Não, não gosto do Natal!

Há um momento na vida em que se nos exige uma paragem: de reflexão, no sentido lato da expressão; do egoísmo quotidiano, identificativo da estrutura social moderna; do processo criativo, que nos move em artes pela arte que somos; da mentira, que, em ultima ratio, nos afaga – ou afoga, escolha você! – em tempos de ilusão.

Esta interrupção voluntária da labuta do motor social não só se exige como também se justifica pela incapacidade humana de respeitar os limites, que, graças a Deus são diariamente transpostos, pois que isto de se cumprir permanentemente a regra é chato e transforma a prática de viver numa experiência obsoleta.

Mais do que a exigência de parar – STOP! – impõe-se a necessidade desse intervalo, que, sem prejuízo para o consumidor compulsivo, é o Natal. O Natal que conhecemos não é mais que um momento de paragem, de tolerância – de ponto -, de paz, de rebéubéubéu pardais ao ninho. Todavia, as vicissitudes da correria urbana – de gentes que vão e vêm, para cá e para lá, sob subsídios repostos que já podem estoirar e bacalhau com todos e todos ao molho e fé em Deus -, ao contrário do que se espera, vão encontro dessa fantasia que é o amor, a fraternidade ou qualquer outra expressão-bonita-a-insistir-na-ideia-de-que-o-mundo-pode-ser-um-lugar-melhor. Vão, no fundo, ao encontro da hipocrisia que tão bem nos caracteriza.

O Natal, à parte a simbologia religiosa e a única que no meu entender deve ser respeitada, é uma festa social de um histerismo neolítico durante a qual uma série de instituições enviam mensagens de igualdade, que é como quem diz ‘’venham cá ao pai’’. As feministas aprovam uma qualquer adenda nova ao seu crescente estatuto de ‘’machonas’’ porque aquelas que já têm não lhes chegam, as ILGAS e melgas deste país promovem mais umas quantas ações cujo objetivo é enfatizar o… ai, é melhor parar por aqui; a corrupção cresce que nem ouro e incenso e mirra o bom senso e o senso comum aos que ainda acreditam na fantochada que é o Natal.

O Natal irrita-me, chateia-me, maça-me, aborrece-me, importuna-me, entedia-me, cansa-me, enfada-me, fatiga-me, esfalfa-me, incomoda-me, inquieta-me, constrange-me, acossa-me, amola-me, repele-me. O Natal estoira-me a paciência e a esperança.

É outra vez Natal, como no dia vinte e sete de junho será novamente dia vinte e sete de junho. Não acontece nada de novo.

Feliz Natal a todos!