Lamento, comi carne na Quarta-feira de Cinzas

Ontem, Quarta-feira, dia 1 de Março de 2017, Quarta-feira de cinzas, primeiro dia de Quaresma, quarenta dias antes da Páscoa ( os Domingos não contam, não sei porquê mas também não interessa ), dia de abstinência e de jejum,  assim como todas as Sextas-feiras anteriores à Sexta-feira Santa, quarenta dias em que os fieis se dedicam à oração e à caridade, como forma de compensar o sofrimento de Jesus, terminando este sacrilégio religioso no derradeiro Domingo de Páscoa.

Para que os miúdos entendam como funciona isto da Páscoa, enquanto eles limpam o ranho à camisola do amigo, nós podemos dizer o seguinte: Houve um tipo, provavelmente um  padre pedófilo, que resolveu inventar uma historia absurda sobre outro tipo, com o intuito de fazer o povo acreditar que, rezar, fazer sacrifícios, não comer carne, entre outros disparates, os convertia em boas pessoas e, lhes garantia um lugar seguro no céu, mesmo que eles fossem uns filhos da puta cá na terra ( uma casa com sistema de video vigilância no meio das nuvens, teria como vizinhos a Madre Teresa de Calcutá e os três pastorinhos ). Esse tipo chamava-se Jesus Cristo ou Jesus para os amigos, seus pais José e Maria (nunca se soube até hoje como é que esta criança foi concebida) eram pais exímios. Jesus, um tipo cool, já pensava muito à frente e usava barba, que é a tendência masculina de 2017. Jesus resolveu andar pelos desertos, descalço, semi nu e com uma cruz gigante às costas, um tipo marado este Jesus, o “people da zona”, que não gostavam dele porque ele era bué diferente da malta toda, quem é diferente da sociedade em geral não é aceite e, enfardou até ficar sem forças . Não satisfeitos com a sua crueldade, os fulanos prenderam Jesus à cruz com pregos, colocaram-lhe uma coroa de espinhos na mona e, deixaram-no a mercê da sua sorte…Jesus morreu na cruz. Mas, eis que, o milagre acontece, Jesus ressuscita. Pensávamos nós que, Jesus se iria vingar como o actor Liam Neeson, o ex agente Bryan Mills no filme Taken, mas Jesus perdoou todos os seus fieis, com um “hi 5” e uma expressão que ainda hoje se utiliza “tá-se bem mano, na boa bro, eu perdoou-te, foi só uma chicotada, tipo, não doeu nada!”, criando assim um culto de milhões de devotos.

Resumindo esta comovente historia que já fez enriquecer muitos bolsos e empobrecer muitos mais, a chamada Quaresma, são quarenta dias de puro êxtase para os católicos, onde as rezas, as penitencias, as orações, bla, bla, bla, são o mote para a “party”. Inicia na Quarta-feira de cinzas que, juntamente com as Sextas-feiras, é obrigatório a abstinência e o jejum, oxalá que a abstinência sexual não esteja incluída na lista das obrigações, não se pode comer carne, portanto, quem a comer e não quiser arder no inferno, pode sempre ir pedir desculpa ao Padre da Freguesia, rezar três pai-nossos, duas avé-Marias e deixar uma oferenda monetária à igreja ( eu fiz isso e resultou, senti-me mais leve…com menos cinco euros no bolso ). O melhor disto tudo é que Sexta-feira Santa é feriado nacional, graças a Deus! Domingo de Páscoa é dia de enfardar amêndoas e pão-de-lo, cabrito na mesa com tios e avós, assistir na televisão a um filme de desenhos animados que já deu cinquenta vezes e, claro, vestir o melhor fato para ir à missa…apesar de não por lá os pés o ano todo, apesar de ser um cabrão para a família, apesar de ser um besta para os filhos, apesar de ser uma tipa mundana, apesar de estar na missa a desdenhar o colar de pérolas da velha ao meu lado, apesar de tudo isso, eu vou à missa, porque, nesta sociedade, o parecer é mais importante que o ser.

“…pois tu és pó e ao pó tornarás.”

(Algures na Bíblia, acho eu )