acreditar em ir mais longe, a actriz Linda Silva fez com o mundo do espectáculo teatral perdesse beleza e Cesária Évora deixa-nos com “sodade”. Foi ainda o ano em que se tomou consciência que as doenças dos pobres afectam os ricos, como é o caso do Reynaldo Gianecchini, do Lula da Silva ou de Artur Albarran, que lutam contra o pior dos males do nosso corpo.

As catástrofes naturais marcaram de igual modo este ano, destacando-se as cheias no Brasil, na Austrália e na Tailândia que deitaram por água abaixo a vida e os bens de muitos, o furacão Irene que fez abanar o continente americano, os sismos na Turquia, no Chile e na China – este acompanhado de um tsunami – que tremeram e quebraram a resistência de outras tantas pessoas. O desespero de muitos fizeram notícia e manchete, fizeram correr tinta e ajuda. No entanto, 2011 foi ainda um ano de inspiração. A internet contemplou-nos com vídeos e imagens que fazem crescer em nós a esperança de um mundo melhor. Desde a rapariga que ouve pela primeira vez após anos, ao soldado gay que diz ao pai ser gay, à pequena Joana que vai receber uma mão biónica para poder brincar como e com as outras crianças, até à lutadora Safira que venceu o cancro da forma mais inesperada, mesmo contra a lei da medicina.

Para nós portugueses, 2011 foi um ano de mudança mas principalmente de sofrimento por antecipação. A crise económica tocou-nos a todos, o movimento Ocupa Wall Street alastrou-se pelo mundo e o movimento dos indignados fez furor em Portugal. O orçamento de emergência nacional ligou o botãozinho de desespero em cada um, os cintos não apertam mais e o tempo dos pequenos luxos acabou de vez, a Troika pôs o Zé Povinho a contar os trocos e a ver os tostões desaparecer. Foi o ano em que descobrimos buracões numa ilha pseudo-dependentemente independente de Portugal continental. Quase dez anos após o seu nascimento o Euro está por um fio e o escudo parece cada vez mais seguro, um seguro que de segurança não traz nada. 2011 foi para nós um ano de “se”, “talvez”, “se não” e “não vão ser tempos fáceis”, foi um ano em que o povo se fez ouvir, se manifestou e se indignou. Em Portugal este ano foi maioritariamente “económico” no sentido de tema do dia e falta de dinheiro.

A revista Time destaca o manifestante como personalidade deste ano, o homem como capaz de mudar e querer fazer melhor, o homem como senhor do chão que pisa. Para mim, é a escolha acertada pois 2011 foi, acima de tudo, o ano do povo, o ano em que o pequeno cidadão fez a diferença, o ano em que o homem se fez Homem, mas também o ano em que o povo se fez geral e a crise afectou não só os pobres mas também os ricos, o povo no sentido mais amplo da palavra. Seja em Portugal, na França, na China, no Brasil ou mesmo lá nos confins, o homem unido conseguiu fazer a diferença e sentir a diferença, é hora de fazer mais buracos no cinto ou então apertar de vez as calças, e que este espírito de guerreiro continue em 2012, talvez assim teremos um ano menos escuro, um pouco cinzento, mas com algumas abertas.

Nota: http://www.youtube.com/watch?v=SAIEamakLoY, aconselho a ver.

Crónica de Daniela Teixeira
Lá na minha terra…