Ler: o crime da actualidade

Todos devemos ler. Todos somos instruídos na escolinha a ler, existem até livros obrigatórios para ler. Existe quem leia, como existe quem não leia, cada um faz o que quer ou o que gosta. Contudo todos sabemos, temos noção, dos benefícios que a leitura, ou ler, nos traz. No entanto e se a leitura de um livro e posterior discussão ou crítica do mesmo levar a que pessoas sejam presas e condenadas a penas de prisão efectivas?

Situemo-nos em Angola, séc. XXI. Um grupo de amigos, presumo eu, activistas (por acaso ou não) estariam a debater o livro de Domingos da Cruz (que se encontrava no dito grupo) – “Ferramentas para destruir o ditador e evitar nova ditadura: Filosofia Prática da Libertação para Angola”. Consequência? Foram presos, os 17 activistas, sob a acusação de atentado contra o Presidente Eduardo dos Santos.

Esta acusação acabou por cair mas ficou “provado” (coloco entre aspas porque tenho liberdade para tal) que os debates que o grupo faria não seriam para apenas ler o(s) livro(s). Além da prática de leitura, o grupo juntar-se-ia para concretizar actos de rebelião – isto dito pela acusação claro está.

Como é que 17 pessoas iam fazer uma rebelião? Como? E isso tudo com a ajuda apenas de um livro!!!!

A melhorar a situação, as penas de prisão são variadas, se calhar era porque dentro dos 17 uns tinham um papel mais activo do que outros na dita rebelião. Ora então para uns é 2 anos e 3 meses de prisão, para outros 4 anos e 6 meses, ainda 5 anos e 6 meses para Luaty Beirão e 8 anos e 6 meses para Domingos da Cruz, o autor do livros e presumível “líder” da organização criminosa (novamente segundo o que a acusação diz). Mas que raio?!! Penas de 5 e 8 anos para algo que não aconteceu? Nem começou?

O livro, segundo a pesquisa que fiz, fala sobre 168 técnicas e princípios de desobediência civil democrática e pacífica (pacífica ok????), isto adaptado de um livro americano.

Pensava eu que isto já não acontecia, afinal ando enganada. Onde está a liberdade de pensar, de dizer, de fazer (sem desrespeitar os outros) em Angola?? Ainda não terá chegado ao país com certeza. Será que só quando o Presidente Eduardo dos Santos sair é que a liberdade chegará? Não conheço a realidade, mas o não respeitar os outros causa-me sempre muita comichão.

Hoje escrevo sobre os 17 activistas condenados por lerem e discutirem um livro. Escrevo porque estou em Portugal. Será que se estivesse em Angola poderia escrever estas linhas? Pergunta que fica sem resposta…….