Mário Gomes, a estrela de Copacabana

Sou do tempo em que, por volta de meados dos anos oitenta, Mário Gomes era, ao serviço da Globo, o galã das novelas, nos braços de quem muitas mulheres mais velhas sonhavam acordar, na esperança de sentir a sensação de terem ficado uns anos mais novas.

Do tempo em que o ator adorava ir na praia “de calção reduzido para atrair as gatinhas e provocar inveja nos homens”, pouco mais resta, hoje em dia, do que a fama de ter sabido, tão bem como poucos, transpor da ficção para a vida real os atributos de conquistador. Diversas rugas marcam-lhe o rosto e nem os atributos físicos se comparam aos de antigamente, mas seria redutor da sua função, não lembrar que os músculos, agora flácidos, ainda ele continua a exibir, enquanto vende hambúrgueres na praia, como se fossem os melhores atributos de um carro que já leva muitos quilómetros feitos mas ainda se apresenta em bom estado de conservação e ainda pode muito bem constituir um excelente companheiro de viagem.

Mário Gomes foi, entre outros desempenhos, Nando em “Guerra dos Sexos” e um extravagante futebolista chamado Luca, em “Vereda Tropical”. Antes disso, estreara-se em “Gabriela, Cravo e Canela”, a partir do original de Jorge Amado, na pele do filho de um decrépito coronel, de quem o público feminino não ficou com tantas saudades como do olhar de intenso brilho do rapaz, de cujos olhos era como se viesse a luz no fundo de um túnel, capaz de guiar uma mulher em sua direção.

Recordo que sou do tempo em, por entre dar vida a personagens mais ou menos relevantes, a Mário Gomes, para se julgar merecedor de receber um Óscar da Academia, só faltaria ter-se enganado mais amiúde nas falas, como sucedeu na cerimónia de apresentação dos prémios deste ano. Merecedor do galardão ele já era, na opinião das fãs, para quem, ao galã, nada faltava para ser um príncipe, em quem podiam confiar para dar o coração depois de terem dado o resto.

Por causa da vaidade, foi apelidado de Estrela de Copacabana, mas não evitou que participasse no elenco de inúmeras telenovelas, antes de enveredar também por uma carreira musical, embora nunca conhecendo como compositor e vocalista dos “Supernomes”, o êxito alcançado a representar em televisão, através de cujo ecrã entrava na casa de tantas brasileiras que tão cedo não teria esquecido se tivesse tido o grato prazer de conhecê-las pessoalmente.

Não caiu com uma bomba a recente notícia de que este eterno galã vende presentemente hambúrgueres numa praia do Rio de Janeiro, não enverando por prosseguir a carreira de artista, na qual, certamente como fez com as mães delas e avós, continuaria a somar fãs entre as mulheres da nova geração.

À distância de Portugal para o Brasil, do tamanho do oceano que nos separa mas também une numa forma de chegar aos lugares mais remotos do planeta, desejo que seja feliz e que, independentemente do que possa, ao longo dos anos, ter dito ou feito, continue a surpreender-nos graças ao seu caráter extrovertido. Seja voltando a representar, a compor ou, simplesmente, por ter resolvido pegar numa toalha e ter-se deitado ao sol, que é uma outra forma de estar na praia a trabalhar … para o bronze.