O caso Islândia – João Cerveira

Sinceramente, hoje não sabia sobre o que escrever. Porque, apesar de ser notícia o novo Orçamento e ser mau demais, não é nada que eu não tenha já escrito nestas minhas crónicas semanais. E não quero maçar quem me lê.

Mas há outro assunto “na berra”: a Islândia. Vejo dezenas de amigos meus a partilharem links nas redes sociais, falando do exemplo desse país.
Eu já li várias noticias sobre o exemplo o assunto e vi várias reportagens, a última das quais ontem, no “Sexta às 9” da RTP. E fiquei com a mesma ideia em todas: a Islândia não resolveu o problema, só o adiou.

Sintetizando, perante a crise em 2008, os principais bancos do país anunciaram a falência, o Governo pediram ajuda ao FMI e pagou apenas os depósitos dos islandeses. Os depósitos de britânicos e holandeses, que depositavam na Islândia atraídos pela promessa de juros altíssimos  ficaram a zeros, tendo os respectivos governos pago esses depósitos. Os governos britânico e holandês “mandaram a conta” ao governo islandês  que entretanto foi demitido. E um novo Governo “ensaiou” uma Lei que obrigaria todos os islandeses a pagar mensalmente 100€ mais juros, para pagar a divida aos estrangeiros. Os islandeses pediram ao presidente que referendasse essa lei e o resultado foi um redondo “não”. E os banqueiros e o primeiro-ministro julgados.

O que não é muito divulgado é que a Islândia tem moeda própria, o que permite “baixar o custo do dinheiro”, desvalorizando o moeda, coisa impossível aqui, pois não podemos desvalorizar o euro.
Também não é dito que o primeiro-ministro foi julgado mas absolvido em todas as acusações, menos uma, derivado a uma alteração na constituição feita já depois das decisões a que diziam respeito (situação impossível em Portugal e em muitos outros países, pois as Leis não são retroactivas).  E mesmo nessa condenação não teve de cumprir qualquer pena.
Dirão “pois mas e os banqueiros?”. Pois, mas aqui também o José de Oliveira e Costa, fundador do BPN (e ex-Secretário de Estado de Cavaco Silva) entre outros também estão a ser julgados.
Mas sem dúvida que a mais importante afirmação foi proferida pela autora da reportagem de ontem no referido programa da RTP: “[a Islândia] não pagou aos estrangeiros, mas provavelmente vai ter de pagar no futuro”. Acham que a Holanda e o Reino Unido não vão exigir à Islândia esse dinheiro?

E para terminar, e em jeito de ironia, vejo muita gente dizer agora “devíamos fazer como na Islândia e não pagar nada”. Muitas delas são as mesmas pessoas que ficaram indignadas quando viram na comunicação social que o Sócrates tinha dito numa conferência em Paris que a dividas não era para se pagar (diz ele que queria dizer, pagar na totalidade).

 

Crónica de João Cerveira
Diz que…