Last Vegas – o filme dos velhos que os novos têm de ver

Adoro cinema. Assistir a um filme no cinema ou no conforto de casa é uma das minhas grandes paixões. Julgo que todos nós temos esta grande paixão. O ultimo filme que assisti ( há dez minutos atrás) foi o Last Vegas – Despedida de arromba, com actores veteranos como Michael Douglas, Morgan Freeman, Kevin Kline e um dos meus preferidos Robert De Niro.

O filme é sobre um grupo de amigos com setenta anos de idade que já se conhecem desde a infância, um deles vai casar e resolvem fazer a despedida de solteiro em Las Vegas. O filme retrata humoristicamente a enorme dificuldade que os homens têm em lidar com a idade, com o passar dos anos, com a velhice.

Alguém sábio e experiente, disse-me um dia destes, que o cérebro adapta-se ao avançar da nossa idade em forma de, não sei se é a palavra certa, resignação, porque se assim não fosse ficaríamos loucos.

Eu não sei se vou ficar louca amanhã ou daqui a cinquenta anos, a única certeza que eu tenho é que não vou lidar bem com a velhice. Velhice por si só, é um termo triste, negativo e pesado. Não vale a pena colocarmos paninhos quentes sobre o assunto, porque a realidade está à frente dos nossos olhos! O corpo muda, transforma-se num labirinto de flacidez, o rosto fica enrugado, o cabelo fica fraco…eu não vou conseguir me ver ao espelho desta forma! Chamem-me fútil e arrogante, não me interessa, porque no fundo todos pensamos no mesmo.

Como vou viver se não haverá dinheiro para pagar as reformas? Como vou sobreviver se não haverá emprego para os meus filhos? Como vou criar uma conta-poupança para a velhice, se o dinheiro de hoje não chega para as despesas?

E se não tiver saúde, vou ser um emplastro para os meus filhos? Se eu precisar de cuidados, terei alguém para cuidar de mim? Eu não quero ser um estorvo para ninguém! Quero cá estar enquanto estiver em plenas condições mentais e físicas. Desculpem a minha covardia, mas não quero viver na velhice se for para viver na miséria.

O filme retrata a forma como um homem e uma mulher lidam com  o sexo aos 70 anos. Deve ser uma das situações de vida mais difíceis de lidar. Tivemos a vida toda para fazer amor, para termos sexo à grande e à francesa, mas chegas a um ponto da tua vida em que o corpo não acompanha o cérebro, não interessa se o viagra resulta ou não, porque na tua cabeça sabes que não é a mesma coisa do que há vinte anos atrás, nem nunca mais será.

Mas julgo que serão as lembranças que nos irão corroer por dentro. Relembrar quando os miúdos eram pequenos, o casamento, o divorcio, os jantares com amigos, as risadas na cama, as saídas para dançar, os amores, as desilusões…uma vida plena para relembrar enquanto se espreita as fotos e os vídeos. Pensar no que poderia ter feito que não foi feito, pensar nos diferentes caminhos que optamos por construir o nosso destino, no tempo que desperdiçamos, nas lágrimas que deviam ter sido poupadas, e nas palavras que nunca foram ditas.

Um filme que de velho não tem nada, que nos inquieta por entre as linhas do humor, sobre a realidade de sentirmos os anos a passarem e por vezes, talvez vezes de mais, a fugirem também.

Que se passou connosco? Ainda há cinco minutos atrás tínhamos 17 anos e já temos 70 anos! Como é que aconteceu? Eu não quero estar velho!

Michael Douglas, Filme Last Vegas

Crónica de Sandra Castro
Ashram Portuense