Morrer com ajuda

Numa semana em que o Estado da Califórnia aprovou a morte (suicídio se preferirem) medicamente assistido e a mesma foi permitido por um tribunal a uma criança (ou pais da menina) de 12 anos em Espanha, que acabou por morrer no dia de ontem, a questão continua a ser polémica nos dias que correm.

Se há coisa que temos a certeza desde que nascemos é que iremos morrer. O como, quando, onde, acompanhados ou sozinhos é que não sabemos.

No entanto e infelizmente existe quem saiba que, mais cedo ou (ligeiramente) mais tarde, irá morrer de determinada doença ou complicações de tal. Uma doença terminal ou uma doença degenerativa para a qual não existe cura ou algum tratamento ou forma de atenuar os sintomas para manter (pelo menos) a qualidade de vida da pessoa é complicado de gerir – para todos, para quem sofre da doença, para quem cuida e acompanha a pessoa. E após anos, muitas vezes sem evoluções positivas (e até piorando o estado de saúde algumas vezes), o cansaço começa a notar-se, a pesar na pessoa cuidada e no cuidador. Daí que a ideia de terminar com o sofrimento de todos, com a pouca qualidade de vida (se é que se pode dizer que existe alguma) que têm, se coloque. Mas esta pouca vida é a que preço? De que forma isso será viver?

Assim o querer morrer de forma “digna” é uma possibilidade que passa pela cabeça de muitos (até de quem não padece de uma doença terminal). Só que como? Quem? Onde? Até que ponto isso é aceitável? Para quem quer morrer e para quem ajuda/quer ajudar?

Se “enquanto há vida há esperança” para quê querer morrer antes do tempo? e que tem o direito de querer isso? A própria pessoa? A família? O suicídio é sempre um acontecimento infeliz, como qualquer morte o é, com a perda de uma vida e onde na maioria das vezes não se entende a razão para tal acto. Mas e se houver “fundamentos” (presumo que haja sempre, mesmo que incompreendidos) para se morrer? Esta acção estará “desculpada”?

Pessoalmente, penso que deve ser desesperante saber que se tem algo para a qual não existe cura. E então saber que mais dia menos dia se vai ficar dependente de alguém até me faz comichão! Quem cuida, na maioria, sei que o faz como um acto de amor e carinho, só que ver dia após dia a pessoa a caminhar para o fim, sem conseguir fazer nada para alterar isso é…sei lá o que é.

A eutanásia ou morte/suicídio medicamente assistido pode “ajudar” nestes casos. Tornar a morte mais digna, sem desesperos (que os há sempre). Ajudar a morrer… Se existe ajuda para nascer, porque não também para morrer? É preferível ficar numa cama de hospital ligados a máquinas onde apenas elas nos mantêm vivos? Penso que não. Eu não quereria. Preferia escolher como morrer, e quando, e junto de quem.

Claro que a eutanásia não é aceite por toda a gente, como outros assuntos hoje em dia ainda não o são, só que não será esta uma forma de permitir um fim em paz? Morrer “tranquilamente” sem complicações de maior?

Mas a quem poderá ser permitido morrer de forma medicamente assistida? A toda a gente? Quem tem um determinado “prazo de via”, sem melhoras no futuro? O Estado da Califórnia, se não me engano, permitiu que quem tenha até 6 meses de vida e esteja consciente da sua decisão poderá medicamente assistido morrer.

Será que Portugal lá chegará? Permitir a morte medicamente assistida?

Tantas perguntas e tão poucas respostas. A morte, o morrer, é sempre um tema tabu. Porém existe e temos de ter, cada vez mais, consciência de tal. O futuro nos pertence…é aguardar (quem conseguir) ou morrer até lá, sem ajuda.