Ó 25 de abril, tás a ficar cota!!!

A atual guerrilha entre ex-capitães do 25 de Abril e a maioria da Assembleia da República, apoiada pela Presidente, só me faz lembrar quando o velho está quase a morrer e os herdeiros galifões começam a zangar-se uns com os outros por causa da herança.

Ora, eis aqui a minha opinião:

1) Desde sempre que a esquerda deste país tentou reservar para si os galardões do mérito da Revolução dos Cravos. No entanto, esquecem-se de várias coisas. Entre as quais, porque a Revolução foi feita para o povo, para libertar o país de 40 anos de ditadura e iniciar um processo democrático. Depois, porque democracia significa “o poder ao povo” e o povo são todos os nacionais deste país, de esquerda ou de direita ou de centro, populares sem qualquer posição ou simpatia política, portugueses residentes e portugueses emigrados ou deslocados. A democracia, se for devidamente aplicada e vivida, até serve tanto para democratas como para autoritários, porque é para todos, sem exceção. Porque acha a esquerda que a revolução é sua? Pergunta o leitor! Penso eu que será devido ao facto de se pensar que a anterior ditadura seria de direita e, por conseguinte, havia que “matar” o anterior regime com um outro completamente oposto. E porque pensa a esquerda que a anterior ditadura era de direita? O Salazar alguma vez se definiu ideologicamente? Alguma vez afirmou peremptoriamente que era de direita? Não? Também acho que não. E porque a esquerda chamava e chama de fascista o anterior regime de Salazar. Fascista? Porquê? Havia perseguições e crimes racistas e xenófobos? Havia campos de concentração de separação racial? Não? Então porque chamavam fascista? Pelo que a história tem estudado até hoje, as prisões, os castigos e as penas, existiram de facto, mas sim para os opositores ao regime, verdade? Não em termos fascistas… verdade? Isso fez do regime “não democrático”, ao invés de fascista. No entanto, penso eu que o equívoco se prende com o facto de em Portugal, na esquerda portuguesa da época – visto que esses termos já foram felizmente ultrapassados – o fascismo ser considerado a oposição ao comunismo. E o comunismo, era o regime que muitos queriam implementar no país. Porém, a história já provou que nem com fascismo nem com comunismo, o mundo avançou e cresceu em paz, alguma harmonia e alguma solidariedade entre os povos. Por isso, bemvindos todos à democracia e à economia de mercado e à liberdade de expressão – sem a qual não poderíamos agora estar aqui a opinar.

2) A direita, após o 25 de Abril, teve sempre “medo” de se expressar e de o assumir. Se pensarmos melhor, o nosso país é praticamente único no mundo em termos de mapa político porque: temos inúmeros pequenos partidos à esquerda, na sua maioria radicais e portanto a esquerda real está esfrangalhada. Depois, temos ao centro dois grandes partidos PS e PSD, cujas políticas em termos ideológicos são semelhantes e, em teoria, deveriam situar-se também à esquerda. Por toda a Europa e algum do restante mundo, os socialistas, trabalhistas, sociais-democratas, representam famílias políticas idênticas. Depois temos poucos partidos cuja ideologia se possa considerar de direita, poderemos até afirmar que alguns nem sequer ideologia alguma expressam, mas são apenas “temáticos e humanistas” e temos o CDS, que (de nome) é um partido de centro, mas que normalmente é empurrado para a direita e de si próprio se defende como um partido “democrata cristão”, ideologia esta que, pela Europa e restante mundo é considerada de centro direita, mas que de facto, na minha opinião, a ideologia cristã (de Cristo), não possui quaisquer indícios que a façam inserir-se mais à direita ou mais à esquerda. Existem pessoas simpatizantes de todos os quadrantes políticos que são pessoas que professam fé cristã, independentemente da Igreja onde preferem inserir-se e isso está completamente correto, porque se analisarmos a doutrina de Cristo, há posições que até se definiriam melhor à esquerda (defensor dos mais pobres e humildes – trabalhadores, pecadores, etc. e mais condenatório à vivência e atitudes dos ricos e poderosos – portanto contra o capital e o poder corruptível dos homens). Dizia eu que a direita nunca se quis assumir, para que não fosse “colada” ao antigo regime. O primeiro programa do PPD de Sá Carneiro, até continha determinadas medidas de caráter marxista, portanto… está tudo dito!

Ora, teorias à parte, tendo o nosso 25 já 40 anos, idade portanto para ter juízo, muito mais juízo deveriam ter os seus autodenominados “pais” – os Capitães de Abril que, passados 40 anos, decidem por fim que querem falar no Parlamento e, contra todos os protocolos regimentais da casa da democracia, fazem birra se não os deixarem. Nada contra as pessoas falarem mas… fazer birrinha? Fazem lembrar aqueles avôs que infelizmente começam a ficar senis ou ou Alzeimer (perdoem-me os que de facto assim estão, tenho muito respeito e as melhoras para eles), mas é ou não verdade?

É verdade que a maioria e a Presidente podiam também ser um pouco mais flexíveis… tentar negociar sem ser na praça pública… etc., etc., é verdade que não está a imperar aqui o bom senso, mas é de ambas as partes e não só de um lado.

No meu tempo de estudante, dizia-se que a história só começa a escrever-se, passando a ser de facto “História” após decorridos 50 anos sobre os acontecimentos. Portanto, vamos lá ter calma! Ainda faltam 10 anos para que o 25 “passe à História” e por isso, que passe pelos bons motivos e não pelas baixezas que alguns dos nossos políticos e outros responsáveis por vezes fazem passar para o povo.

E depois não querem que o povo faça o mesmo e os enxovalhe na praça pública!

Vamos lá respeitar os cabelos brancos e as pequenas rugas que o 25 começa a ter e deixem-no viver em paz e, já agora, em democracia também!

Crónica de Rafael Coelho
A voz ao Centro